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São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2003
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A preocupação com a estética impulsiona a utilização do aparelho ortodôntico lingual, que fica oculto atrás das arcadas do paciente

Aparelho corrige dentes sem "metalizar" sorriso

Ormuzd Alvez/Folha Imagem
Como os braquetes e os fios são colocados na parede posterior dos dentes, o aparelho lingual fica "escondido" e não é visto pelos outros quando o paciente conversa ou sorri

CAROL FREDERICO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Eles estão voltando às bocas, depois de mais de dez anos no ostracismo. Graças ao avanço tecnológico, os aparelhos linguais estão deixando mais sorridentes principalmente os pacientes que descobrem já adultos que precisam alinhar os dentes ou corrigir a mordida, por exemplo. O aparelho lingual é uma das opções dos tratamentos ortodônticos "invisíveis". Nele, os braquetes (pequenas peças que são coladas na parede dentária e que sustentam os fios responsáveis pela tensão que corrige o posicionamento dos dentes) são aplicados na face interna do dente. Ou seja, o aparelho é "escondido" pelos próprios dentes do paciente. "A grande maioria das pessoas que se interessam por esse tipo de aparelho são adultos jovens, que, por questões profissionais ou até mesmo por vergonha, não querem usar o visível aparelho fixo convencional", afirma Peter Taylor, ortodontista inglês radicado no Brasil que aderiu à técnica há dois anos. O possível impacto negativo na vida profissional foi o que levou Sérgio Alvim, 44, a optar pelo aparelho lingual. Ele tinha mais de 40 anos quando iniciou o tratamento ortodôntico e achava que braquetes e fios metálicos não combinavam com seu cargo de diretor. "Será que eu vou ser levado a sério?", perguntava-se Alexssandro Correa de Mello, 29, quando soube que teria de usar aparelho. Professor e consultor de empresas, ele temia que sua capacidade profissional fosse questionada por causa da imagem "teenager" associada ao sorriso metálico. Mas seu aparelho lingual passa despercebido por alunos e clientes.

Sorriso de coelhinha
A ortodontia lingual surgiu na década de 70, quando um especialista de Los Angeles (EUA) desenvolveu um aparelho adequado às necessidades odontológicas e estéticas de uma de suas clientes, que era modelo e coelhinha da "Playboy". A invenção escondeu o sorriso metálico, mas demonstrou ser pouco eficaz se comparada aos aparelhos tradicionais.
A técnica foi sendo aprimorada e, nos anos 80, os aparelhos linguais já faziam sucesso, mesmo sem gerar resultados tão bons quanto os outros aparelhos. Em 1987 surgiram os primeiros braquetes transparentes, e os aparelhos linguais caíram no esquecimento.
De dois anos para cá, porém, o cenário mudou. "Houve um desenvolvimento tanto do material quanto da técnica em si", afirma Taylor. Dois dos principais fatores para essa mudança foram a nova geração de braquetes para a face interna dos dentes e os fios termoativados -ou "fios de memória", que, depois de aplicados nos dentes, recuperam seu formato original com o calor da boca.
Especialistas adeptos da ortodontia convencional, porém, questionam a eficácia da técnica lingual e afirmam que esses aparelhos não são adequados para todos os casos. "Ficam faltando detalhes no acabamento do tratamento", diz o ordodontista João Batista de Paiva, da USP. Para ele, a ortodontia lingual faz bem os reparos estéticos, mas deixa a desejar quanto à solução dos problemas funcionais, como o ajuste da mastigação. Pioneiro na utilização da técnica no Brasil, o ortodontista e cirurgião bucomaxilofacial José Carlos Gaspar discorda. Segundo ele, que é diretor da Sociedade Ibero-Americana de Ortodontia Lingual e usa a técnica desde 1986, os aparelhos linguais solucionam todos os problemas que são tratados pela ortodontia tradicional. "Paralelamente ao desenvolvimento dos novos materiais, a própria técnica vem melhorando."


"A grande maioria das pessoas que se interessam por esse tipo de aparelho são adultos jovens, que, por questões profissionais ou até mesmo por vergonha, não querem usar o visível aparelho fixo convencional"


Peter Taylor, ortodontista


Escovadas cuidadosas
Os adultos são os principais usuários dos aparelhos linguais, não só pelo apelo estético, como também pela maior dificuldade de higienização, o que contra-indica o uso por crianças. Com um aparelho fixo convencional, o paciente consegue ver a área em que os braquetes estão colados e verificar se os dentes estão limpos. Já com o lingual, isso não é possível, porque os braquetes estão colados na face posterior dos dentes. Além disso, como essa face é menor que a anterior, os braquetes ficam mais rentes à gengiva, aumentando o risco de doenças periodontais. Para a microempresária Priscilla Dias, 25, escovar os dentes ficou mais complicado. "A higienização é um pouco trabalhosa", afirma ela, que trocou o aparelho fixo transparente por um lingual há seis meses. "O começo é difícil, mas agora acho até mais confortável." A adaptação requer paciência. Na arcada inferior, o processo pode ser bem doloroso por causa do contato com a língua. Para evitar esse problema, alguns especialistas colocam o aparelho lingual só na arcada superior, usando o convencional nos dentes de baixo.

Invisível
Outra vedete dos tratamentos ortodônticos que prezam a estética é o Invisalign, chamado também de aparelho invisível. No lugar de braquetes, o aparelho é feito com pequenas placas de acetato transparente que funcionam como "capinhas" para os dentes.
O Invisalign pode ser retirado para as refeições e a higienização. Seu uso, porém, é mais restrito: é indicado para casos como alinhamento, apinhamento ou diastemas (espaço entre os dentes). "É uma opção genial, mas é específica para algumas coisas", explica a ortodontista Vivian Gaspar. Além disso, o custo do tratamento é bastante superior ao feito com outros aparelhos, porque os moldes são enviados para os Estados Unidos, onde são feitas as placas de acetato.


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