São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2007
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

inspire, respire, transpire

desça daí

Clássico das aulas de dança, sapato de salto alto pode causar problemas nos pés e na coluna; saiba como minimizar os danos

[...]
Durante a execução da coreografia, o impacto nas pontas dos pés é muito mais intenso do que no dia-a-dia

JULLIANE SILVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

E legante, charmoso, um clássico feminino. Como se essas qualidades não bastassem, o sapato de salto alto ainda é um símbolo das danças de salão e complementa perfeitamente o típico figurino. Mas gera controvérsias: ortopedistas, em coro, dizem que propicia deformidades nos pés e na coluna.
Antônio Egídio de Carvalho Jr., diretor do departamento de ortopedia e traumatologia da USP (Universidade de São Paulo), explica que a elevação do calcanhar causa uma pressão excessiva na ponta do pé, que não é natural e faz com que haja alterações na postura da dançarina. Isso causa estresse nos ossos da região e encurtamento do músculo da panturrilha e favorece o surgimento de hiperlordose (acentuação da curvatura lombar). "Recebo vários pacientes com problemas ortopédicos relacionados à dança de salão, porque voltou a ser moda", conta.
Entre os problemas no pé, os mais comuns são calosidades, deformidades e pequenas fraturas. E não faz muita diferença se a pessoa utiliza o salto somente nos ensaios e nas apresentações ou o dia inteiro: a tensão nas pontas dos pés é suficiente para desencadear problemas. Durante a execução da coreografia, o impacto na região é muito mais intenso e o esforço feito para manter o equilíbrio, muito maior do que o necessário no dia-a-dia.
A coluna também sofre, pois o salto altera o centro de apoio do corpo e a pessoa adquire uma postura incorreta para reequilibrar-se. O resultado pode ser uma hiperlordose, que pode causar dor e desconforto.

Usar ou não?
O impacto ortopédico é dramático, mas a dança de salão é uma excelente maneira de manter a forma com prazer. De acordo com Cláudia Batelli, professora da academia Fórmula, são gastas cerca de 300 calorias por hora da atividade, dependendo do ritmo. A interação é necessária e muito positiva. "A sociabilização na aula é enorme e há um grande trabalho de coordenação motora. O aluno quebra barreiras, vence desafios, interage. Magros, gordos, pessoas flexíveis e mais 'duras', todos participam e podem dançar", diz.
O salto alto faz diferença? especialistas entrevistados pela Folha afirmam que sim. E que não.
Explica-se: a posição do pé facilita os movimentos, assim como o solado de couro, que desliza melhor. É essencial para o tango e a gafieira, por exemplo, nos quais os pés são arrastados para executar alguns passos da coreografia.
Outro ponto a favor da elevação dos pés é a estética, afirma Karina Sabah, diretora artística da academia de dança Jaime Arôxa. "O sapato de salto é tradicional e o figurino pede um calçado à altura, especialmente nas apresentações. As pernas são alongadas e ficam mais bonitas."
Em contrapartida, admite-se que um sapato com solado deslizante (como uma sapatilha com sola de couro) tenha o mesmo efeito durante os ensaios. Naturalmente, a mulher vai elevar os pés, mas terá a liberdade de voltar à posição original caso sinta desconforto. "Eu ensaio com sapatilhas às vezes. Uso salto somente nos dias mais próximos à apresentação, para me acostumar", explica Karina.
O tênis esportivo não é indicado, pois sua sola de borracha antiderrapante impede os movimentos e sua estrutura não permite que o pé seja flexionado de maneira apropriada. No entanto, existe no mercado um tênis específico para dançar, feito de náilon, que permite a articulação dos pés. O solado é de poliuretano e a palmilha, com amortecedor, alivia a tensão da panturrilha. É encontrado em casas de artigos para dançarinos e pode ser uma ótima opção para aliviar o pé, pelo menos nos ensaios.

Alternativas
Como é quase impossível evitar o sapato de salto nas apresentações, é importante observar algumas características para minimizar os efeitos negativos. "O calçado para dança de salão é confortável, fechado na frente, tem salto e bico grosso e pode ser de couro ou de camurça flexíveis. No caso da sandália, devem-se escolher aquelas com tiras mais grossas, para que o pé não escorregue", explica Karina, da Fórmula.
Carvalho, da USP, acrescenta que sapatos com saltos de até quatro centímetros são bem menos nocivos para a saúde. É melhor investir em sapatos de salto grosso, mas os do tipo anabela não são indicados. "Ajudam no equilíbrio, mas são pesados e exigem ainda mais força", afirma.
Após cada apresentação, é importante fazer exercícios de alongamento, para relaxar e diminuir a tensão dos músculos de todo o corpo.
Devem ser realizados ainda exercícios abdominais, para fortalecer a musculatura da região e auxiliar na postura correta. Recomendam-se também atividades posturais, para minimizar a hiperlordose, e alongamento dos músculos da panturrilha. Evitar sapatos de salto nas outras horas do dia, apesar de não resolver o problema, também ajuda.


Texto Anterior: Figo-turco com coalhada
Próximo Texto: [+] Corrida - Rodolfo Lucena: Poder interior
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.