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ROSELY SAYÃO
Pais X escola
Nada melhor do que os
pais aproveitarem as
férias para pensar
um pouco a respeito
de como se relacionam com a
escola. Afinal, esse distanciamento permite pensar com
menos paixão em questões importantes dessa relação que,
costumam dizem, é crucial para a educação dos filhos. Tanto
é assim que esse relacionamento tem sido chamado de parceria por pais e mestres.
Por enquanto, tal designação
soa mais como anseio, já que a
realidade se mostra bem diferente. Há mais rivalidade e desconfiança entre pais e mestres
do que associação. E, para pensar num dos aspectos desse assunto, tomo um exemplo, que
deve ser muito parecido com
centenas de outros que ocorrem aqui e acolá.
A porta de um banheiro feminino de uma escola apareceu
toda rabiscada com textos pejorativos a respeito de uma aluna
que foi claramente identificada
nas frases. A escola, por meio
de seus representantes, conversou com a classe envolvida e
decidiu que todas as meninas
da sala participariam de um
mutirão para limpar a porta.
Abro neste momento um parêntese: não sei se os pais sabem, mas muitos alunos costumam ter atitudes extremamente nojentas -para não usar outros adjetivos- quando usam
os banheiros das escolas. Os
funcionários precisam, muitas
vezes, sujeitar-se a situações
humilhantes para colocar o local em condição de uso.
Cito alguns exemplos, que
ouvi tanto de alunos quanto de
funcionários e que ocorrem
igualmente nos banheiros femininos e masculinos: latinhas
de refrigerantes cheias de fezes
jogadas dentro das privadas, fezes e urina sobre a tampa da
privada abaixada (!), papel higiênico molhado com água ou
urina jogado no teto e nas janelas, privadas entupidas com os
mais variados objetos etc. Certamente, essas crianças e esses
jovens não fazem isso em casa,
sabem usar corretamente um
banheiro, mas não se sentem
no dever de aplicar o que sabem
quando estão num espaço público. Por que será?
Voltemos ao exemplo ocorrido. Nele, a atitude que a escola
tomou pode ser considerada
adequada: não cabe a ela o papel de investigar os culpados
por esta ou aquela transgressão, e sim o de ensinar aos alunos que o espaço de todos é responsabilidade de todos, que a
vida em grupo exige dedicação
e esforço e, principalmente,
que, quando um dos integrantes do grupo erra, outros precisam tentar cobrir sua falha.
As alunas realizaram a tarefa,
mas uma das mães ficou indignada porque não aceitou o fato
de a filha, que se declarara inocente no ocorrido, ter participado da limpeza. E, para mostrar sua indignação, fez o registro da ocorrência contra a escola em uma delegacia de polícia.
Quando chegamos ao ponto
em que pais procuram a polícia
para mediar sua relação com a
escola -e essa atitude tem ganhado adeptos a cada mês- é
sinal de que a situação atingiu
um patamar lamentável.
A relação entre pais e escola é
quase sempre tensa, principalmente porque os primeiros
consideram o filho um ser único e a segunda o considera um
aluno entre tantos outros. Nos
tempos atuais, isso é sinônimo
de conflito que poderia ser dialogado, explicitado, explicado.
O problema é que o confronto e
o embate têm sido as estratégias preferidas por muitos pais
e por muitas escolas.
Isso não pode dar certo, já
que a educação familiar e a escolar são complementares na
formação dos mais novos. Talvez seja interessante que grupos de pais de cada comunidade escolar se formem para
acompanhar, mediar e conciliar os conflitos que surgem entre os interesses dos pais e os da
escola na busca de preservar os
princípios da boa educação.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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