São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2011
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MIRIAN GOLDENBERG - miriangoldenberg@uol.com.br

Os asteriscos de Leila Diniz


A atriz, que se tornou um mito da liberdade feminina, dizia o que muitas mulheres não têm coragem de dizer


No dia 14 de junho de 1972, Leila Diniz, aos 27 anos, morreu em um acidente aéreo.
Por que Leila Diniz se tornou um mito da liberdade feminina no Brasil? É ela própria que responde à questão.
Leila disse, na célebre entrevista a "O Pasquim", em novembro de 1969: "Como todas as minhas entrevistas dizem 'Leila, a mulher livre','Leila, a mulher que faz amor&apos','Leila, que é independente'; etc., todo mundo fica achando que sou aquela (*) da zona, não é?".
A entrevista a "O Pasquim" e sua ampla repercussão nacional é um dos grandes marcos da revolução simbólica de Leila Diniz.
A grande novidade da entrevista não foi o seu conteúdo, mas a maneira irreverente como expressou suas opiniões recheadas de 70 palavrões, que foram substituídos por asteriscos em função da censura da época. Ela contou que deixou de ser virgem aos 15 anos e que teve uma vida sexual intensa e livre. "Casos, mil; casadinha, nenhuma. Na minha caminha, dorme algumas noites, mais nada. Nada de estabilidade". Disse que achava "bacana" fazer amor todos os dias e que teve experiências de "oito ou 12 (*)" em uma mesma noite. Disse, também, que era contra o amor possessivo e que já tinha amado muito uma pessoa e ido para a cama com outra. Recusou também o papel de objeto do desejo masculino. "Eu mando logo tomar no (*). Quando eu quero, vou com o cara. Comigo não tem esse negócio dele querer, não."
Uma das suas frases mais famosas foi uma resposta a um coronel do interior que ofereceu dinheiro para dormir com ela.
Depois de ser recusado, o coronel engrossou: "Mas Leila, você dá para todo mundo!". Com a irreverência de sempre, ela respondeu: "Sim. Eu posso dar para todo mundo... Mas não dou para qualquer um!".
Leila correu riscos ao afirmar publicamente, no auge da ditadura militar, comportamentos da sua vida privada. No entanto, conquistou a admiração de muitos que eram contrários à ditadura.
As consequências da entrevista a "O Pasquim" - ela foi perseguida politicamente e proibida de atuar na televisão"" demonstram os perigos da palavra pública e, também, seus lucros, como a consolidação de seu nome.
Leila Diniz contribuiu para o reconhecimento de comportamentos femininos que contestavam a moral então existente. Ela fazia e dizia o que muitas mulheres tinham o desejo de fazer e dizer, mas não tinham coragem. Não tinham e ainda não têm.

MIRIAN GOLDENBERG, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "Toda Mulher é Meio Leila Diniz" (Ed. BestBolso)



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