São Paulo, quinta-feira, 09 de janeiro de 2003
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coluna social

Farmacêutica ensina como curar com plantas

ELKA ANDRELLO - FREE-LANCE PARA A FOLHA

Com plantas e ervas, Terezinha de Jesus, 36, ajuda a colocar em dia a saúde de quem não tem "dindim". "Teca", apelido carinhoso pelo qual é chamada por seus pacientes, é pesquisadora na área de saúde pública, mas os remédios que receita são bem diferentes dos indicados nos hospitais dos grandes centros urbanos. Ela trabalha com plantas medicinais, aliando o conhecimento científico com o conhecimento ancestral dos chamados povos tradicionais da Amazônia, como índios, caboclos e pescadores. Macapaense decidida, desenvolve, além de um serviço de saúde para as populações carentes, um processo de autoconhecimento dentro das próprias comunidades.
   
Há quatro anos, fundou a ONG Projeto Farmácia da Terra, que atua apenas em comunidades rurais do Amapá, em parceria com o Ieta (Instituto de Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado do Amapá). A entidade nasceu da sua profunda crença na fitoterapia, tratamento à base de plantas medicinais. Apesar da formação universitária -é graduada em farmácia pela Universidade Federal do Pará-, Terezinha traz de dentro de sua casa a experiência da terapia com ervas. "Minha mãe teve 12 filhos. Todos, com exceção de um prematuro, nasceram com a ajuda de parteiras, e minha mãe, descendente de índios, preparava os medicamentos. Sempre tivemos pouco contato com médicos", lembra.
   
Com a lição vinda de casa, Terezinha tem a receita na ponta da língua: "Geralmente, uma aspirina é exclusivamente analgésica e serve para combater uma dor, mas dificilmente ela vai curar a causa da dor. Já uma planta contra a gastrite é analgésica, antiinflamatória, cicatrizante, quer dizer, ela tem o conjunto que faz com que a pessoa consiga se curar da doença. E, para completar, os efeitos colaterais do remédio são quase zero".
   
A atuação da ONG nas comunidades carentes não pretende anular o trabalho das parteiras e dos curandeiros, mas integrá-los ao projeto, principalmente acertando a questão da dosagem dos medicamentos. É necessário também entender o linguajar de cada população para poder medicá-los com precisão. "Você chega em uma comunidade e falam que fulana está com uma doença na "mãe do corpo". A pessoa está querendo dizer que está com algum problema no útero, seja uma cólica ou mesmo um mioma", explica.
   
O projeto agita as comunidades com oficinas que duram 20 horas. Ensina-se como cultivar e manejar ervas e plantas e como produzir remédios. "Quando você tira a casca de uma árvore, tem de ter cuidado com a casca e com a árvore. A babosa, por exemplo, é um excelente hidratante, mas a casca tem uma alta taxa de toxinas, tem de ser bem manipulada ao ser extraída", ensina Terezinha.
   
Segundo Terezinha, as plantas podem curar boa parte dos problemas respiratórios, febres, diarréias, doenças de pele, cólicas, pneumonia, pressão arterial descontrolada e infecção renal. Outra grande vantagem da fitoterapia é o custo. As plantas nascem facilmente e podem ser cultivadas até em apartamentos! "Mesmo que se tenha a possibilidade de comprar algum medicamento, se existe uma planta adequada em casa, ela é muito melhor", diz a pesquisadora.


Contatos com o Projeto Farmácia da Terra: Terezinha de Jesus, telefone 0/xx/96/9971-2350 e e-mail tecajesus@uol.com.br


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