São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2008
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ROSELY SAYÃO

Pais X escola

Nada melhor do que os pais aproveitarem as férias para pensar um pouco a respeito de como se relacionam com a escola. Afinal, esse distanciamento permite pensar com menos paixão em questões importantes dessa relação que, costumam dizem, é crucial para a educação dos filhos. Tanto é assim que esse relacionamento tem sido chamado de parceria por pais e mestres.
Por enquanto, tal designação soa mais como anseio, já que a realidade se mostra bem diferente. Há mais rivalidade e desconfiança entre pais e mestres do que associação. E, para pensar num dos aspectos desse assunto, tomo um exemplo, que deve ser muito parecido com centenas de outros que ocorrem aqui e acolá.
A porta de um banheiro feminino de uma escola apareceu toda rabiscada com textos pejorativos a respeito de uma aluna que foi claramente identificada nas frases. A escola, por meio de seus representantes, conversou com a classe envolvida e decidiu que todas as meninas da sala participariam de um mutirão para limpar a porta.
Abro neste momento um parêntese: não sei se os pais sabem, mas muitos alunos costumam ter atitudes extremamente nojentas -para não usar outros adjetivos- quando usam os banheiros das escolas. Os funcionários precisam, muitas vezes, sujeitar-se a situações humilhantes para colocar o local em condição de uso.
Cito alguns exemplos, que ouvi tanto de alunos quanto de funcionários e que ocorrem igualmente nos banheiros femininos e masculinos: latinhas de refrigerantes cheias de fezes jogadas dentro das privadas, fezes e urina sobre a tampa da privada abaixada (!), papel higiênico molhado com água ou urina jogado no teto e nas janelas, privadas entupidas com os mais variados objetos etc. Certamente, essas crianças e esses jovens não fazem isso em casa, sabem usar corretamente um banheiro, mas não se sentem no dever de aplicar o que sabem quando estão num espaço público. Por que será?
Voltemos ao exemplo ocorrido. Nele, a atitude que a escola tomou pode ser considerada adequada: não cabe a ela o papel de investigar os culpados por esta ou aquela transgressão, e sim o de ensinar aos alunos que o espaço de todos é responsabilidade de todos, que a vida em grupo exige dedicação e esforço e, principalmente, que, quando um dos integrantes do grupo erra, outros precisam tentar cobrir sua falha.
As alunas realizaram a tarefa, mas uma das mães ficou indignada porque não aceitou o fato de a filha, que se declarara inocente no ocorrido, ter participado da limpeza. E, para mostrar sua indignação, fez o registro da ocorrência contra a escola em uma delegacia de polícia.
Quando chegamos ao ponto em que pais procuram a polícia para mediar sua relação com a escola -e essa atitude tem ganhado adeptos a cada mês- é sinal de que a situação atingiu um patamar lamentável.
A relação entre pais e escola é quase sempre tensa, principalmente porque os primeiros consideram o filho um ser único e a segunda o considera um aluno entre tantos outros. Nos tempos atuais, isso é sinônimo de conflito que poderia ser dialogado, explicitado, explicado.
O problema é que o confronto e o embate têm sido as estratégias preferidas por muitos pais e por muitas escolas.
Isso não pode dar certo, já que a educação familiar e a escolar são complementares na formação dos mais novos. Talvez seja interessante que grupos de pais de cada comunidade escolar se formem para acompanhar, mediar e conciliar os conflitos que surgem entre os interesses dos pais e os da escola na busca de preservar os princípios da boa educação.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

roselysayao@folhasp.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



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