São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2007 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crianças Quando as letras se embaralham Mesmo atingindo muitas pessoas desde a infância, a dislexia continua sendo um distúrbio desconhecido para muitos pais e professores
FLÁVIA PEGORIN
A chegada das crianças à idade escolar é sempre uma comemoração em família. Mas um distúrbio que chega a atingir 15% da população mundial pode complicar a nova fase. A dislexia, infelizmente, costuma ser detectada apenas com o início da alfabetização. Por muito tempo, inclusive, essa deficiência foi confundida com desmotivação ou inteligência baixa. Tratavam-se crianças e jovens como burros, quando na verdade eles apenas processavam as informações de maneira diferente no cérebro -a causa da dislexia.
O cérebro de uma pessoa disléxica é idêntico ao de outra sem o distúrbio. A diferença está nas conexões. A dislexia, que já se sabe surgir por forma hereditária, mesmo que vinda de um parente distante, "embaralha" as ligações cerebrais principalmente nas regiões responsáveis por controlar a leitura, a escrita e o poder de soletrar. Com essa área "desorganizada", a criança começa a demonstrar dificuldades já na pré-escola.
A maioria dos tratamentos para dislexia enfatiza a assimilação de fonemas, o desenvolvimento do vocabulário, a melhoria da compreensão e a fluência na leitura. Esses métodos ajudam o disléxico a reconhecer sons, sílabas, palavras e frases -pois, para eles, cada termo lido acaba se parecendo com uma "nova palavra". É aconselhável que a criança disléxica leia bastante em voz alta para que possa ser corrigida no ato. Alguns estudos sugerem que um tratamento adequado e ministrado bem cedo pode corrigir as falhas nas cone-xões cerebrais a ponto de elas se tornarem mínimas -isso no caso de dislexia leve, mas, mesmo para portadores de grau médio ou severo, um tratamento direcionado pode diminuir os sintomas. Como os disléxicos costumam ser muito inteligentes, tendem a ativar outras áreas do cérebro para compensar suas perdas de memória e concentração. Muitos especialistas sugerem, inclusive, que pessoas disléxicas, por serem força-das a pensar e aprender de forma diferente, se tornam mais criativas e têm idéias inovadoras que superam as de não-disléxicos. Pode não ser determinante, mas vale lembrar que algumas personalidades que se tornaram célebres também eram portadoras desse distúrbio, entre elas o desenhista Walt Disney, a escritora Agatha Christie, o inventor Thomas Edison e o ator Tom Cruise (que diz ter sofrido muito no início da carreira para memorizar seus roteiros). Mesmo que a dislexia não seja curada, conviver com ela é necessário. Os portadores têm, inclusive, direitos assegurados por lei. Crianças com dislexia podem, por exemplo, pedir para refazer provas orais, ter uma hora a mais nas provas escritas e usar livremente uma calculadora. Giovana, muito discreta, prefere usar um lápis com a tabuada impressa. Ela teme ser tachada pejorativamente, como se tivesse uma doença contagiosa. Apenas quando conhece melhor a pessoa ela vence o cuidado de disfarçar a dislexia, o transtorno tão comum e tão desconhecido. Texto Anterior: Costelinha com ora-pro-nóbis Próximo Texto: Para detectar a dislexia é preciso observar Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |