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OUTRAS IDEIAS
ANNA VERONICA MAUTNER - amautner@uol.com.br
Espaços públicos e identidade
A PRAÇA, A FEIRA, o mercado, formações urbanas espontâneas que parecem atender uma necessidade humana de aproximação pacífica.
Nas metrópoles, questões
como distância e segurança
vêm impedindo este conviver.
Uma pena, pois desde a
antiguidade temos notícias
da sua existência. É onde encontramos igualdade temporária e fraternidade, com harmonia na diversidade.
É com o rabo dos olhos que
se olha na praça a mulher que
passa. E ela sente o tempo
que passa sem que seu preferido -o moço da barraca-
perceba seu aguardo.
Uns e outros vêm à praça à
toa, talvez porque em casa é
dia de faxina. Crianças de
mãos dadas se olham e entreolham e adultos também.
Uns aproveitam o sol, outros
a sombra. Não é preciso pedir
licença para estar aí.
As feiras, os campinhos
são terra de ninguém. Num
canto podem se juntar os numismatas, logo adiante alguns artistas que arriscam expor suas obras. Adiante, meninos vendem doces. Na terra
de ninguém, todos são donos.
À primeira vista, São Paulo
parece ter poucos espaços
públicos! Pobres de nós que
não temos onde nos irmanar
na diversidade. Nem isto é totalmente verdade.
Restam lugares que não
saltam à vista, como as bibliotecas públicas, o Réveillon na Paulista, a Parada
Gay, festas novas que vêm
para ficar e velhas que continuam. Quermesses estão
acabando? Não. Elas não somem, só deixam de ser importantes no calendário.
Existem as feiras anuais e
as semanais, como a Benedito Calixto, a Dom Orione, a do
Masp, da Liberdade e a centralíssima da praça da República, talvez a mais antiga de
todas. Guardados na memória estão passeios que fizemos por aí quando criança.
Espaços informais públicos são parte da identidade
de cada um. Os diferentes se
encontram e podem se sentir
parte do todo. Do encontro de
tantos diferentes surge o sentimento de pertencer.
É preciso frequentá-los, levar as crianças e os jovens
para evitar a tribalização excessiva. Tudo isso só para
que possamos nos sentir em
casa, em nossa urbe.
Numa observação informal descobri que São Paulo
do centro e dos parques é
desconhecido de grande parte dos jovens. Que pena! As
escolas tentam uma nova
abordagem a que chamam
de estudo do meio.
Tentativa nobre! Um pulo
à feirinha da Liberdade aos
domingos, à praça da República pode ser "uma viagem"
como dizem os jovens. Viagem ao pertencimento, à
paulistinidade.
ANNA VERONICA MAUTNER , psicanalista
da Sociedade Brasileira de Psicanálise de
São Paulo, é autora de "Cotidiano nas
Entrelinhas" (ed. Ágora)
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