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saúde
Catapora!
A doença, como outras infecciosas, aproveita o clima e o aumento de contatos entre as pessoas para se disseminar catapora!
CLARISSA PASSOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
F
ebre, mal-estar, perda
de apetite, dor de cabeça. Muitas doenças
começam assim, mas,
se pequenas manchas vermelhas -logo transformadas em
pequenas bolhas contendo um
líquido claro-, aparecerem por
todo o corpo, é bem provável
que o problema seja varicela,
conhecida popularmente como
catapora. Entre o final do inverno e o início da primavera, o
número de casos da doença,
transmissível por secreção respiratória, costuma aumentar
sensivelmente.
Segundo o patologista Heitor
Franco de Andrade Jr., do Instituto de Medicina Tropical da
USP (Universidade de São Paulo), isso ocorre porque as pessoas tendem a ter mais contato
na primavera. "No inverno,
costuma-se passar mais tempo
dentro de casa", diz. "Quando o
clima fica mais ameno, é comum que se circule mais,
criando uma exposição maior a
pessoas suscetíveis, principalmente nas escolas."
Os números do contágio não
são exatos, já que o Brasil não
conta com dados oficiais por
não incluir a varicela entre as
doenças de notificação compulsória. "No Estado de São
Paulo, o número de óbitos, geralmente em crianças menores
de quatro anos, tem caído: foram 60 em 2003 e 30 em
2005", informa o patologista.
O causador da catapora é um
vírus chamado varicela-zóster.
Ele pode ser transmitido por
secreção respiratória -gotículas de saliva, espirro e tosse-
ou por contato direto com o líquido das vesículas (as bolhinhas). Locais fechados, com
grande circulação de pessoas,
são perfeitos para a disseminação. O período de incubação da
doença vai de 10 a 21 dias.
As defesas naturais do corpo
se encarregam de controlar a
doença, mas não são capazes de
eliminar o vírus, que permanece latente pelo resto da vida.
Adultos
Ao contrário da crença popular, não são apenas as crianças
que estão sujeitas à catapora.
Todas as pessoas que ainda não
tiveram a doença ou não foram
vacinadas são suscetíveis. Além
disso, adolescentes e adultos
correm mais riscos de complicações. A taxa de letalidade da
doença, estimada em 2 para
100 mil casos em crianças saudáveis, fica de 15 a 40 vezes
maior em adultos.
"Todas as pessoas com suspeita de varicela devem ser avaliadas por um médico tão logo
seja possível", alerta Luciana
Pedro, infectologista do Cives
(Centro de Informação em
Saúde para Viajantes), da
UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro). "A consulta,
além de possibilitar a confirmação ou não da doença, permite avaliar a necessidade de
tratamento específico com antivirais, esclarecer quanto às
medidas para evitar complicações e orientar para o reconhecimento dos indícios de gravidade que exijam reavaliação
médica."
Para controlar a febre, não
deve ser utilizado o ácido acetilsalicílico, devido ao risco de
ocorrência da Síndrome de Reye (veja perguntas na página ao
lado).
O tratamento com antivirais
costuma ser indicado quando
há mais risco de evolução grave, caso de pessoas com imunodeficiência (como portadores de HIV ou de leucemia). Na
maioria dos casos, esse tratamento é desnecessário para
crianças saudáveis entre 1 e 12
anos sem indícios de gravidade, a não ser que elas tenham
adquirido a doença de alguém
que more na mesma casa. Tal
contágio, chamado de intradomiciliar, guarda maior risco de
evolução grave.
Vacina
Como a catapora é altamente
transmissível, a maioria dos
adultos já teve a doença na infância e deixou de ser suscetível - uma vez que o corpo adquire imunidade quando a varicela é contraída. Por outro lado,
a fácil transmissão e a gravidade potencial da doença, especialmente em adultos, tornam a
vacina, disponível no Brasil
apenas em clínicas particulares, uma alternativa para quem
tem dinheiro no bolso e pretende estar protegido.
Desenvolvida na década de
70, no Japão, a vacina contra
varicela é feita a partir do vírus
varicela-zóster atenuado.
Ela também é útil para evitar
ou atenuar a infecção em indivíduos não imunes que tenham
entrado em contato com uma
pessoa com varicela, desde que
aplicada em até 72 horas após a
exposição.
Os eventos adversos são pouco freqüentes e não costumam
acarretar complicações. Pode
haver febre e, entre o 5º e o 12º
dia após a vacinação, um pequeno número de lesões semelhantes às da varicela.
A vacina, no entanto, é contra-indicada para gestantes,
crianças menores de um ano e
pessoas com reações alérgicas
aos componentes ou com alguma imunodeficiência. Para esses grupos, há a opção da imunoglobina específica para varicela mas sua aplicação depende
de encaminhamento médico.
Apesar de vacinado, Mateus
Kogachi Cortez, 4, ainda enfrentou as bolinhas. "Apareceu
uma vesícula no pescoço e ele
não parava de coçar", lembra a
avó do menino, Suely Maria
Cortez. "A professora da escola
tirou o Mateus da sala e já telefonou pedindo que fôssemos
buscá-lo, desconfiada de que
fosse catapora."
O efeito da vacina, no caso de
Mateus, foi o mesmo que acontece com cerca de 7% das pessoas vacinadas, atenuando a
manifestação da doença. Sua
recuperação foi rápida e não
surgiram muitas vesículas, ao
contrário do caso da tia do garoto. "Minha filha contraiu
quando tinha 16 anos e foi bem
grave", relembra Suely.
Complicações
Para crianças saudáveis, a varicela oferece pouco risco de
complicações. As mais comuns
são infecções bacterianas contraídas por causa das lesões na
pele. Por isso é importante, embora difícil, convencer os pequenos a não coçar as feridas.
"Como as lesões da varicela
causam intenso prurido, as
unhas devem ser cortadas para
evitar traumatismo durante o
ato de coçar, reduzindo assim o
risco de infecção bacteriana na
pele", recomenda Luciana Pedro. "Quando ocorrem infecções bacterianas, um médico
deve ser procurado para indicação de tratamento adequado."
Já entre os adultos, a gravidade potencial da doença é maior.
A pneumonite, comprometimento pulmonar causado pelo
vírus varicela-zóster, é mais comum, e a encefalite, que acomete cerca de 4 em cada 10 mil
infectados, tem letalidade de
até 37%.
A ocorrência é rara, mas gestantes no primeiro trimestre
podem ter o feto malformado e,
quando acometidas pela doença pouco antes ou pouco depois
do parto, provavelmente transmitirão ao bebê a varicela sem
passar também os anticorpos,
que ainda estão em formação
em seu próprio organismo.
Além disso, o recém-nascido
pode vir a desenvolver doença
disseminada, com até 30% de
letalidade.
Outro problema é a reativação do vírus. "Quando o corpo
derrota o varicela-zóster, ele se
instala num nervo e vai "dormir'", explica Andrade Jr.
"Anos depois, caso acorde, pode causar dores fortes de difícil
diagnóstico." Após a fase da
dor, o varicela-zóster se manifesta com a ocorrência de herpes -geralmente bolhas pequenas com base avermelhada- no trajeto do nervo onde o
vírus se instalou. Os sintomas
dessa complicação também são
tratáveis, especialmente para
aliviar a dor.
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