São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2000
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No Estado de São Paulo, os mais de 200 mil telefones públicos possuem selo de limpeza, e o prazo de validade é de uma semana
Orelhão toma banho semanal com xampu

EDUARDO AZEVEDO
FREE-LANCER PARA A FOLHA

Todas as manhãs, um exército de 2.100 pessoas ganha as ruas das cidades paulistas com uma tarefa ingrata: enfrentar gordura, pichação, saliva e todo o tipo de sujeira. Munidos de flanelas, vassouras e mais de 7.000 litros de detergente, os limpadores têm pela frente 228 mil cabines e orelhões espalhados pelo Estado de São Paulo. A Telefônica, responsável pela preservação dos aparelhos, terceirizou o serviço, que é realizado por 14 empresas. Segundo o diretor de Operação e Atenção ao Cliente da Telefônica, Juan Berrocal, cada telefone público deve ser limpo quatro vezes por mês. Os terminais são lavados e desinfetados com detergente neutro e xampu especial. No caso dos orelhões, a cúpula é encerada. Os próprios usuários podem verificar se o telefone foi higienizado. Os limpadores devem colocar um selo, com validade de uma semana, que indica quando o terminal foi limpo. A presença do selo, porém, não impede que o telefone seja emporcalhado assim que o funcionário vira as costas. "Principalmente as cabines porque os moradores de rua costumam usá-las como banheiro", explica Douglas Ferreira Gonçalves, 27, que trabalha na Cosate, uma das empresas que presta serviços de limpeza para a Telefônica. Há cinco anos, ele limpa em média 90 orelhões e cabines por dia. "Já vi de tudo. Nesta época do ano tem muita bomba por causa das festas juninas. Explodem os orelhões. Também tem xixi, vômito. É um lixo, mas a gente se acostuma." Os telefones públicos costumam ser mais engordurados em aeroportos e rodoviárias porque nesses locais o uso é maior. Para Gonçalves, porém, os aparelhos mais sujos e danificados estão no centro velho de São Paulo e nos bairros mais afastados como São Mateus, na zona leste, onde o policiamento é menor. "Os telefones servem até como esconderijo de droga dos traficantes", diz. Ubirajara Barreto, 38, supervisor de campo da Cosate, também trabalha há cinco anos na área e afirma que é preciso muito tato para mexer com esse tipo de aparelho. Muitos moradores agem como se os terminais fossem deles. Os camelôs, por exemplo, costumam guardar as barracas em cima das cabines, atrapalhando o serviço dos limpadores. O jeito é manter a calma. "É até engraçado quando alguém resolve secar a roupa em cima do orelhão em dia de sol", afirma Barreto. A cena perde a graça quando se sabe que cerca de 30 mil telefones são danificados todos os meses no Estado de São Paulo. Os ataques vão da pichação ao roubo dos aparelhos. Por isso, a Telefônica prefere investir mais na contenção do vandalismo que na limpeza dos aparelhos. Segundo o diretor Juan Berrocal, a higienização diária seria inviável pelo custo e porque os atuais níveis de sujeira encontrados nos telefones públicos não justificam uma faxina mais frequente. "Seria dinheiro sendo jogado fora", diz. A Telefônica alega ainda que adota uma rotina de limpeza semelhante à de outros países, como a Espanha, e à utilizada pela Telesp antes da privatização. O usuário pode até sentir nojo de encostar o rosto em telefone público, mas o medo de transmissão de doenças está descartado. Segundo Crésio Romeu Pereira, infectologista do hospital Albert Einstein, não há estudo que comprove que os telefones públicos transmitam doenças. Há pesquisas que apontam casos de enfermeiros que contraíram infecção hospitalar após usar os telefones das UTIs dos hospitais, mas nenhuma investigação foi feita para verificar se isso pode acontecer com aparelhos instalados em ruas ou em shoppings. Marcos Boulos, que também é infectologista e trabalha no Hospital das Clínicas, acredita que o risco de contaminação pelo uso de telefone público é mínimo. "Pelo menos as chances não são maiores do que em outros lugares públicos, como nos ônibus", afirma.



RECLAME
Ligue para 103 para denunciar defeitos ou sujeira em orelhões e cabines, pois o serviço de atendimento da Telefônica aceita também queixas sobre aparelhos públicos. A empresa garante que 99% das reclamações são atendidas em menos de oito horas.




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