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+ CORRIDA
Rodolfo Lucena
Enfrentando a dor
Subindo a Brigadeiro,
na última São Silvestre, vislumbrei à
frente um velho conhecido, veterano corredor
que havia muito não encontrava no mundo das corridas.
Ao passar por ele, cumprimentei, desejei feliz Ano-Novo e aquelas coisas todas.
Ele nem deu "Oi" em resposta, muito menos "Bom
2009!". Foi logo gritando,
sem perder sequer uma passada: "Estou curado! Estou
de alta! Voltei a correr!".
A bem da verdade, não me
lembrava direito da história,
mas, por uma dessas coincidências de percurso, voltamos a nos encontrar depois
da prova. Ele tinha ficado
mais de um ano sem correr,
prejudicado por questões de
saúde. Tudo doía ao correr, a
alegria tinha se transformado em sofrimento.
Passou por médicos que fizeram diagnósticos errados,
quase desistiu, encontrou
outros, sofreu ameaça de cirurgia, escolheu caminhos
diferentes, fez meses e meses
de fisioterapia e trabalhos de
fortalecimento, voltou aos
poucos a tatear com os pés o
asfalto e ali estava, renovado,
prestes a começar um ano
novo já de olho em, quem sabe, uma meia-maratona...
E me deixou a pensar em
como somos teimosos, os
corredores. Não há dia em
que algum de nós não sofra
alguma dor, resultado do impacto constante no asfalto. E
a gente volta sempre. Ou
sempre que consegue, pois,
às vezes, a dor derruba, derrota, joga ao chão, prende à
cama, maltrata.
Mas, se dá, devagarinho o
corredor trinca os dentes,
descobre movimentos possíveis, vai em frente. A melhor
brasileira na São Silvestre
também teve esses momentos -e longos, por sinal. Passou meio ano em fisioterapia, enfrentou bisturis, mas
voltou aos treinos. Nem sempre os resultados agradaram,
mas ela conseguiu vencer a
adversidade.
Assim são os corredores,
assim é cada um de nós que,
correndo ou não, está comprometido com a vida. Ela
tem surpresas, oferece percalços, aparece com obstáculos inesperados, indesejados,
até aparentemente insuperáveis. Há então que botar
um pé na frente do outro,
massagear os músculos, reforçar o espírito e seguir. Ou,
como ensina um dito da minha terra, que é também um
aviso e uma advertência às
dores e aos temores, às dificuldades e às intempéries da
vida: "Não está morto quem
peleia".
Feliz 2009.
RODOLFO LUCENA , 51, é editor de Informática da Folha , ultramaratonista e autor de
"Maratonando, Desafios e Descobertas nos
Cinco Continentes" (ed. Record)
rodolfolucena.folha@uol.com.br
www.folha.com.br/rodolfolucena
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