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São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2003
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s.o.s família - rosely sayão

Leitor de 11 pede dicas para dar aos pais

Os pais e as mães que escrevem sugerindo temas para nossas conversas vão ter de me desculpar por passar na frente a correspondência de um filho. Vejam se não vale a pena: "Oi! Tenho 11 anos, li sua matéria no Folha Equilíbrio do dia 24 de abril -"Quando o bom senso é a melhor saída dos pais'- e gostei muito. Minha mãe se encaixa no bom senso. Gostaria de ler sobre competir em tudo com irmãos caçulas. Como devo agir? Como meus pais devem proceder quando presenciam brigas entre nós?"
É assim mesmo: os pais são avaliados -e muitas vezes corretamente- nas atitudes educativas que praticam com seus filhos. Eu já ouvi uma garota dizer que achava o pai muito "mole" com ela. Um menino, da idade de nosso leitor de hoje, disse que os pais achavam que eram democráticos, mas eram, na verdade, ausentes da vida dele. E, claro, muitos avaliam de modo positivo o que os pais fazem, mesmo reclamando das imposições deles.
E eles querem dar dicas aos pais sobre como agir em determinadas situações por um motivo: precisam dessa intervenção. O pedido explicitado na carta do nosso leitor de 11 anos é um só: ele quer a ajuda dos pais para enfrentar as brigas e competições que trava com os irmãos porque não consegue, sozinho, dar conta do recado. Então, vamos lá.
Muita gente acha que as crianças de hoje brigam mais com os irmãos porque são mais egoístas e exigentes. Claro que são centradas em si, já que nasceram e crescem em um mundo que cultiva o individualismo.
Mas os pais, um tempo atrás, tinham mais autoridade com os filhos, que eram mais obedientes, e esse tipo de relação ajudava os filhos a controlar um pouco mais a expressão do ciúme e da raiva. Além disso, antes os pais eram o centro da família. Hoje, os filhos ocupam esse lugar, e isso acirra a disputa entre irmãos.
Como atualmente as famílias estão menores, os pais pressionam os irmãos a que se amem. Afinal, neste mundo tão competitivo, quem, senão os irmãos, ajudariam uns aos outros? Acontece que essa busca dos pais de tentar aproximar afetivamente os filhos acaba por estimular a disputa entre eles.
O que os pais podem fazer, então, já que são tantos os fatores a favorecer as brigas entre os filhos? Bem, a primeira coisa é liberar os filhos da obrigação de amar os irmãos. Cada filho já é amado pelos pais, e isso já é o bastante. Os pais fazem melhor ensinando o respeito no relacionamento entre os filhos. Se, durante a infância e a adolescência, eles conseguem brigar e competir tendo o respeito como limite a controlar as atitudes, na idade adulta será mais fácil reconhecer e desfrutar do afeto fraterno.
Ensinar o respeito significa, muitas vezes, ter de intervir nas brigas apontando e contendo os excessos. Conheço uma mãe que selecionou alguns palavrões e os proibiu nas brigas dos filhos. O mesmo vale para ações físicas, que devem diminuir bastante com a idade, até o ponto de também serem proibidas. Briga boa é a de palavras, disse uma vez uma amiga. E mesmo elas precisam ser ditas com cuidado. Isso os filhos podem aprender com os pais, mas claro que a criançada não aprende apenas ouvindo orientação, sermão ou broncas. Aprendem com atos, principalmente. E, nunca é demais lembrar, o aprendizado dura um tempão. Até acabar a adolescência.
Finalmente: os pais bem que poderiam resistir à tentação de tomar partido nas brigas. Mesmo tendo observado o que aconteceu, mesmo sabendo quem provocou a briga ou quem tem a razão, talvez deixar que eles encontrem sozinhos uma saída para os conflitos e confrontos seja a atitude que mais colabore para que as brigas sejam menos frequentes.
Nosso leitor precisa saber que brigar ou querer brigar com os irmãos é normal. Os pais precisam saber da mesma coisa, mas a tarefa deles, nessa questão, é a de ajudar o filho a se conter e a dosar suas reações emocionais na hora das brigas. Nas outras horas -e sempre-, ensinar que a fraternidade é fundamental nesta vida.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br.


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