São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2011
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'Império do bebê afasta mulheres da maternidade'

DE SÃO PAULO

Apesar da queda nas taxas de fecundidade, a maternidade nunca esteve tão valorizada, afirma a filósofa francesa Elisabeth Badinter, 67.
No livro "O Conflito", que acaba de ser lançado no Brasil, ela mostra como as mães voltaram a ser submetidas ao "império do bebê".
Elas devem amamentar ""sob a pena de serem culpadas pela doença do filho"", lavar fraldas para não agredir o meio ambiente e fazer papinhas sem conservantes.
À Folha a filósofa fala como a tirania da supermãe pode espantar as mulheres.

 

Folha - Não ter filhos é uma escolha individualista?
Elisabeth Badinter -
Não. É mais um sentimento de responsabilidade enorme que implica sacrifícios. Há uma espécie de ideologia da boa mãe que tem que dar tudo ao seu filho ""seu tempo, seu leite e sua energia. A mulher pensa: "Se for para ser uma boa mãe, devo sacrificar minhas ambições. Como não sou capaz de fazer isso, prefiro não ter filhos".

Ser mãe pode ser considerado uma irresponsabilidade?
A sociedade interroga a mulher que não quer ter filhos, mas não faz o mesmo com as mulheres que os têm sem pensar e medir as consequências. Elas têm filhos da mesma forma que temos vontade de comer um bombom. Elas são irresponsáveis ou perversas. Não há nenhuma objeção da sociedade, porque ter filhos é natural.

As que decidem ter filhos pensam em parar de trabalhar?
Estamos em crise econômica na França. O trabalho é duro e há diferenças salariais entre mulheres e homens. Muitas mulheres pensam: "Vou dedicar dois ou três anos da minha vida para ser uma boa mãe e ter um filho inteligente, bem nutrido, feliz, equilibrado". É um objetivo nobre. Esse é um novo movimento que vemos no mundo, e vem do fato de que vivemos numa economia muito cruel.

O que se pode esperar da geração que hoje tem 25, 30 anos?
Elas tiveram mães feministas e dizem, como eu dizia: "Não serei como a minha mãe". Na minha época, isso queria dizer trabalhar e não viver do salário do marido. Hoje, as jovens pensam que suas mães queriam tudo ""trabalho, independência, filhos e marido"" e, no fim das contas, o pai delas trocou a mãe por uma mulher mais jovem, ela tem dupla jornada e está sempre estressada.

Valorizar a maternidade cada vez mais é uma tendência?
É difícil prever. Há movimentos nos países desenvolvidos para colocar novamente a maternidade no centro da vida feminina, mas há movimentos de mulheres que decidem não ter filhos, em países como Japão, Alemanha, Itália e Espanha. Isso porque a obrigação de ser uma boa mãe está cada vez mais presente.

Colaboraram MARIANA VERSOLATO e SIMON DUCROQUET

O CONFLITO
AUTORA Elisabeth Badinter
EDITORA Record
PREÇO R$ 39,90, 224 págs.


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