São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004
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domínio do corpo

Sarada aos 72 anos de idade pela corrida

Marcelo Barabani/Folha Imagem

"Comecei a me sentir mal com 54 anos e fiquei doente até os 57. Sentia cansaço, dores, falta de ar e problemas de respiração. Tinha de pingar o soro no nariz para acordar, para dormir, para tudo. Fui a cinco médicos, e ninguém descobria o que eu tinha. Acho que era depressão, mas antigamente não chamavam assim. No princípio achei que fosse dengue, mas o médico disse que era um problema de coluna. Fiquei um ano tratando a coluna. Aí fiz tratamento para gastrite. Depois fui ao especialista em fígado, mas não melhorava. Sentia enjôo, cansaço e sempre queria deitar-me. Tinha ainda mais problemas, precisava ser operada das hemorróidas e das amígdalas, pois sempre estava gripada. Mas pensei: "Do jeito que estou fraca, se for operada, já morro de uma vez".
Fui ao posto de saúde, onde a médica era boa e descobriu que o problema era intoxicação por remédio. Ela me mandou parar toda a medicação. Melhorei, graças a Deus. A médica dizia que eu tinha de tomar o sol da manhã. Então comecei a caminhar.
Quando você não está bem, não quer fazer nada. Mas ela mandou tomar um suquinho antes da caminhada, e aquilo foi muito gostoso. Só que caminhar é muito monótono e pensei: "Acho que correr anima mais". Então comecei a correr, fiquei mais forte e saudável.
Comecei sozinha para ter certeza de que conseguiria. Depois, achei que estava bom e entrei no clube japonês para correr com a turma. Era sempre a última na saída e na chegada. Todo mundo ria: "Você não tem jeito para correr". Mas pensava que um dia eu conseguiria. E consegui.
Corria na pista com a turma, mas aquilo não era nada para mim e comecei a correr na rua, na rodovia dos Imigrantes. No começo, fazia 1 km por dia. Hoje, o treino é de 5 km a 10 km durante a semana. Aos sábados, faço um percurso em subida na USP de 10 km, mais 6 km em terreno plano.
Senti totalmente as mudanças no corpo. Antes, eu me alimentava mal porque não tinha vontade de comer. Se você não está bem, não consegue se alimentar. Comia só a metade de um pão francês -com sacrifício- porque era obrigada. Isso é que foi me prejudicando. Tinha médico que dizia que eu não podia comer arroz também. Então, comia só a papa do arroz e aquilo não me sustentava.
Então, saindo, andando e correndo, sentia mais fome e comia muito bem. Comecei a comer o pão francês inteiro, bananas, laranjas, tudo. Agora como demais.
Enquanto estava doente, pesava 34 kg e não aumentava o peso. Quando era solteira, era gordinha, gordinha. Pesava mais de 50 kg. Naquela época, nunca pensei em correr. Não tem a gincana japonesa? Mas eu falava: "Não gosto de correr porque, em vez de correr, eu mais caio".
Hoje estou com 41 kg [1,38 m de altura]. Para a maratona de Paris, em abril de 2004, eu pesei 40 kg. Depois da maratona, você fica um mês parada e já engorda. O técnico não me deixa correr depois da competição. Mas todo dia faço uma caminhada ou um pouquinho de corrida. Agora, preciso tirar esse quilo que está sobrando.
A principal modificação que senti em meu corpo foi a força dos pés. Eu sentia muita fraqueza. Por isso eu tropeçava e caía muito. Mas, como o técnico indicou musculação, fortaleci os pés e não caí mais. Ele me mandou fazer hidro, natação e musculação. Já estou me sentindo bem melhor. Estou em forma.
A natação relaxa o corpo, por isso ela é gostosa. Você esquece aquele cansaço que teve na corrida. A hidro é ainda mais gostosa porque tem a água aquecida.
Hoje eu me sinto outra, totalmente diferente e disposta para tudo. Se alguém me pede alguma coisa, posso estar cansada, mas ajudo. Não precisei ser operada e nem sei mais se tenho amidalite, porque não pego gripe. Corro na chuva ou no sol.
A relação com a minha família também mudou. Meu marido quer saber como foi meu dia. Meus filhos perguntam se corri bem, se não me machuquei. Ficou mais unida a família, e me perguntam: "Será que eu consigo?". E eu digo: "Treinando, vocês vão conseguir".
Minha maior conquista com a corrida foi minha saúde. Por isso falo para todo mundo: "A melhor coisa é não ficar parada. Alguma coisa você tem de fazer, correr ou andar". Meu sonho agora é correr até os 80 anos e meu próximo desafio é a maratona de Barcelona [Espanha], em agosto de 2005. Se eu puder, continuo. Os médicos dizem que não é bom eu correr, mas, para mim, é o contrário. Eu estou melhorando cada vez mais."

Depoimento dado à MARIA FERNANDA GONÇALVES, free-lance para a Folha


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