São Paulo, quinta-feira, 03 de dezembro de 2009
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NEUROCIÊNCIA

Suzana Herculano-Houzel

A opinião do outro


[...] Acreditar que "fulano gostou de você" basta para aumentar a atividade do sistema de recompensa dos jovens

Sentir-se aprovado, sobretudo pelas pessoas de quem gostamos, é uma fonte importante de autoestima e autoafirmação -principalmente para adolescentes, que estão em plena fase de construção de sua identidade pessoal e social.
Já se conhece bem o que ocorre no cérebro quando gostamos de alguma coisa: estruturas do sistema de recompensa sinalizam para o resto do cérebro que o evento ou a coisa em questão é interessante, ou tem tudo para ser, e o córtex órbito-frontal, acima dos olhos, registra as emoções positivas associadas ao objeto preferido e, portanto, seu valor positivo.
O que acontece, contudo, quando somos nós mesmos o objeto da afeição de alguém?
Por que a opinião do outro importa? Como seu cérebro reage ao saber que alguém gosta de você?
"Também com ativação do sistema de recompensa -e mais", segundo um estudo australiano publicado recentemente que avaliou jovens entre 15 e 24 anos, justo na fase quando mais importa receber a aprovação de "amigos", às vezes conhecidos somente por seu avatar digital.
Dentro de um aparelho de ressonância magnética funcional, os jovens observaram fotos de pessoas desconhecidas que supostamente haviam gostado bastante das fotos dos participantes, ou não haviam dado sua opinião. Supostamente, apenas, porque, embora cada participante houvesse avaliado previamente as fotos que depois veria, e indicado de que pessoas achava que gostaria mais se as conhecesse pessoalmente, sua própria foto não foi avaliada por ninguém além de... um computador.
Não importa, no entanto, se a avaliação positiva recebida corresponde ou não à realidade: de acordo com o estudo, acreditar que "fulano gostou de você" basta para aumentar a atividade do sistema de recompensa dos jovens, além de acionar outras estruturas envolvidas na autoestima e no processamento de tudo o que diz respeito a si próprio.
E, se a aprovação vem de alguém de quem os voluntários haviam gostado, a ativação do sistema de recompensa fica ainda mais forte -sobretudo quando se é heterossexual e quem "gostou de você" é do sexo oposto. Descobrir que temos a aprovação alheia, portanto, dá prazer, melhora nossa autoavaliação -e ainda tem tudo para nos aproximar da pessoa que nos aprovou. Talvez isso explique por que, de aprovação em aprovação, redes sociais crescem tão rapidamente entre adolescentes.
E, também, por que somos, de certa forma, tão tolinhos, suscetíveis à bajulação...


SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com

suzanahh@gmail.com


Texto Anterior: Alimentação: Terapia do sorvete
Próximo Texto: Funciona?
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.