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s.o.s. família
rosely sayão
Atitude de filho é uma na escola e outra em casa
Os filhos se comportam na escola da mesma maneira como em casa? Em um dos
textos publicados aqui sobre a relação entre
família e escola, apontei algumas diferenças
entre filho e aluno. Agora uma leitora pede a
a volta desse assunto. O filho dela -de quase
nove anos- é, em casa, "um amor de criança". A maior parte do tempo obedece, tem
boas maneiras, não fala palavrões cabeludos e
é respeitoso com os adultos. Ela tem uma única queixa importante: o garoto não leva o estudo com seriedade.
Foi por essa razão que a mãe estabeleceu
uma relação de grande proximidade com a escola. Ela busca conhecer melhor a vida escolar
do filho para saber como proceder em casa, visando a um melhor aproveitamento nos estudos. Nesses contatos com a escola, ela ficou sabendo que lá o filho é bem diferente. Está sempre envolvido nas confusões de sua classe, é
desorganizado e desatencioso com seu material e pouco educado com a professora e com
os colegas. Aliás, ao manifestar à professora
sua perplexidade em relação a esse comportamento, ela ouviu uma frase que a incomodou
bastante: "Seu filho é uma brasa encoberta".
Foi assim que ela se lembrou do assunto discutido anteriormente aqui.
O filho dessa leitora é educado em casa de
acordo, principalmente, com os afetos familiares. Assim, desde pequeno ele aprende a fazer ou a não fazer determinadas coisas, a obedecer ou a arriscar por puro receio de perder o
amor dos pais e/ou com o intuito de agradar-lhes e de testar o amor do qual é alvo.
Muitos pais não se dão conta da maneira como encaram -e, portanto, autorizam- as
travessuras e as pequenas desobediências do
filho ainda pequeno. "Desse tamanho e já sabe
o que quer, ele batalha para conseguir seu objetivo com toda a energia que tem!" Esse é um
comentário comum de mães a respeito da birra do filho. É feito com um orgulho incontido,
que não passa despercebido pela criança. Dessa maneira, muito freqüentemente, os pais
apóiam atitudes dos filhos que deveriam ser
reprimidas.
Além disso, há o sonho dos pais em relação
aos filhos e também a "antena" que toda
criança possui. Sempre direcionada para os
pais, ela capta boa parte dos anseios deles em
relação ao seu modo de ser. Assim suas atitudes e seus comportamentos são fortemente
influenciados também por essa referência.
Na escola, o filho se liberta de toda essa pressão. Lá, ele se permite ser desobrigado de obedecer às regras que aprendeu em casa. Se os
pais não o vêem, ele pode fazer o que quer, já
que, em casa, ele não faz porque os pais não
aprovariam. Essa é a lógica que rege a diferença de comportamento de muitas crianças chamadas de "brasa encoberta".
O que o aluno não sabe, mas aprenderá na
escola, é que existem regras que administram
a convivência de tanta gente diferente que se
encontra no espaço público. Essa é uma das
funções da escola, por sinal.
Pela idade do filho da leitora, ele deve estar
na terceira série do ensino fundamental. É justamente nesse período que os professores começam a enfrentar a chamada "indisciplina"
de modo mais sistemático. É que boa parte
dos alunos demora mais ou menos uns dois
anos para se apropriar do espaço escolar e, só
então, sentir-se à vontade para explorar o ambiente e checar até onde podem ir.
Já outros, mais ousados e corajosos, fazem
isso desde a primeira série. Isso sem esquecer
que, na escola, o aluno é parte de um grupo, é
mais um em meio a tantos. Aí reside a importância do trabalho dos professores e do projeto da escola.
Portanto os pais e os professores não devem
estranhar atitudes diversas da criança quando
está em casa e quando está na escola. Isso é
muito salutar. O que não é saudável é a criança
ter sempre o mesmo comportamento em todas as situações que vive, em todos os papéis
sociais que exerce. Por acaso algum pai ou
professor vive desse modo?
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre
outros; e-mail: roselys@uol.com.br
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