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entrevista
Filhos em primeiro lugar
Empresário carioca lança livro que propõe a cordialidade entre ex-cônjuges para que seja priorizada a saúde psicológica das crianças e reúne dicas para a boa educação dos filhos por casais separados
TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O
empresário Marcos
Wettreich, 43, estudou em Harvard e se
tornou conhecido
por empreendimentos como o
iBest e o spa Nirvana no Rio de
Janeiro. Mas foi a carreira de
pai separado que o fez revisar
conceitos e notar que é possível
aplicar técnicas de negociação à
quase sempre conturbada realidade de um divórcio. No recém-lançado "Manual de Mães
e Pais Separados - Guia para a
Educação e a Felicidade dos Filhos" (ed. Ediouro, 166 págs.,
R$ 24,90), ele dá dicas de como
construir uma relação cordial
com o ex a fim de priorizar a
saúde psicológica das crianças.
Por telefone, Wettreich falou à
Folha sobre o tema.
FOLHA - O que técnicas de negociação têm a ver com o sucesso na criação de filhos de pais separados?
MARCOS WETTREICH - Quando um
casal se separa, as emoções se
tornam exageradas, há muitos
sentimentos na mesa. Mas esse
é o momento de combinar como será a vida a partir dali. O fato é que as vidas dos dois não
serão independentes, pois existem os filhos. As crianças são
um bem compartilhado. E, em
prol delas, é preciso negociar.
FOLHA - Negociações empresariais
ocorrem em ambientes de pouco
envolvimento afetivo. Como fazer
isso acontecer numa separação?
WETTREICH - Negociar nada
mais é do que tentar entender
como funciona a mente do outro e se estruturar a partir disso, sabendo aonde quer chegar.
O tempo todo estamos negociando. Clientes e fornecedores
que se encontram por acaso e
tomam uma bebida no clube
estão negociando. Mesmo sem
decisões imediatas, a negociação permeia todas as relações.
FOLHA - O que é uma relação de
ganha-ganha para separados?
WETTREICH - É a relação em que
ambos sentem que estão ganhando. Para isso, o foco tem
de ser o bem-estar do filho, e
não os desejos, as ansiedades e
as expectativas de cada um. Numa separação, uma das partes
pode até não estar interessada
em se separar. Se ela for priorizar isso, aonde vai chegar? Na
relação ganha-ganha, nenhuma
das partes tem necessariamente 100% do que quer, mas ambas percebem os benefícios.
FOLHA - No livro, o senhor cita os
"trigger points", pontos de gatilho
que ativam reações de dor e comportamentos agressivos. Como é
possível amenizar a ação deles?
WETTREICH - As pessoas tendem
a ser reativas, a ver agressão
mesmo onde não há. Esses gatilhos são mais latentes quando
alguém está ferido, e a ferida é
freqüente nas separações. É
importante não manter o "pé
atrás", não pensar que tudo que
o ex faz é para arruinar sua vida.
Sempre achamos que quem
briga é o outro, mas muitas vezes o viciado em conflito é você.
FOLHA - Leva muito tempo para
construir essa cordialidade?
WETTREICH - É uma variável.
Convido quem está se separando a lembrar que já amou aquela pessoa e que houve um tempo em que as diferenças eram
acertadas -ou seja, há afinidade. Se os dois têm personalidade positiva, a tendência é que se
tornem amigos. Pelos filhos,
constroem uma boa relação.
Haverá momentos em que terão mais paciência um com o
outro, em outros, menos. Mas a
amizade intrínseca ao casamento pode ser mantida.
FOLHA - Como os pais ajudam os filhos na adaptação pós-separação?
WETTREICH - Colocando as necessidades da criança acima
dos seus desejos. Se você faz
com que a sua criança fique
bem, esse bem dará um retorno
enorme. Definirá o caráter dela
e a qualidade do amor que sentirá por você no futuro. Mas, na
separação, o casal fica tão absorvido nas suas questões que
esquece que a criança está ali
sofrendo junto. A confusão da
criança traz questionamentos
do tipo "Onde é que eu vou morar? Quem é que vai me alimentar?". Muitas das dicas que o livro traz são puro bom senso,
mas a emoção às vezes estraga a
percepção do que é óbvio.
FOLHA - Que práticas você citaria
como inadmissíveis numa separação com filhos?
WETTREICH - Falar mal do ex-cônjuge para a criança ou na
frente dela. Isso só gera, na
criança, dúvida e rancor. E, no
futuro, pode levar ao distanciamento dela de um dos pais. Dividida, ela acaba sendo forçada
a agir com falsidade: pode mentir para um dos pais para não
perder o afeto dele. Além disso,
é preciso não demonstrar culpa
pela separação. Se o pai ou a
mãe fica cabisbaixo, o filho tende a se sentir responsável.
FOLHA - Como deve ser conduzida
a educação pelos pais separados?
WETTREICH - É interessante
manter regras comuns de educação. Combinar, por exemplo,
horários de dormir e de comer
que sejam respeitados nas duas
casas. Estabelecer se pode falar
palavrão ou não. Numa carta de
intenções, os pais podem combinar essas regras.
FOLHA - O livro é baseado na sua
experiência?
WETTREICH - Mais do que minha
experiência, estudei as separações. Li muitos livros de psicologia, que trazem o porquê de
certas coisas, mas não desenvolvem o lado prático de como
evitá-las. Eu tenho uma relação
excepcional com a minha ex-mulher e comecei a aplicar técnicas de negociação na nossa
relação intuitivamente.
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