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A tataravó das massagens
Terapia mais remota da tradicional medicina chinesa, a vigorosa tui-na ('empurra' e 'puxa') é boa para quando o corpo pede revisão completa, combustível extra, funilaria e pintura
Leticia Moreira/Folhapress
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A massageminclui 37 tipos de manobra, algumas bem fortes e rápidas: certos pontos podem ficar doloridos por uns dias
MARCOS DÁVILA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No dia em que recebi o
convite para fazer uma reportagem sobre a massagem milenar chinesa tui-na, fui acometido por uma dor nas costas. Foi um desses episódios
tragicômicos que acontecem
na vida dos sedentários: travei as costas ao espirrar.
Fiquei um pouco mais
tranquilo depois de marcar a
sessão para o dia seguinte.
Só um pouco. As informações que tinha levavam a crer
que a massagem era mais dolorida que shiatsu.
No dia, fui atendido pela
fisioterapeuta Nana Liu, 36,
na Associação Tai Chi Pai
Lin, na Vila Madalena. Tive
sorte: Nana é neta do mestre
taoista Liu Pai Lin, um dos introdutores do tai chi no Brasil, com o qual ela aprendeu
a fazer tui-na aos 12 anos.
Já na sala de massagem,
Liu disse que ali funcionava
uma oficina mecânica. Não
há vestígios, o espaço foi reformado e ganhou arquitetura funcional. Agora consertam gente.
Aparentemente, o
defeito na minha lataria não
era grave, era reflexo de um
excesso de esforço físico nos
últimos dias, segundo ela.
Deitei de bruços numa cama alta e ela começou esfregando minhas costas com as
palmas das mãos em movimentos circulares leves. O
que parecia uma carícia logo
ganhou velocidade e pressão, como se suas mãos fossem enceradeiras. Lembrei
da oficina mecânica. O vigor
e a rapidez das manobras são
impressionantes.
O vocábulo tui-na significa
"empurrar" (tui) e "puxar"
(na). São os movimentos básicos da massagem, que conta com 37 tipos de manobras.
Poderiam acrescentar ao nome: beliscar, pressionar,
amassar, cutucar, torcer e
por aí vai. É difícil descrever
todos os movimentos que se
alternam com rapidez.
Curiosamente, o lugar
mais sensível não foi a parte
dolorida das costas, mas os
músculos na base do pescoço. Ali, pressões com as pontas dos dedos me fizeram
acreditar naqueles filmes de
kung fu em que o mocinho
faz o bandido desmaiar com
apenas um dedo.
Quando as mãos chegaram à lateral das minhas costelas, deu muita vontade de
rir. Liu também usava os braços e cotovelos. Em uma das
manobras, seu braço parecia
um rolo de macarrão deslizando sobre as panturrilhas.
Os braços firmes de Liu finalmente pararam alguns segundos. Com uma mão sobre
a outra, ela fazia uma pressão quente e gostosa na base
da minha coluna. Virei com a
barriga para cima, e a terapeuta atacou meus pés.
Nessa virada, me dei conta
de que a coriza que às vezes
me ataca de manhã tinha
passado. Meu nariz destapou
e experimentei uma sensação boa de relaxamento.
Um dos pontos que ela tocou entre os dedos do meu pé
esquerdo era bem dolorido
(me arrependi de não ter perguntado que ponto era aquele, pois o tui-na também se
baseia na reflexologia, na
qual existe um ponto nos pés
para cada órgão do corpo).
Ela também massageou a
cabeça e os braços, fez pequenas torções no tórax e
movimentos circulares na
barriga nos sentidos horário
e anti-horário. Suas mãos pararam de novo no meio da
barriga e no centro do peito,
onde a massagem terminou.
Liu me deixou sozinho na
sala, depois de alertar que alguns pontos poderiam ficar
sensíveis nos próximos dois
dias. Não tive vontade de
dormir, o que acontece com
frequência quando recebo
massagem. Pelo contrário,
me sentia disposto e revigorado. A dor havia passado.
"MÃO SABE, MÃO SABE"
Depois de me identificar
como jornalista, fui apresentado ao médico Yau Chong,
52, que também faz massagens e ministra cursos. Com
experiência de 25 anos em
hospitais na China, ele está
há dois anos aqui e fala com
sotaque bem carregado.
Segundo Chong, tui-na é
sinônimo de massagem.
"Não é só pele e relaxar. Tem
músculos, nervos e ossos.
Precisa mão saber (sic)".
Na sequência, ele fez uma
pequena demonstração. Tocou por segundos meus ombros e meu pescoço e disse
que dois ossos da minha coluna vertebral não estavam
bem encaixados.
Pediu para eu relaxar e, segurando minha cabeça, repetiu: "Não medo, não medo" e "mão sabe, mão sabe".
De sopetão, girou minha
cabeça para um dos lados,
torcendo meu pescoço. Ouço
um "clec". Pronto, o osso voltou ao lugar. Felizmente, as
mãos do doutor Yau sabiam.
FOLHA.com
Veja sessão de tui-na
folha.com/mm778830
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