São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2007
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ROSELY SAYÃO

O veto ao celular na escola

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A ESCOLA NÃO É LUGAR PARA CELULAR, JÁ QUE ALUNOS E PROFESSORES ESTÃO LÁ PARA UM TRABALHO DE FOCO, QUE EXIGE CONCENTRAÇÃO E SUPERAÇÃO

Um projeto de lei que proíbe o uso de telefones celulares nas salas de aula de todas as escolas do Estado de São Paulo foi aprovado no último dia 28 pela Assembléia Legislativa. Agora, depende apenas da sanção do governador para ser aplicada: 90 dias após sua publicação, passa a valer como lei.
Já sabemos que até crianças bem pequenas portam seus celulares com naturalidade e os levam para todos os locais. Também sabemos que escola não é lugar para celular, já que alunos e professores estão lá para um trabalho de foco, que exige concentração e superação. Além disso, se algum aluno precisar fazer ou receber um telefonema urgente, pode usar o telefone da escola.
O problema é que os pais decidiram que os filhos têm de estar com o telefone sempre. É que eles, a qualquer hora, podem querer falar com o filho e vice-versa. Assuntos inadiáveis? Não pode ser, já que todo dia eles se falam várias vezes.
Pelo jeito, os pais abdicaram da possibilidade de tomar uma decisão responsável a esse respeito. Sucumbiram, impensadamente, à pressão do mercado -que exige que os telefones sejam consumidos por todos- e dão os aparelhos aos filhos.
Ensinam seu uso, apontam locais onde não é adequado portá-los ou situações próprias ou impróprias que motivam as chamadas? São poucos os que fazem esse trabalho educativo.
Creio que agem assim porque ganham um benefício secundário: estão sempre ligados aos filhos e fazem com que estes permaneçam na mesma situação. O celular que liga os pais a seus filhos já foi comparado ao cordão umbilical. Não é uma analogia bem apropriada?
Por outro lado, as escolas logo constataram que os trabalhos escolares, que exigem foco, dedicação e concentração, ficavam prejudicados com a presença do celular. Por isso, muitas já vetaram seu uso e até aplicam sanções aos alunos que o fazem. Mas tem sido difícil contornar a situação porque os professores também usam o celular na escola, e isso, claro, leva os alunos a fazerem o mesmo.
Por isso, parece que o projeto de lei mencionado vem em boa hora e que pais e professores devem aceitá-lo de bom grado. Mas devo alertar que tal lei, caso sancionada, é bem perigosa.
Acima de tudo, porque coloca o Estado no lugar de pai. Os educadores precisam usar a autoridade na relação com os mais novos. Quando os pais precisam tomar uma atitude que desagrada aos filhos, preferem que seja outro -a escola, o Estado- a fazê-lo.
Mas, quando o Estado passa a legislar sobre a vida dos cidadãos, nunca se sabe quando e onde irá parar. Além disso, sabemos que regras evocam transgressões. Por isso, em educação é muito mais valoroso trabalhar com princípios do que com regras.
No mundo adulto, os princípios parecem ter perdido o valor: nós também queremos regras para transgredi-las com a mesma atitude da juventude. Afinal, num mundo que valoriza a juventude, somos todos jovens. Mas e os mais novos, por quem serão introduzidos na convivência civilizada com o outro e com a humanidade?


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br


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