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Neurociência
Preferência ou opção sexual?
Suzana Herculano-Houzel
O ser humano tem
uma dificuldade
incrível para aceitar que é um animal. Especial em vários sentidos, é verdade, mas animal
ainda assim. Gostamos de
documentários sobre a biologia de macacos e leões, mas
custamos a aceitar que a natureza possa ter uma influência às vezes determinante sobre nosso comportamento também. Até acreditamos que nossa cor dos
cabelos, dos olhos e da pele
seja determinada biologicamente. Mas, quando se trata
de comportamentos complexos, como a sexualidade, a
coisa muda.
Quando surgiram, nos
anos 80, as primeiras indicações de que a atração que
sentimos por um ou por outro sexo é determinada biologicamente, houve manifestações de grupos de homossexuais contra e a favor. Alguns grupos acolheram as
descobertas como prova de
que homossexualidade não é
doença nem opção, e sim biologia inevitável. Outros, ao
contrário, sentiram-se lesados em seu direito de serem
homossexuais por opção.
Mas não deveriam.
A preferência sexual,
aquela atração física que se
sente por um sexo ou pelo
outro, é determinada biologicamente e logo no começo
da vida, ainda no útero. Genes e fatores hormonais influenciam a formação das regiões cerebrais envolvidas,
que demonstrarão sua preferência mais tarde, ao amadurecer na adolescência e ao
responder com excitação aos
feromônios de um ou de outro sexo -às vezes do mesmo
sexo, muitas vezes do outro.
Ao contrário, não há nenhuma evidência de que o ambiente social influencie a
preferência sexual humana.
Cerca de 10% dos homens e
das mulheres são atraídos
por parceiros do mesmo sexo, e o número não muda entre pessoas criadas por pai e
mãe, dois pais, duas mães,
com religião ou sem ela.
Claro, o que cada um faz
com a sua preferência sexual
é outra coisa, esta sim uma
questão de opção, que, lamentavelmente, deve levar
em conta todas as dificuldades sociais e psicológicas que
a discriminação traz. A natureza não reina sozinha, e, de
fato, é possível optar socialmente por demonstrar um
comportamento heterossexual, contra a preferência
biológica ou a favor dela.
Mas, e ainda bem, o cérebro
é capaz de fazer melhor do
que isso.
Se 100% da população têm
preferência sexual inata e
biologicamente determinada, somos todos iguais nesse
quesito, mesmo que na
maioria o cérebro responda
a feromônios do sexo oposto.
Deveria ser simples, então,
optar por aceitar essa preferência biológica, nossa ou
dos outros, qualquer que ela
seja. Uma grande opção.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "O
Cérebro Nosso de Cada Dia" (ed. Vieira &
Lent) e de "O Cérebro em Transformação"
(ed. Objetiva)
suzanahh@folhasp.com.br
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