São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 2005
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ingrediente

Café pode evitar doenças do coração

Luanda Nera
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"De vilão passou a mocinho. O café vai começar a surpreender", anuncia a nutricionista Rosana Perim Costa, do Hospital do Coração, em São Paulo. Ela está entre os diversos profissionais da área médica que vêm se dedicando a pesquisar os efeitos de uma das bebidas mais populares do mundo na saúde dos consumidores. Com o objetivo de derrubar premissas antigas que já se tornaram mitos, os estudos estão conseguindo provar que o consumo regular e moderado de café pode trazer benefícios.
A presença de substâncias antioxidantes no café, como a cafeína e os polifenóis, evita a formação de radicais livres e, conseqüentemente, o desenvolvimento de doenças coronarianas. Além disso, a cafeína age como estimulante, acelerando o metabolismo e ajudando na queima de calorias. Essas são algumas das conclusões apresentadas por Rosana Costa na dissertação de mestrado defendida na Unifesp. Ela acompanhou, por 18 semanas, 60 pacientes com índices elevados de colesterol e concluiu que a forma como o brasileiro costuma preparar o café -em coador de pano ou em filtro de papel- impede a passagem das gorduras dos grãos. "No café expresso ou no tipo árabe, em que o pó não passa por nenhuma filtragem, há uma pequena passagem de gordura. Mas não são índices significativos", explica a nutricionista.

café sem culpa
Especialista no assunto há mais de 20 anos, o médico Darcy Lima é um dos protagonistas da campanha pelo consumo de café sem culpa. Professor do Instituto de Neurologia da UFRJ, ele fez suas primeiras pesquisas com mais de 100 mil estudantes, em 1989, que mostraram que os jovens que tomavam café diariamente apresentavam menor incidência de depressão, tabagismo, alcoolismo e dependência química.
Alguns anos depois, Lima criou o Institute for Coffee Studies, na Universidade Vanderbit, nos Estados Unidos. E hoje se prepara para inaugurar, ainda no primeiro semestre deste ano, a unidade Café e Coração, no Instituto do Coração, em São Paulo. "Há um grande preconceito contra a bebida. Já conseguimos provar que o café previne câncer de cólon e de fígado, mal de Parkinson e diabetes, além de tratar a enxaqueca. Isso sem falar que estimula a memória e a concentração, melhorando a atividade intelectual em adultos e crianças", diz. O médico neurologista explica que as propriedades terapêuticas do café estão na sua própria composição, depois de torrado e moído, que vai além da substância que deu origem ao nome do grão: "A quantidade de cafeína varia entre 1% e 1,5%. O restante são sais minerais, ácidos clorogênicos e quinídeos e niacina (vitamina B3), além de centenas de óleos voláteis responsáveis pelo aroma e pelo sabor, característicos de cada região produtora".
Mas o médico avisa que o café é bebida diurna e que o consumo diário não deve ultrapassar cinco xícaras pequenas. A exceção são as pessoas que sofrem de insônia, gastrite ou úlcera. Nesses casos, um médico deve ser consultado. Fazer do consumo de café um hábito saudável não é o único movimento a favor da bebida. A diversidade de grãos e de processos de torra e moagem sofisticou a prática do tão popular cafezinho. A demanda por profissionais especializados no assunto -os baristas- cresce significativamente, segundo a Abic (Associação Brasileira da Indústria do Café). A entidade iniciou um trabalho para qualificar o grão e o pó vendidos no mercado brasileiro. Quase 500 marcas serão testadas e receberão um selo de qualidade. "Em breve, o café será tão glamouroso quanto o vinho. O consumidor poderá saber, por exemplo, qual é o mais indicado para cada tipo de comida", prevê a nutricionista da Abic, Mônica Pinto.


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