São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2010
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RECUPERANDO AS FUNÇÕES

Conheça algumas das técnicas mais usadas na recuperação de pessoas com AVC

1 - Fisioterapia
É o tratamento mais conhecido para as sequelas motoras do AVC. Com ou sem o auxílio de apetrechos como bolas, o profissional trabalha com exercícios para melhorar rigidez, paralisia e outros problemas comuns.
Caso a pessoa sinta dor (muito comum no ombro, por exemplo), podem ser usadas técnicas de analgesia, como tens (estimulação elétrica nervosa transcutânea), um tipo de eletroterapia.
Nessa mesma linha, são utilizados outros tipos de corrente para auxiliar na realização dos movimentos ou para fortalecer os músculos. Alguns fisioterapeutas trabalham com o biofeedback, que usa um computador e eletrodos para ajudar no reaprendizado motor.

2 - Hidroterapia
A água, aquecida a cerca de 30ºC, provoca um relaxamento muscular que ajuda a soltar a rigidez típica das sequelas de AVC. Mas o que mais ajuda a desenvolver o potencial motor é a falta de gravidade -o peso corporal fica reduzido em 50% e é possível trabalhar movimentos que o paciente não consegue fora da água.
A falta de impacto reduz o risco de lesões e o peso trazido pela água cria uma barreira que aumenta a força feita no exercício, tonificando os músculos.
Não substitui a fisioterapia convencional, mas é um bom complemento a ela. "A sensação de liberdade ajuda na realização dos movimentos. E tudo o que é feito na piscina auxilia na independência fora da água", diz Carla Nardelli, fisioterapeuta da Water Fisio.

3 - Musicoterapia e teatro
Pouco difundidas, essas modalidades podem ajudar na reabilitação de movimentos e da fala -e, de quebra, melhoram a autoestima, abalada por causa da doença.
Therezinha Jardim, chefe do setor de musicoterapia da ABBR (Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação), no Rio, explica que, com a música, os pacientes executam movimentos de forma mais prazerosa e menos repetitiva do que no trabalho de reabilitação convencional.
"A prioridade é a parte emocional, mas a musicoterapia ajuda na parte motora também. Eles se movimentam naturalmente: mexem a mão, o pé, o corpo, começam a cantar."
Instrumentos musicais também ajudam a treinar os movimentos, e o canto auxilia pessoas que sofrem com problemas na fala.
De fato, um novo estudo apresentado no encontro da Associação Americana para o Avanço da Ciência sugere que alguns pacientes que não se expressam verbalmente conseguem se comunicar por meio do canto, que pode, por isso, ser uma ferramenta de reabilitação. Isso provavelmente ocorre porque a música é processada no lado do cérebro oposto ao da linguagem.
Outra ferramenta que pode ajudar pessoas com sequelas na fala é o teatro. Em São Paulo, existe um grupo voltado só para afásicos -quem perde a linguagem- , o Ser em Cena. Baseado em uma experiência canadense, ele já inspirou um projeto parecido em Portugal.
Segundo Saliba Filho, diretor teatral da organização, as repetições usadas no teatro ajudam no reaprendizado da fala. Entre as ferramentas usadas, o grupo utiliza também o canto.
A maioria dos participantes sofreu um AVC.

4 - Terapia ocupacional
Essa modalidade de reabilitação lida com a recuperação das funções do dia a dia perdidas após o derrame. É o terapeuta ocupacional que vai ajudar o paciente a retomar atividades como comer sozinho, trocar-se, tomar banho, cozinhar e lavar roupa.
"Ele vai criando, com o paciente, adaptações para que ele consiga retomar a independência. Enquanto o fisioterapeuta trabalha basicamente com atividades motoras, o terapeuta ocupacional lida com função", diferencia Cristiane de Almeida, do hospital Albert Einstein.
É esse profissional também que confecciona objetos adaptados para ajudar na vida prática do paciente, como talheres que a pessoa com dificuldades motoras consiga segurar na hora de comer.

5 - Tratamento psicoterapêutico ou psiquiátrico
Não é de se estranhar que o AVC, com as frequentes limitações que traz, tenha forte impacto emocional no paciente. Mas novos estudos mostram que esses problemas também podem ser decorrentes de fatores biológicos.
"Uma pesquisa europeia revelou que muitos pacientes de AVC, mesmo tendo se recuperado das principais sequelas, tinham depressão, terror noturno e insegurança de voltar ao trabalho", afirma Mirto Prandini, da Unifesp. Estatísticas de países desenvolvidos mostram que 45% dos pacientes têm depressão grave após o AVC.
Essa sequela psicológica comumente demora a ser detectada, mas o tratamento -pelo psicólogo ou psiquiatra, quando necessário- é fundamental para o bem- estar e até para o sucesso da reabilitação física da pessoa.

6 - Fonoaudiologia
Trabalha distúrbios de fala, comunicação e deglutição, comuns em quem sofreu um derrame. A atuação do fonoaudiólogo começa na UTI, com testes que medem o grau de consciência e comunicação que o paciente tem e medidas para auxiliar na deglutição, caso haja esse problema.
Se ele não consegue falar, são estabelecidos sistemas alternativos -como piscar o olho ou levantar a mão para expressar sim ou não. "Isso diminui a angústia pela falta de comunicação", diz a fonoaudióloga Ana Paula Mac Kay, vice-diretora do curso de fonoaudiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
No dia a dia, o profissional faz exercícios com o paciente e o ajuda a reorganizar sua fala. O tempo de recuperação depende do grau da sequela e de cada paciente. "Quanto mais conhecimento a pessoa tinha antes do AVC, mais reserva cognitiva ela tem para a linguagem e melhor é a recuperação."

7 - Botox
Mais conhecida por seu uso estético, a toxina botulínica tipo A também é indicada para o alívio de uma sequela comum de AVC: a espasticidade (tônus muscular aumentado que faz com que os músculos permaneçam continuamente contraídos, principalmente os flexores do braço e os extensores da perna). O problema, inclusive, dificulta a fisioterapia, que fica mais fácil após o uso da toxina.
O botox tem efeito porque bloqueia, na superfície da fibra muscular, o estímulo nervoso que dá o comando para a contração exagerada do músculo. "Ele não atua na causa do problema, mas traz alívio por atuar no receptor, impedindo que a mensagem de contração chegue ao músculo", diz Cristiane de Almeida, do Einstein.


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