São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004
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A idéia é preencher as rugas, e não esticar a pele

Especialistas apostam na técnica de preenchimento, que deve ser aplicada antes do surgimento das marcas profundas do tempo

IARA BIDERMAN
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O conceito de rejuvenescimento está de cara nova. Os procedimentos são feitos cada vez mais cedo, são mais rápidos, menos agressivos e seus efeitos, mais sutis. A idéia é que a pessoa não espere a chegada das marcas profundas do envelhecimento para, de uma hora para a outra, surgir com a cara transformada em conseqüência de uma cirurgia plástica. Ela agora faz, a partir dos 30, pequenas e quase imperceptíveis intervenções, mas que fazem a diferença.
Usar os recursos técnicos e científicos para valorizar o que cada um tem de bom, fazer uma ou outra correção, mas preservando as características da aparência individual -ou recuperando-as, caso elas só possam ser vistas em fotos de alguns anos atrás. Esse foi um dos temas recorrentes no Congresso Brasileiro Dermatológico realizado em junho, como afirma a dermatologista Denise Steiner, da comissão científica. Para recuperar a aparência jovem (que não se restringe à pele sem ruga), dermatologistas ou cirurgiões plásticos concentram-se na harmonia do rosto, trabalham sobre os seus volumes. "A técnica visa recuperar o convexo/côncavo/convexo do rosto jovem: maçãs mais abauladas, parte inferior da bochecha mais côncava e mandíbula mais para fora", diz o cirurgião plástico Garabet Karabachian Neto.

Murcha, e não caída
Segundo essa nova abordagem, a grande vilã do envelhecimento não é mais a gravidade, mas a perda de tecido sob a pele. "Há perda muscular e de colágeno e reabsorção de gordura, ou seja, perda dos elementos que sustentam a pele", explica Charles Yamaguchi, presidente da Sociedade Brasileira de Laser. Dessa forma, a técnica do preenchimento passa a ganhar importância sobre o lifting, procedimento que estica a pele. Os preenchimentos corrigem, ainda que temporariamente, os efeitos desse "murchar", que ocorre de dentro para fora da pele, e saciam um público ávido por recuperação e efeitos imediatos, além de custos e riscos menores. Isso está levando os médicos norte-americanos a evitar as cirurgias mais agressivas e adotar métodos como injeções, afirmou V. Leroy Young em reportagem do "New York Times". O médico integra o grupo da área de tendências emergentes da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética, cuja reunião anual ocorreu há três meses. Os Estados Unidos são o país campeão do mundo em número de cirurgias plásticas, e o Brasil vem em seguida, com 400 mil procedimentos realizados em 2003. Não há contra-indicação formal para a aplicação de preenchimento em jovens. Os eventuais riscos são os mesmos para qualquer idade, diz Doris Hexsel, coordenadora do departamento de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Precocidade extrema
Mas há gente jovem demais adotando o método, na faixa dos 20 anos. "Isso não deveria ser normal. É uma obsessão", diz o cirurgião plástico Carlos Fernando Gomes de Almeida, do Rio de Janeiro. O apresentador de TV André Mantovanni, 23, é um deles.
Aos 21 anos, por achar que o bigode chinês (sulcos que se formam do nariz até os cantos da boca) envelhecia, fez um preenchimento na área. Para Gomes de Almeida, é maluquice isso: "Com 23 anos, só não tem pele linda quem tem acne. Não tem de preencher, passar Botox, nada".
Mas alguns médicos alegam que determinadas características genéticas podem indicar o procedimento para quem tem pouca idade. "Esporadicamente, até para quem tem menos de 20 anos", diz a cirurgiã plástica Loriti Breuel.
A cirurgiã plástica Deusa Pires Rodrigues acha que a divulgação em massa sobre os métodos de rejuvenescimento é o que faz as pessoas procurarem esse recurso tão precocemente. Há casos extremos, como o de uma menina de 15 anos que cismou em aplicar Botox.
A utilização da toxina botulínica é uma das causas da massificação dos métodos de rejuvenescimento. Atende aos requisitos rapidez, efeito imediato e custo reduzido que o mercado procura. E potencializa os efeitos de outros procedimentos, pelo menos enquanto duram os resultados da aplicação (cerca de seis meses). A tendência é combinar Botox e preenchimento para atenuar diferentes sinais de envelhecimento. Por exemplo: nas rugas de expressão é usada a toxina; em sulcos, preenchimentos.
A aplicação da toxina em pessoas mais jovens não é consenso entre os médicos. A dermatologista Cristina Abdalla, do Hospital Sírio Libanês (SP), acha que o uso continuado pode criar resistência no organismo, que passa a exigir doses maiores do produto para responder ao tratamento. Casos de pessoas que desenvolvem anticorpos são raríssimos, diz o cosmiatra Otávio Macedo, da Academia Americana de Dermatologia.
Muitos médicos também apostam no efeito preventivo da toxina botulínica. "Parece loucura aplicar em pessoas de 23, 24 anos, mas não é. Se o jovem faz muita mímica facial, as paralisações temporárias acabam diminuindo a movimentação muscular, e ele perde o hábito de contrair partes do rosto, o que causa as rugas de expressão", diz o dermatologista Nuno Osório.
Afora os procedimentos corretivos, a ciência e a indústria buscam métodos que cheguem mais próximo das causas do envelhecimento da pele, mais precisamente as fibras de colágeno. Nesse sentido, a mais nova aposta é o tratamento cujo nome comercial é ThermaCool, que utiliza ondas de radiofreqüência para atingir as camadas mais profundas da pele. É um dos poucos recursos eficazes para flacidez do pescoço, onde preenchimentos e Botox têm efeito restrito.
Apesar de ser absolutamente não-invasivo para o corpo, é bastante agressivo para o bolso. O ThermaCool é o método não-cirúrgico mais caro do mercado.
Por fim, um consenso médico: bons hábitos de vida, como ter alimentação saudável e praticar atividade física, são um dos métodos mais eficazes da prevenção precoce do envelhecimento.


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