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Rosely Sayão
Tempo e falta de tempo
Cada vez mais ouço
pessoas reclamarem
do tempo ou da falta
de tempo para conseguir dar conta de todas as responsabilidades e realizar as aspirações diárias e projetadas
para curto e médio prazos. Parecemos os coelhos brancos do
país de Alice, sempre atrasados
e a dizer "É tarde, é tarde!". Talvez não seja o tempo. Pode ser
excesso de atividades distribuídas no tempo disponível, por
exemplo. Queremos fazer de
tudo e não nos contentamos
mais em fazer um pouco de tudo: queremos muito de tudo.
Trabalho, por exemplo, não
ocorre mais só no local de trabalho. Não há mais horário de
trabalho, principalmente com
o advento do telefone celular.
Qualquer hora é hora para resolver algo, responder a uma
dúvida, fazer uma indagação,
gravar um memorando, marcar
uma reunião, ter uma idéia,
checar a correspondência eletrônica profissional. Parece
mesmo que tudo é urgente.
Aliás, a expressão "é para ontem" é cada vez mais usada no
campo profissional. Ironia que
aponta o paradoxo que vivemos
em relação ao tempo: afinal, o
que era para ontem já está atrasado ou não pode mais ser realizado, não é?
Do mesmo modo, as relações
familiares, principalmente a
com os filhos, não ocorrem
apenas no lar ou quando pais
estão reunidos com os rebentos: o mesmo telefone móvel leva os filhos com os pais a todos
os lugares e, assim, todo o tempo fica dividido com eles. Nas
casas de espetáculos, por exemplo, todos ouvem um aviso para
que desliguem o celular. Muitos optam por deixá-lo no modo silencioso: assim não perturbam o ambiente, mas, ao
mesmo tempo, não perdem um
chamado que, garantem os que
são pais, pode ser dos filhos. Isso sem falar das constantes ligações dos filhos quando os
pais estão no trabalho.
Talvez não seja o tempo escasso nosso problema, mas a
dificuldade de administrá-lo.
Não tem sido fácil, por exemplo, diferenciar o que é urgente
do que é importante, tanto na
vida profissional quanto na
pessoal. E tem mais: não raramente desconhecemos o nosso
próprio ritmo. E quem não tem
intimidade com seu ritmo na
vida aceita assumir mais -ou
menos- coisas do que poderia
realizar num determinado espaço de tempo. E será que temos colaborado para que os
mais novos aprendam a conhecer o seu ritmo e a administrar
o seu tempo?
Pelo jeito, a resposta é um sonoro e forte não! Na escola, por
exemplo, os alunos aprendem
muito pouco a esse respeito.
Eles devem fazer suas atividades e aprender no tempo determinado pelo modo de funcionamento da escola, pela duração das aulas ou pelo comando
do professor. Em geral, os alunos saem da escola -inclusive a
de terceiro grau- sem saber
efetivamente avaliar o tempo
que precisam para realizar bem
um projeto.
De modo similar, os pais costumam impor aos filhos a sua
própria noção de ritmo para
usar o tempo disponível. Desse
modo, muitos filhos são caracterizados como rápidos ou lerdos de acordo com a velocidade
dos pais para comer, para falar,
para tomar banho etc. Ajudar o
filho a aprender a administrar
seu tempo não é cobrar que façam as coisas mais rapidamente e sim exigir que realizem as
obrigações do dia sem ficar sem
tempo para se dedicar ao que
gostam e querem fazer. Agora,
lotar o tempo dos filhos com
atividades é uma péssima maneira de ajudá-los a se apropriarem de seu tempo e de seu
ritmo.
Pais e escolas têm imposto o
uso de agenda como estratégia
para ensinar aos mais novos a
administração do tempo. Ora,
esse recurso só funciona para
quem já aprendeu a se organizar no tempo por conhecer
bem seu ritmo e ser capaz de
distinguir prioridades, o que
não é o caso crianças e adolescentes e, muitas vezes, nem de
adultos, não é verdade?
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