São Paulo, quinta-feira, 05 de novembro de 2009
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Para chacoalhar o esqueleto

Aulas de dança afro unem cultura, trabalho aeróbico e enrijecimento muscular

PATRICIA CERQUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há três anos, a professora Vanessa Cristina Francisco, 28, recebeu uma recomendação médica nada tradicional: para melhorar o andar e aprender a colocar todo o pé no chão, deveria frequentar aulas de dança afro-brasileira.
Ela já tinha feito balé e jazz, mas não conhecia a dança afro. Bastou uma aula para se apaixonar e não largar mais o "tratamento". "É preciso estar 100% presente. Tudo é muito forte", afirma.
O problema no pé da professora foi resolvido. Não é para menos. Os alunos ficam descalços durante a aula, que costuma durar mais de uma hora. Pode ser desconfortável no início, mas a sensação passa.
A aula exige que a pessoa se movimente o tempo todo. É pura energia, com muito exercício aeróbico e bastante esforço das articulações dos joelhos, calcanhares e pés. Pula-se muito, por isso a aula começa com aquecimento.
"O trabalho aeróbico e o anaeróbico são acentuados", diz Solange Ferreira Souza, professora da Pulsarte Arte e Movimento, em São Paulo. Ela estima que, em uma hora de aula, dê para queimar cerca de 500 calorias.
Outros benefícios para a saúde lembrados por Souza são o aumento do tônus e da massa muscular de tronco e membros inferiores. "Meu corpo mudou bastante depois de um ano de aula. Ficou tudo mais firme", conta Rafael Bucheb, 28, estudante de turismo.
Haja braço, perna, articulações e fôlego. A Folha fez uma aula com a professora Marilene Santos, do Grupo Okun, em São Paulo, para entender como é o curso que, aos poucos, vem atraindo alunos que querem praticar danças, mas não gostam da sistemática do balé e têm vergonha de abraçar um par na dança de salão.
É uma aula alto-astral, energética e democrática. "Não tem nível iniciante ou avançado", explica Aline Valentim, professora na Fundição Progresso, localizada no Rio de Janeiro.
É democrática inclusive na vestimenta: pode ser frequentada com qualquer roupa confortável, de preferência bem colorida. "O objetivo não é definir pernas, braços ou perder a barriga, mas sim se descobrir", afirma Valentim.
Os alunos aprendem os movimentos e vão se soltando, encontrando a ginga, a malemolência e o ritmo para acompanhar os pulos, as movimentações intensas de braço, quadril e até do olhar. Tudo é acompanhado pelo som de música africana (que costuma ser ao vivo) ou pelo afro-reggae baiano.

Múltiplos estilos
Não há um tipo só de dança afro. Cada professor faz a sua aula. Os entrevistados pela Folha disseram buscar referências nos movimentos executados em danças folclóricas como maracatu, congo, maculelê ou jungo. Também afirmaram que estudaram os movimentos realizados em danças de orixás como xangô, ogum ou iemanjá.
"Ter essa referência faz com que o professor explique para a turma a origem do movimento e, ao contextualizar, a aula sai da técnica pela técnica e ganha um significado", explica Evandro Passos, professor de dança afro do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) e da Associação Sócio-Cultural Batakas, em Belo Horizonte.


Onde encontrar

Pulsarte Arte em Movimento
r. Pereira Leite, 55, São Paulo tel. 0/xx/11/3868-2008
(mensalidade: R$ 125, duas vezes por semana)
www.pulsarte.com.br

Grupo Okun de Cultura Afro-Brasileira
r. Turiassu, 1.172, São Paulo tel. 0/xx/11/3673-0688
(mensalidade: R$ 70, uma vez por semana)

Associação Sócio-Cultural Batakas
r. Diamantina, s/nº, Belo Horizonte tel. 0/xx/31/9606-9192 (Evandro Passos)
(mensalidade: R$ 65, duas vezes por semana)

Fundição Progresso
r. Arcos da Lapa, s/nº, Rio de Janeiro tel. 0/xx/21/2220-5070
(mensalidade: R$ 90, duas vezes por semana)


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"O objetivo não é definir pernas, braços ou perder a barriga, mas sim se descobrir"
Aline Valentim, professora


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