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s.o.s família - rosely sayão
Leitor de 11 pede dicas para dar aos pais
Os pais e as mães que escrevem sugerindo temas para nossas conversas vão ter de me desculpar por passar na frente a correspondência de um filho. Vejam se não vale a pena: "Oi! Tenho 11 anos, li sua matéria no Folha Equilíbrio do dia 24 de abril -"Quando o bom
senso é a melhor saída dos pais'- e gostei
muito. Minha mãe se encaixa no bom senso.
Gostaria de ler sobre competir em tudo com
irmãos caçulas. Como devo agir? Como meus
pais devem proceder quando presenciam brigas entre nós?"
É assim mesmo: os pais são avaliados -e
muitas vezes corretamente- nas atitudes
educativas que praticam com seus filhos. Eu já
ouvi uma garota dizer que achava o pai muito
"mole" com ela. Um menino, da idade de nosso leitor de hoje, disse que os pais achavam
que eram democráticos, mas eram, na verdade, ausentes da vida dele. E, claro, muitos avaliam de modo positivo o que os pais fazem,
mesmo reclamando das imposições deles.
E eles querem dar dicas aos pais sobre como
agir em determinadas situações por um motivo: precisam dessa intervenção. O pedido explicitado na carta do nosso leitor de 11 anos é
um só: ele quer a ajuda dos pais para enfrentar
as brigas e competições que trava com os irmãos porque não consegue, sozinho, dar conta do recado. Então, vamos lá.
Muita gente acha que as crianças de hoje brigam mais com os irmãos porque são mais
egoístas e exigentes. Claro que são centradas
em si, já que nasceram e crescem em um mundo que cultiva o individualismo.
Mas os pais, um tempo atrás, tinham mais
autoridade com os filhos, que eram mais obedientes, e esse tipo de relação ajudava os filhos
a controlar um pouco mais a expressão do ciúme e da raiva. Além disso, antes os pais eram o
centro da família. Hoje, os filhos ocupam esse
lugar, e isso acirra a disputa entre irmãos.
Como atualmente as famílias estão menores, os pais pressionam os irmãos a que se
amem. Afinal, neste mundo tão competitivo,
quem, senão os irmãos, ajudariam uns aos outros? Acontece que essa busca dos pais de tentar aproximar afetivamente os filhos acaba
por estimular a disputa entre eles.
O que os pais podem fazer, então, já que são
tantos os fatores a favorecer as brigas entre os
filhos? Bem, a primeira coisa é liberar os filhos
da obrigação de amar os irmãos. Cada filho já
é amado pelos pais, e isso já é o bastante. Os
pais fazem melhor ensinando o respeito no relacionamento entre os filhos. Se, durante a infância e a adolescência, eles conseguem brigar
e competir tendo o respeito como limite a controlar as atitudes, na idade adulta será mais fácil reconhecer e desfrutar do afeto fraterno.
Ensinar o respeito significa, muitas vezes, ter
de intervir nas brigas apontando e contendo
os excessos. Conheço uma mãe que selecionou alguns palavrões e os proibiu nas brigas
dos filhos. O mesmo vale para ações físicas,
que devem diminuir bastante com a idade, até
o ponto de também serem proibidas. Briga
boa é a de palavras, disse uma vez uma amiga.
E mesmo elas precisam ser ditas com cuidado.
Isso os filhos podem aprender com os pais,
mas claro que a criançada não aprende apenas
ouvindo orientação, sermão ou broncas.
Aprendem com atos, principalmente. E, nunca é demais lembrar, o aprendizado dura um
tempão. Até acabar a adolescência.
Finalmente: os pais bem que poderiam resistir à tentação de tomar partido nas brigas.
Mesmo tendo observado o que aconteceu,
mesmo sabendo quem provocou a briga ou
quem tem a razão, talvez deixar que eles encontrem sozinhos uma saída para os conflitos
e confrontos seja a atitude que mais colabore
para que as brigas sejam menos frequentes.
Nosso leitor precisa saber que brigar ou querer brigar com os irmãos é normal. Os pais
precisam saber da mesma coisa, mas a tarefa
deles, nessa questão, é a de ajudar o filho a se
conter e a dosar suas reações emocionais na
hora das brigas. Nas outras horas -e sempre-, ensinar que a fraternidade é fundamental nesta vida.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br.
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