São Paulo, quinta-feira, 05 de outubro de 2000
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drible a neura

Eles disfarçam, mas nem sempre enganam

MARGARETE MAGALHÃES
FREE LANCE PARA A FOLHA

Pior do que ser barrado na porta da festa é ser esnobado no trabalho por causa do "look baby face", que insiste em permanecer em quem já não é tão jovem. "Se eu soubesse que falava com um moleque, teria chamado seu chefe", foi o que ouviu o engenheiro Carlos Urban, responsável pelo gerenciamento dos contratos de obras hidrelétricas da empresa Alstom, no seu primeiro encontro com um cliente de Goiás. Até então, só haviam falado de negócios pelo telefone. Carlos tem 25 anos, mas visual de 18.
Os "baby face" são vítimas das mais esdrúxulas e variadas reações. A começar pelo olhar incrédulo ou de susto do interlocutor no primeiro contato, que sempre acredita estar se reportando ao estagiário, ao ajudante, ao assistente.
"Uma vez atendi uma criança", conta o neurocirurgião Marcos Gomes, "e, no meio da conversa, a mãe perguntou: "Mas quem é mesmo você?". Ela achou que eu fosse o enfermeiro!".
Gomes já cogitou seriamente em deixar bigode para "envelhecer" e tranquilizar os pacientes (leia outros truques na página 17). "Mas, se você transmite bem o que está fazendo e dá segurança, o problema da aparência acaba", diz ele.
Já o advogado Mauro Finatti, que trabalhou no conceituado escritório Pinheiro Neto e agora está no Gibson, Dunn & Crutcher, de Nova York, conta o que faz para conquistar a confiança do cliente: "Meu instrumento é derrubar pedaços do meu currículo", o que significa expor detalhes do histórico profissional.
Mas, às vezes, nem há tempo para isso. Veja este caso: o professor de economia da PUC-Rio Cláudio Ferraz, 28, chegou a ser confundido com um aluno e barrado na sala dos professores!
É sempre embaraçoso para os dois lados, principalmente quando a outra pessoa, para disfarçar o susto, diz: "Mas você é tão menina e já formada!", como aconteceu com a dentista Márcia Rela, que atende em seu consultório e no Hospital das Clínicas (SP).
"Aparentemente lisonjeiro, esse é um discurso desqualificante", diz a professora de psicologia social da PUC-Rio Teresa de Goes Monteiro Negreiros, 55. "Criou-se um estereótipo de que o profissional aquém dos 35 anos ou além dos 55, faixa considerada o apogeu da intelectualidade, é incompetente e irresponsável no primeiro caso e pouco dinâmico e desatualizado no segundo."
O publicitário Luli Radfahrer, 33, diretor da DPZ.com e ex-vice-presidente da Starmedia em Nova York, cansou-se de enfrentar esse tipo de preconceito. Para mostrar que não é recém-formado, diz: "Mexo com Internet desde 93". Às vezes, encurta a conversa. "Quando um cliente perguntou quantos anos eu tinha, respondi: "O senhor, quantos quilos pesa?'".


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