|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ROSELY SAYÃO
Coragem para crescer
Muitas crianças com
menos de seis
anos vão à escola
pela primeira vez
neste início de ano e, em muitos casos, sofrem mais os pais
do que elas. Nessa idade, ficar
sem a mãe e fora de sua casa
-ambiente acolhedor que
transmite segurança- é difícil,
por isso tantas choram nos primeiros dias. O chamado período de adaptação permite que a
criança se acomode mais facilmente à sua nova realidade.
Para muitos pais, o processo
pode ser difícil porque, além de
suportarem a dor da separação,
ainda têm de aguentar sem esmorecer o choro e os gritos do
filho, que implora para não ser
"abandonado". Como os pais
sabem que criança precisa de
outras crianças para crescer
bem, a maioria deles consegue
resistir e logo tudo fica bem para todos. Mas hoje nossa conversa é a respeito da adaptação
de pais de crianças maiores,
que já estão nos anos iniciais do
ciclo fundamental.
Entre cinco e sete anos, mais
ou menos, as crianças passam
por um período crítico na vida.
Elas precisam deixar o mundo
mágico, fantástico e lúdico da
primeira infância porque precisam crescer, em todos os sentidos. Deixam de acreditar nas
fantasias da primeira infância
(Papai Noel, fada dos dentes e
similares) e se encontram com
a necessidade de aprender os
códigos do mundo adulto. É hora de começar a trabalhar com
letras, números e problemas.
O período é crítico porque é
complexo para a criança deixar
uma fase que esbanja segurança e estabilidade e iniciar um ciclo desconhecido. Essa passagem gera insegurança, desequilíbrio e ansiedade principalmente porque ela percebe que
crescer significa perder um
pouco seus pais. E cada criança
enfrenta isso à sua maneira.
Perder os pais significa aqui
perder a segurança, mesmo que
ilusória, de que eles têm o poder de resolver tudo em sua vida. Agora, cada vez mais a
criança percebe que alguns
problemas cabem a ela, e só a
ela, resolver. É o caso das
aprendizagens escolares, da
convivência na escola etc. É na
escola que a criança começa a
dar os primeiros passos com
suas próprias pernas.
Os pais, nesse momento, podem contribuir para que o filho
inicie esse seu novo trajeto com
coragem e, para tanto, precisam acreditar que seu filho é
capaz e que precisa enfrentar
isso sozinho. Alguns, entretanto, resistem a deixar que o filho
enfrente seu tempo de crescer
porque vivem, eles mesmos,
sua própria crise: a de perder
um pouco o filho para a vida.
Podemos observar, nas escolas, mães de crianças que estão
no segundo ou terceiro ano do
ensino fundamental que agem
do mesmo modo que agiam
quando o filho frequentava a
educação infantil: querem levá-lo até a sala e lá ficar até a aula
começar, conversar com a professora diariamente, pedir
transferência de classe etc.
Para a criança, isso pode significar que seus pais não querem ou não aceitam seu crescimento ou, então, que não confiam que ela seja capaz de resolver sozinha seus problemas.
Por isso, além de encorajar o filho a crescer, os pais precisam
também ter coragem para permitir que ele cresça.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@uol.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
Texto Anterior: Poucas e boas Próximo Texto: Bate-papo Índice
|