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São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003
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foco nela

Mãe usa alimentação na luta pela vida da filha

KÁTIA FERRAZ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Marcelo Barabani/Folha Imagem
A jornalista e escritora Nana Guimarães



"Passei a me questionar sobre tudo o que vivi nos hospitais, vendo que, muitas vezes, os médicos podem colocar a vida do paciente em risco por mero desconhecimento de situações especiais"


No auge de sua carreira, a jornalista Nana Guimarães, 40, foi surpreendida por um parto complicado. Sua filha Juliana, 5, nasceu com sérios problemas cerebrais e pulmonares, decorrentes de uma infecção por citomegalovírus. Quase desenganada pelos médicos, a criança não parecia ter um futuro muito promissor.
Disposta a desafiar esse prognóstico, Guimarães decidiu lutar contra as deficiências do sistema de saúde e, sozinha, iniciou uma grande pesquisa sobre a importância dos alimentos. O resultado pode ser comprovado pelo fim das internações constantes de sua filha, o que deixou pasmos os mesmos médicos que haviam condenado a criança.
Animada, Guimarães escreveu um livro para compartilhar a experiência positiva com outras mães: o "Guia de Alimentação Infantil - Com Dicas de Cuidados para Crianças Especiais" (304 págs., R$ 38, ed. Ground, tel. 0/xx/11/5031-1500). Leia trechos da entrevista abaixo.

Folha - Você sempre se preocupou com a alimentação?
Nana Guimarães -
Muito pelo contrário, era completamente desligada desse assunto. Talvez o instinto materno tenha gerado meu interesse. Minha filha nasceu com complicações de saúde muito sérias, advindas de uma infecção por citomegalovírus. Contraí uma gripe durante a gravidez, e o vírus se instalou no bebê, comprometendo o cérebro e os pulmões, que não chegaram a se formar totalmente. Como consequência, ela passou os primeiros sete meses de vida na UTI. Os sintomas eram um círculo vicioso: tossia, vomitava... Então comecei a desconfiar de alguns sintomas.

Folha - Como assim?
Guimarães -
Passei a me dedicar integralmente à Juliana e a observar todas as suas reações, até mesmo aquelas chamadas imperceptíveis. Fui a fundo na pesquisa sobre alimentação, iniciando pelo leite. Achei que tinha algo errado, porque, toda vez que os sintomas começavam, ela tinha ingerido leite em pó -ela não podia tomar o meu leite. O que descobri é que a maioria dos médicos brasileiros desconhecem um problema bem comum, a intolerância à lactose. Em sua ignorância, dizem que o leite é a única fonte de cálcio. Existem estudos que apontam que cerca de dois terços da população têm intolerância à lactose. Nas salas e nos quartos de hospital, descobri que a maioria das crianças têm refluxo. As mães não sabem o que fazer, e o problema pode ser o leite.

Folha - Como os médicos reagiam quando você falava sobre isso?
Guimarães -
Chegaram até a me chamar de ignorante, mas depois viram os resultados. À medida que ia modificando a alimentação da Juliana, introduzindo outros leites, como o de arroz e o de soja, e outros tipos de alimento ricos em cálcio, como o mamão, a melhora era nítida.

Folha - Algum exemplo concreto?
Guimarães -
O da canja de galinha, tão recomendada pelas nossas avós. Eu tinha uma lista de uns 12 remédios, com grandes efeitos colaterais, que eu deveria administrar para a minha filha. Devido a essa grande quantidade de medicação, ela chegava ao hospital com o pulmão cheio, tinha de aspirar a secreção, usava uma sonda muito invasiva. Então passei a fazer uma canja baseada numa antiga receita com a gordura do frango. Corta-se o pé e usa-se aquela substância que fica entre os dedinhos. Li que os japoneses a usam constantemente e chegam até a importar pés de galinha daqui. Quando passei a incluir a canja em sua alimentação, cessaram todos os sintomas, os pulmões passaram a respirar livremente. A partir daí, tendo pedaços de frango como base, passei a fazer canja com arroz integral, couve, cebolinha... Finalmente descobri seus problemas reais, mascarados por outros sintomas: adenóide inflamada por alergia ao leite, ao ar frio e à poeira.

Folha - E as internações pararam?
Guimarães -
Aos dois anos, o que segurou a vida dela foram os alimentos, a introdução de uma alimentação saudável, variada, com muitas frutas, muitos legumes e muitas fibras. Hoje, até mesmo os pulmões da Juliana são normais.

Folha - Por que você resolveu escrever o livro?
Guimarães -
Com o fim das internações constantes, passei a me questionar sobre tudo o que vivi nos hospitais, vendo que, muitas vezes, os médicos podem colocar a vida do paciente em risco por mero desconhecimento de situações especiais. Falta pesquisa no Brasil. Houve um pediatra que insistiu para que eu colocasse uma espécie de sonda permanente, uma intervenção chamada de gastrostomia, que, para ele, era um procedimento simples. Mas eu resolvi com a alimentação.

Folha - E o que dizem esses mesmos médicos hoje?
Guimarães -
Encontrei muita resistência no início, mas depois eles começaram a falar comigo de uma forma diferente. Hoje, muitos médicos que não acompanharam o caso na época acham que a Juliana tem uma saúde de ferro, dentro dos seus limites.

Folha - Para você, o que mudou com essa experiência?
Guimarães -
Eu também mudei a minha alimentação. Até a minha TPM (tensão pré-menstrual) acabou. Agora, estou escrevendo um livro com dicas de alimentação para as mulheres que sofrem desse mal. Também pretendo fazer especialização em saúde da mulher. Acho que descobri um caminho novo, motivada pela grande força de vida da minha filha.


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