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saúde
Sem cortes
Pesquisa inédita comprova que metade dos casos de fimose com indicação de cirurgia pode ser revertida com pomada; ainda não há recomendação formal das sociedades médicas brasileiras
[...] A indicação de circuncisão preventiva não é consenso entre os especialistas porque alguns médicos consideram o prepúcio uma proteção da glande
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Meninos, boa notícia: uma nova pesquisa, ainda inédita, comprovou que
pelo menos metade dos casos
de fimose com indicação de intervenção cirúrgica pode ser
revertida com o uso de medicamento tópico.
Coordenado por Antonio
Macedo Jr., professor livre-docente e chefe do setor de uropediatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o trabalho será apresentado no 5º
Simpósio Bienal de Urologia
Pediátrica, que acontecerá de
11 a 13 de agosto em São Paulo, e,
em breve, será publicado no
"Journal of Pediatrics Urology", dos Estados Unidos.
O medicamento -uma pomada à base da enzima hialuronidase combinada com o corticóide valerato de betametasona- entrou há alguns anos no
mercado e já havia sido objeto
de outra pesquisa, realizada pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Naquela ocasião, o grupo estudado incluía casos que não
implicavam necessariamente
cirurgia, explica o urologista Paulo Palma, da Faculdade
de Ciências Médicas da Unicamp, que participou do trabalho. "Com a nova pesquisa, que
observou um grupo mais específico, confirmou-se um alto índice de soluções não cirúrgicas.
Nos Estados Unidos, a Sociedade Americana de Pediatria já
recomenda o tratamento clínico como primeira opção nos casos de fimose. Aqui no Brasil,
ainda não há uma recomendação formal das sociedades médicas, mas isso deve mudar com
os novos dados", acredita o urologista.
Atualmente, cerca de 5% dos
casos de fimose levam à cirurgia. Caracterizada pela impossibilidade de exteriorizar a
glande (ou cabeça) do pênis por
causa da aderência do prepúcio
(pele que recobre o órgão genital masculino), a fimose é, na
maioria dos casos, fisiológica:
os meninos nascem com o prepúcio naturalmente grudado à
glande, e esse vai se abrindo
com o tempo -em 90% das
crianças, o problema se resolve
no primeiro ano de vida.
Dos casos restantes, metade
é solucionada até os cinco anos.
Se persistir, a fimose pode causar dificuldade para urinar, inchaço, dores e infecções locais
ou urinárias.
A empresária Ana Cristina
Pessoa, 34, conta que o prepúcio de seu filho, Gustavo, sempre foi muito grudado, e a situação não pareceu melhorar mesmo depois de o menino completar um ano. Quando Gustavo estava com um ano e meio,
ela resolveu experimentar a pomada. "Ajudou bastante, mas
ainda não está 100%", diz.
Ana Cristina utilizou o medicamento uma vez por dia, durante um mês, conforme a recomendação corrente de uso.
Segundo Macedo Jr., uma novidade da pesquisa que realizou é
a indicação de que esse parâmetro de tempo deve ser alterado. "Constatamos que, para
evitar a cirurgia, o ideal é utilizar a pomada por dois meses",
explica o pediatra, que estudou
412 crianças de três a dez anos.
Divergências
A circuncisão (retirada do
prepúcio) deixa a glande exposta, o que previne as conseqüências relacionadas à fimose. Para
judeus e muçulmanos, é uma
prescrição religiosa, realizada
rotineiramente já no primeiro
mês de vida. Em bebês bem pequenos, o procedimento dispensa a anestesia.
Alguns médicos consideram
a prática vantajosa, independentemente dos aspectos religiosos envolvidos. "Estudos populacionais mostram que a circuncisão diminui a ocorrência
de infecções urinárias e de câncer de pênis", diz Julio Toporovski, professor titular de pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de
São Paulo.
Mas a indicação de fazer a
circuncisão preventivamente
não é consenso entre os especialistas. "O prepúcio é uma
proteção da glande. Não vejo
porque retirá-lo se não houver
uma obstrução", afirma Renato
Lopes de Souza, pediatra da
Unifesp.
Os riscos da retirada do prepúcio são considerados pequenos, mas podem ocorrer algumas complicações, como sangramento e até infecção.
Se não for feita logo nos primeiros meses de vida, como
acontece nas circuncisões por
motivos religiosos, é necessária
a anestesia.
Por conta disso, algumas correntes de médicos acham que é
melhor realizar a operação o
mais cedo possível, para evitar
os anestésicos. Outras, no entanto, recomendam esperar até
a criança retirar a fralda para
evitar possíveis infecções causadas pelo contato com a urina.
Massagem
Outra divergência é em relação à "massagem" para soltar a
pele. Alguns médicos dizem
que a prática não surte efeito,
outros a recomendam.
A psicopedagoga Cleide Vilas, 37, acha que funcionou.
"Meu filho tinha a pele do prepúcio muito fechadinha, e, já na
segunda consulta que fizemos
após o nascimento, o pediatra
ensinou como fazer a massagem. Começamos a fazê-la diariamente, na hora do banho, e
melhorou. Acho que, se não tivesse feito isso, a cirurgia teria
sido inevitável", diz ela. Seu filho Gabriel está com dois anos
e dez meses, mas a pedagoga
conta que a massagem diária
continua sendo necessária,
porque a pele ainda não descolou totalmente.
Há, no entanto, muitos médicos que não recomendam a prática, argumentando que ela até
pode parecer eficaz, mas não
faz muita diferença quando o
caso é de aderência fisiológica
da pele -quadro que, muitas
vezes, é revertido naturalmente, com ou sem massagem. E
afirmam que, se há fimose verdadeira, a manipulação pode
ser prejudicial. "Nesse quadro,
a massagem pode provocar fissuras na pele e um processo inflamatório crônico", explica
Macedo Jr.
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