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ROSELY SAYÃO
Compaixão pelas crianças
Muitas crianças sofrem quando se
descontrolam,
quando fazem o
que não poderiam nem deveriam fazer, quando expressam
explosivamente seus caprichos, quando se debatem com
uma tarefa difícil que precisam
cumprir e se perdem no abismo
do "eu não vou conseguir, eu
não sou capaz", quando transgridem um princípio conhecido e sabem que a consequência
de seu ato prejudica alguém.
O sofrimento delas fica estampado com tanta clareza que
é difícil um adulto não perceber
o que ocorre nesse momento.
Mesmo assim, a reação de muitos deles tem sido insensível. Já
faz um tempo que adotamos a
postura de reclamar de comportamentos das crianças, de
nos sentirmos vítimas de suas
atitudes, de nos fazermos impotentes frente a elas.
"Eu não aguento mais esse
menino!", "Eu já fiz de tudo para ensinar a ela que não pode
fazer isso", "Ela não tem jeito",
"Essa criança precisa de um
castigo muito sério" são frases
que ouço pais e professores dizerem com frequência. Pois
elas expressam a falta de compaixão e de empatia dos adultos
para com as crianças, o que talvez seja uma marca importante
de nosso tempo.
É preciso buscar novos caminhos para reagir às crianças
que experimentam as situações
acima, já que, mais do que acusações e reclamações, elas precisam é de nossa ajuda, de nossa intervenção educativa.
Em primeiro lugar, é bom
lembrar que, como nos ensinou
Françoise Dolto -psicanalista
que se dedicou a compreender
a infância e a adolescência-,
quando uma criança reage com
violência a uma pessoa ou a
uma situação, é porque ela tem
lá suas razões, mesmo que não
seja possível perceber os motivos que a levaram a se comportar dessa forma.
Isso não significa, é claro, que
pais e professores não tenham
que fazer com que ela arque
com as consequências de seus
atos e que não a levem a reparar
o que fez. Mas ter essa compreensão é fundamental para
que seja possível manter a calma e o equilíbrio a fim de não se
relacionar com a criança de
modo simétrico e, desse modo,
perder o lugar de educador.
Reclamar de, acusar, julgar e
condenar são atos que, em geral, praticamos com quem ocupa posição simétrica à nossa.
Fazer isso com crianças mostra
que, diante delas, deixamos vago o lugar de adultos.
É possível ensinar às crianças
o respeito às normas importantes para a convivência sem que
isso signifique formar um batalhão de obedientes. Igualmente, podemos ensinar a elas que
podem e devem sentir orgulho
de si mesmas por conseguir ter
controle sobre seus atos.
As crianças sofrem quando
não conseguem dominar seus
impulsos violentos e de momento. Para que tenham êxito
no árduo aprendizado do autocontrole, precisam de nós,
adultos, agindo como tal. Elas
também sofrem quando se afogam no mar da insegurança que
as impede de se esforçarem para aprender. Também nesse
momento precisam de nosso
apoio e encorajamento.
As crianças precisam contar
conosco para transformar em
ato seu potencial.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@uol.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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