São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2009
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+ CORRIDA

Rodolfo Lucena

Enfrentando a dor

Subindo a Brigadeiro, na última São Silvestre, vislumbrei à frente um velho conhecido, veterano corredor que havia muito não encontrava no mundo das corridas. Ao passar por ele, cumprimentei, desejei feliz Ano-Novo e aquelas coisas todas.
Ele nem deu "Oi" em resposta, muito menos "Bom 2009!". Foi logo gritando, sem perder sequer uma passada: "Estou curado! Estou de alta! Voltei a correr!".
A bem da verdade, não me lembrava direito da história, mas, por uma dessas coincidências de percurso, voltamos a nos encontrar depois da prova. Ele tinha ficado mais de um ano sem correr, prejudicado por questões de saúde. Tudo doía ao correr, a alegria tinha se transformado em sofrimento.
Passou por médicos que fizeram diagnósticos errados, quase desistiu, encontrou outros, sofreu ameaça de cirurgia, escolheu caminhos diferentes, fez meses e meses de fisioterapia e trabalhos de fortalecimento, voltou aos poucos a tatear com os pés o asfalto e ali estava, renovado, prestes a começar um ano novo já de olho em, quem sabe, uma meia-maratona...
E me deixou a pensar em como somos teimosos, os corredores. Não há dia em que algum de nós não sofra alguma dor, resultado do impacto constante no asfalto. E a gente volta sempre. Ou sempre que consegue, pois, às vezes, a dor derruba, derrota, joga ao chão, prende à cama, maltrata.
Mas, se dá, devagarinho o corredor trinca os dentes, descobre movimentos possíveis, vai em frente. A melhor brasileira na São Silvestre também teve esses momentos -e longos, por sinal. Passou meio ano em fisioterapia, enfrentou bisturis, mas voltou aos treinos. Nem sempre os resultados agradaram, mas ela conseguiu vencer a adversidade.
Assim são os corredores, assim é cada um de nós que, correndo ou não, está comprometido com a vida. Ela tem surpresas, oferece percalços, aparece com obstáculos inesperados, indesejados, até aparentemente insuperáveis. Há então que botar um pé na frente do outro, massagear os músculos, reforçar o espírito e seguir. Ou, como ensina um dito da minha terra, que é também um aviso e uma advertência às dores e aos temores, às dificuldades e às intempéries da vida: "Não está morto quem peleia".
Feliz 2009.


RODOLFO LUCENA , 51, é editor de Informática da Folha , ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (ed. Record)

rodolfolucena.folha@uol.com.br

www.folha.com.br/rodolfolucena



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