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Outras idéias - Michael Kepp
Sexo é superestimado?
A
s confissões ficam
mais fáceis com a idade. Os idosos podem
admitir que o sexo
não é -e, em alguns casos, nunca foi- seu ponto forte porque
estão velhos demais para ligar
para o que os outros pensam.
O ensaísta americano Gore
Vidal, 80, começou um livro de
memórias assim: "A única coisa
que realmente gostava de fazer
era ir ao cinema. Naturalmente, sexo e arte vinham antes do
cinema, mas nunca foram tão
confiáveis". Lima Duarte, 76,
disse, em entrevista a Marília
Gabriela: "Não sou bom de cama. Não sou atento e não gosto
de ser servidor da mulher. Não
sei mexer com as coisas na hora
que tem de mexer".
Mas quem, ainda longe da
terceira idade, tem coragem de
afirmar que sexo não é muito a
sua praia? Quando perguntei a
brasileiros de diferentes idades
o que na vida dá mais prazer, o
sexo ficou, para a maioria, no
topo da lista ou perto. Essa tendência me surpreendeu porque
o sexo é mais importante em
certos momentos da vida do
que em outros. Será que todos
-solteiros, recém-casados, casados de longa data- estavam
no mesmo momento sexual?
Ou a maioria tem medo de admitir prazeres maiores, de música a gastronomia, pois o apetite sexual é um traço atraente?
A mídia destaca a sexualidade dos entrevistados porque
supõe que é a imagem que eles
querem cultivar e porque sexo
vende. A "Revista O Globo", um
suplemento dominical, destaca
a sexualidade nos perfis que
faz, com perguntas como: "O
melhor lugar para fazer amor?"
ou "O barulho que você faz na
hora do amor?". No penúltimo
perfil, a manchete era: "Maurício Branco faz amor ao som de
"Oh, Yeah!'".
Eu me confundo com a questão que levantei. Nem sei onde
fica o sexo na minha lista de
prazeres. Talvez porque o sexo,
ao contrário da maioria dos
prazeres, é um "pas de deux"
que depende de quanto os envolvidos gostam da dança. Como comparar o prazer de satisfazer seu parceiro com a solitária e sensorial delícia de um vinho memorável?
Meus namoros mais marcantes não foram os mais gostosos,
mas sim os mais inusitados. De
sexo a tênis, os prazeres não envolveriam momentos repetidos
e previsíveis que ficam inesquecíveis por causa do inesperado? Um exemplo é a final da
Copa de 2006. O que lembramos não é de como França e
Itália jogaram, mas de Zinedine
Zidane dando a cabeçada no
italiano que disse preferir pegar a irmã dele do que a sua camisa no fim do jogo. Sexo é fonte de poder, de status e de auto-estima. Mas, como fonte de
prazer, é superestimado. Afinal, o que as pessoas pensariam
se você dissesse que prefere ver
uma novelinha a namorar?
MICHAEL KEPP, jornalista norte-americano radicado há 25 anos no Brasil, é autor do livro de
crônicas "Sonhando com Sotaque - Confissões e
Desabafos de um Gringo Brasileiro" (ed. Record)
www.michaelkepp.com.br
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