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ROSELY SAYÃO
A gripe e as crianças
Agosto começou e as
crianças não voltaram
para a escola. Férias
prolongadas, para
muitas delas, é sinônimo de satisfação garantida e inesperada.
Para outras, faz falta não ir à
escola, e não por causa dos estudos, que é cedo para elas valorizarem o conhecimento. É que
a vida em comum, fora do grupo familiar, é vivida na escola, e
para isso as crianças já sabem
dar a devida importância. Afinal, conviver com adultos com
os quais elas não têm laços de
parentesco e com outras crianças é condição necessária a um
bom crescimento.
Gostando ou não, querendo
ou não, elas estão em casa por
mais tempo. E, aos pais, sobraram dúvidas e problemas a serem resolvidos. "Era mesmo
uma medida necessária?", perguntaram muitos deles. Não
sei. Conversei com vários médicos, li muitas declarações de
outros nos jornais e continuei
sem resposta, já que eles não
têm a mesma posição.
Também não sei se temos todas as informações necessárias
para avaliar a necessidade do
adiamento. Mas considero que
foi sensata, por parte de muitas
escolas, a aceitação da recomendação do governo.
E agora, o que fazer com as
crianças em casa? As primeiras
questões que surgem para os
pais são as perguntas, algumas
delas impertinentes, que os filhos fazem.
Desde os três, quatro anos, eles querem saber se
na escola se pode "pegar" a gripe, quando as aulas retornam,
quando a gripe vai acabar, se algum colega tem a gripe, se a gripe pode matar etc.
Vamos lembrar duas coisas.
A primeira é que a criança precisa reconhecer que seus pais e
os adultos com os quais tem
vínculo estreito são pessoas
confiáveis.
A segunda é que ela
ainda não tem condição de dar
sentido a muitas informações
do mundo adulto. Por isso, todas as perguntas que ela faz
precisam de uma resposta realística e verdadeira e, ao mesmo
tempo, compreensível.
Desse modo, é preciso dizer
que sim, é possível "pegar" a
gripe na escola tanto quanto
em qualquer outro lugar que
seja frequentado por alguma
pessoa que tenha a gripe, mas
também que os pais e a escola
terão o máximo cuidado para
evitar que isso aconteça. Oferecer uma resposta que satisfaça
a criança e lhe dê segurança é o
melhor a fazer.
Outra questão é se as crianças e os jovens precisam estudar nesse período de recesso
forçado. Vamos ser realistas: os
pais dificilmente terão condição de promover isso. Mas podem ler boas histórias para os
filhos e pedir que eles leiam para eles. Aos filhos mais velhos,
podem estimular sua responsabilidade perante os estudos, de
preferência com doçura, que
costuma faltar nessas horas de
cobrança, não é verdade?
Finalmente: os pais que se
encontram aflitos por causa da
epidemia da gripe, que não concordaram com a decisão da escola de estender as férias ou
que conhecem alguém que está
com a gripe devem lembrar que
as crianças, principalmente as
pequenas, como são muito ligadas aos seus pais, provavelmente repercutirão a posição destes. Por isso, regular o que dizer
aos filhos ou perto deles sobre o
assunto é uma boa medida.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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