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ROSELY SAYÃO
Tragédias na mídia
Nas últimas semanas,
temos sido bombardeados, por todas as
mídias, por notícias
que revelam violências contra
crianças praticadas possivelmente por adultos próximos a
elas. É uma criança torturada
aqui, outra ali, outra que morre
lá e assim por diante. E não podemos esquecer que as crianças, hoje, têm acesso a todos os
veículos de comunicação e recebem essas informações.
Que sentidos elas dão a esses
fatos? Tomemos dois exemplos
que chegaram a mim. Uma
criança, de oito anos, perguntou à mãe se o pai poderia matá-la quando ficasse muito bravo. Outra, um pouco mais nova,
perguntou se iria ficar de mãos
amarradas quando fosse ao castigo. Certamente, muitos leitores devem ter passado por experiências semelhantes com
seus filhos e seus alunos.
As crianças estão angustiadas com tais notícias porque
identificam nelas que os adultos próximos, ao invés de de
protetores, podem ser ameaçadores. Justamente aqueles em
quem elas depositam a maior
confiança se revelam, nas notícias, suspeitos de agir de modo
contrário. E agora?
Agora, mais uma parte da infância de nossas crianças fica
comprometida, fato cada vez
mais banal. Mas será que não se
pode fazer nada? Sim, podemos
e devemos fazer algo por elas,
que, sozinhas, não conseguem
entender e expressar toda a angústia que as invade.
A maioria das escolas costuma ignorar o fato de que seus
alunos sabem dessas notícias e
continuam seus trabalhos como se nada de excepcional
ocorresse. Pois todas elas têm
recursos para, de alguma maneira, tratar dessas questões. É
um bom momento, por exemplo, para oferecer aos alunos,
nas aulas de expressão artística, estratégias para dar forma
ao que eles imaginam, sentem e
pensam sobre tais fatos.
O simples fato de colocar de
modo simbólico sentimentos e
angústias já aponta pistas sobre
outras formas de trabalhar o tema. Depois, é importante que
se fale a respeito, sem psicologismos nem interpretações leigas, para que, coletivamente,
eles se sintam acolhidos em
suas preocupações e aprendam
sobre os direitos das crianças e
dos adolescentes e os valores
sociais da justiça e da responsabilidade com o bem comum.
Para os pais, esse é um bom
momento para oferecer aos filhos mais segurança em relação
aos vínculos familiares e dar
maior relevância aos valores
morais e éticos. É muito importante, por exemplo, afirmar que
a família ama e respeita a vida,
que nenhuma violência deve
ser aceita pelos integrantes do
grupo familiar, que casos como
os noticiados são exceções
-apesar de tanto alarde-, que
os impulsos agressivos podem
ser controlados e, também, estabelecer um diálogo a respeito
das opiniões dos pais e dos filhos sobre esses fatos.
Todas as tragédias servem
para nos fazer refletir sobre a
humanidade e o nosso cotidiano. Por isso, é importante que
os adultos pensem a respeito
das pequenas violências, simbólicas ou reais, que o mundo
adulto comete contra os mais
novos. Afinal: nossas posições
demonstram que somos a fim
deles ou que estamos mais para
ser o fim deles?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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