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ROSELY SAYÃO
Avaliação de pais
Conversei com um jovem universitário que
queria abandonar a
faculdade. Ele está no
segundo ano de um dos cursos
mais procurados de uma universidade pública reconhecida.
Sua vida escolar até então havia
sido plena de êxitos: dedicado,
cumpria todas as obrigações escolares sem dificuldade.
Por que queria desistir agora? Seus pais estavam chocados. Ele não tinha resposta para
tal questão. Pela conversa que
tivemos, percebi que seus estudos não faziam parte de sua vida, ou seja, ele não se apropriara deles, tampouco desfrutara
de suas conquistas. Estudar
não fazia sentido para ele.
Esse jovem me fez pensar em
muitas coisas, entre elas nessa
ânsia dos pais para que seus filhos tenham êxito escolar. E é
nesta época do ano que as consequências desse anseio explodem. As crianças que terão de
fazer a recuperação no final do
ano estão em maus lençóis.
Muitas já estão com a agenda
ocupada com aulas particulares. Nas férias, lá vão elas para
estudos dirigidos e aulas de variadas disciplinas. E sob intensa pressão, já que professores
regulares, particulares e pais
afirmam que elas têm pouco
tempo para aprender muito
conteúdo. E todos trabalham
em conjunto para que essas
crianças encham a cabeça de
informações em pouco tempo.
Outras estão em situação
pior ainda: já receberam dos
pais a ameaça ou o aviso da perda de viagens de férias, presentes de fim de ano e outras gostosuras porque não se dedicaram aos estudos durante o ano.
E há também aquelas cujos
pais quase se conformaram
com o resultado escolar do filho
porque conseguiram dar um
nome a isso. Hoje temos uma
infinidade de crianças com
diagnósticos como dislexia, discalculia, transtorno de deficit
de atenção etc. As crianças padecem com o excesso de diagnósticos e de tratamentos.
Por que decidimos exigir tanto de crianças e de adolescentes
na escola? Por que achamos
que eles devem se interessar
mais pelo estudo do que pelas
brincadeiras, festas, namoros e
tudo o mais que realmente importa nessas fases da vida? Talvez porque a vida escolar deles
sirva atualmente de índice de
avaliação da paternidade.
O filho recebe ajuda em casa
com os estudos? Tem bons
pais. A criança tem bom rendimento escolar? Tem pais dedicados. Os pais dos alunos comparecem sempre às reuniões?
São presentes na vida dos filhos. O adolescente tem bons
resultados no Enem ou boa
classificação no vestibular?
Seus pais são bem avaliados.
É por isso, provavelmente,
que os estudos e a escola se
transformaram, hoje, em assuntos que dizem mais respeito
aos pais do que aos estudantes.
Não é de se estranhar, portanto, que tantas crianças e jovens
aprendam bem menos do que
poderiam na escola: porque
não são exigidos nem cobrados
por eles mesmos, e sim para
atender às expectativas de pais
e professores. Poderia ser bem
diferente, não poderia?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@uol.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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