|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A idéia é preencher as rugas, e não esticar a pele
Especialistas apostam na técnica de preenchimento, que deve ser aplicada antes do surgimento das marcas profundas do tempo
IARA BIDERMAN
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O conceito de rejuvenescimento está de cara nova. Os procedimentos são
feitos cada vez mais cedo, são mais rápidos, menos agressivos e seus efeitos, mais sutis. A idéia é que a pessoa não espere a chegada das marcas profundas do envelhecimento para, de uma hora para a outra, surgir com a cara transformada em conseqüência de uma cirurgia plástica. Ela agora faz, a partir dos
30, pequenas e quase imperceptíveis intervenções, mas que fazem a diferença.
Usar os recursos técnicos e científicos para valorizar o que cada um tem de bom, fazer uma ou outra correção, mas preservando as características da aparência individual -ou recuperando-as, caso elas só
possam ser vistas em fotos de alguns anos
atrás. Esse foi um dos temas recorrentes no
Congresso Brasileiro Dermatológico realizado em junho, como afirma a dermatologista Denise Steiner, da comissão científica.
Para recuperar a aparência jovem (que
não se restringe à pele sem ruga), dermatologistas ou cirurgiões plásticos concentram-se na harmonia do rosto, trabalham
sobre os seus volumes. "A técnica visa recuperar o convexo/côncavo/convexo do rosto
jovem: maçãs mais abauladas, parte inferior da bochecha mais côncava e mandíbula mais para fora", diz o cirurgião plástico
Garabet Karabachian Neto.
Murcha, e não caída
Segundo essa nova abordagem, a grande vilã do envelhecimento não é mais a gravidade, mas a perda
de tecido sob a pele. "Há perda muscular e
de colágeno e reabsorção de gordura, ou seja, perda dos elementos que sustentam a
pele", explica Charles Yamaguchi, presidente da Sociedade Brasileira de Laser.
Dessa forma, a técnica do preenchimento
passa a ganhar importância sobre o lifting,
procedimento que estica a pele. Os preenchimentos corrigem, ainda que temporariamente, os efeitos desse "murchar", que
ocorre de dentro para fora da pele, e saciam
um público ávido por recuperação e efeitos
imediatos, além de custos e riscos menores.
Isso está levando os médicos norte-americanos a evitar as cirurgias mais agressivas
e adotar métodos como injeções, afirmou
V. Leroy Young em reportagem do "New
York Times". O médico integra o grupo da
área de tendências emergentes da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética,
cuja reunião anual ocorreu há três meses.
Os Estados Unidos são o país campeão do
mundo em número de cirurgias plásticas, e
o Brasil vem em seguida, com 400 mil procedimentos realizados em 2003.
Não há contra-indicação formal para a
aplicação de preenchimento em jovens. Os
eventuais riscos são os mesmos para qualquer idade, diz Doris Hexsel, coordenadora
do departamento de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Precocidade extrema
Mas há gente
jovem demais adotando o método, na faixa
dos 20 anos. "Isso não deveria ser normal. É
uma obsessão", diz o cirurgião plástico
Carlos Fernando Gomes de Almeida, do
Rio de Janeiro. O apresentador de TV André Mantovanni, 23, é um deles.
Aos 21 anos, por achar que o bigode chinês (sulcos que se formam do nariz até os
cantos da boca) envelhecia, fez um preenchimento na área. Para Gomes de Almeida,
é maluquice isso: "Com 23 anos, só não tem
pele linda quem tem acne. Não tem de
preencher, passar Botox, nada".
Mas alguns médicos alegam que determinadas características genéticas podem indicar o procedimento para quem tem pouca
idade. "Esporadicamente, até para quem
tem menos de 20 anos", diz a cirurgiã plástica Loriti Breuel.
A cirurgiã plástica Deusa Pires Rodrigues
acha que a divulgação em massa sobre os
métodos de rejuvenescimento é o que faz as
pessoas procurarem esse recurso tão precocemente. Há casos extremos, como o de
uma menina de 15 anos que cismou em
aplicar Botox.
A utilização da toxina botulínica é uma
das causas da massificação dos métodos de
rejuvenescimento. Atende aos requisitos
rapidez, efeito imediato e custo reduzido
que o mercado procura. E potencializa os
efeitos de outros procedimentos, pelo menos enquanto duram os resultados da aplicação (cerca de seis meses). A tendência é
combinar Botox e preenchimento para atenuar diferentes sinais de envelhecimento.
Por exemplo: nas rugas de expressão é usada a toxina; em sulcos, preenchimentos.
A aplicação da toxina em pessoas mais jovens não é consenso entre os médicos. A
dermatologista Cristina Abdalla, do Hospital Sírio Libanês (SP), acha que o uso continuado pode criar resistência no organismo,
que passa a exigir doses maiores do produto para responder ao tratamento. Casos de
pessoas que desenvolvem anticorpos são
raríssimos, diz o cosmiatra Otávio Macedo,
da Academia Americana de Dermatologia.
Muitos médicos também apostam no
efeito preventivo da toxina botulínica. "Parece loucura aplicar em pessoas de 23, 24
anos, mas não é. Se o jovem faz muita mímica facial, as paralisações temporárias
acabam diminuindo a movimentação muscular, e ele perde o hábito de contrair partes
do rosto, o que causa as rugas de expressão", diz o dermatologista Nuno Osório.
Afora os procedimentos corretivos, a
ciência e a indústria buscam métodos que
cheguem mais próximo das causas do envelhecimento da pele, mais precisamente as
fibras de colágeno. Nesse sentido, a mais
nova aposta é o tratamento cujo nome comercial é ThermaCool, que utiliza ondas de
radiofreqüência para atingir as camadas
mais profundas da pele. É um dos poucos recursos eficazes para
flacidez do pescoço, onde preenchimentos
e Botox têm efeito restrito.
Apesar de ser absolutamente não-invasivo para o corpo, é bastante agressivo para o
bolso. O ThermaCool é o método não-cirúrgico mais caro do mercado.
Por fim, um consenso médico: bons hábitos de vida, como ter alimentação saudável
e praticar atividade física, são um dos métodos mais eficazes da prevenção precoce do
envelhecimento.
Texto Anterior: Estudo brasileiro mostra que corpo reage a preces Próximo Texto: Raio-X do preenchimento Índice
|