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Espermatozóide requer mais atenção do homem
Antônio Gaudério/Folha Imagem
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Celso Serebrenic e os trigêmeos nascidos por FIV; ao fundo, Ivanilde espia a cena |
A infertilidade masculina responde por 40% do total de casos, mas há métodos eficientes de preveni-la e combatê-la
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CIÇA GUEDES - FREE-LANCE PARA A FOLHA
Quando o assunto é infertilidade, a natureza dá aula de democracia sexual. Entre os casais com dificuldades para conceber -de 15% a 20%
do total de casais-, 40% dos problemas são do homem, 40%, da mulher, e
20%, decorrentes da incompatibilidade entre os parceiros. Apesar disso, a
preocupação da ciência com a infertilidade masculina é recente. As principais razões: preconceito e desinformação.
Os homens ainda se sentem feridos em
sua masculinidade quando não podem
gerar filhos de forma natural. Embora seja mais simples começar a pesquisa por
ele quando um casal está enfrentando dificuldades para conseguir um bebê, na
maioria das vezes é a mulher que procura
ajuda -até porque ela faz consulta médica com regularidade.
As pesquisas estão avançando, e a tecnologia já oferece meios para que praticamente todos os homens com problemas de fertilidade tornem-se pais. Até
mesmo nos cerca de 20% dos casos em
que os médicos não conseguem fechar
um diagnóstico, o bebê chega por meio
de técnicas de reprodução assistida. Mas
nem as evidências estatísticas são capazes
de tirar o foco da mulher.
No congresso da Sociedade Européia
de Reprodução Humana e Embriologia,
realizado na semana passada em Viena,
com a participação de mais de 4.000 médicos, a maioria dos trabalhos apresentados versava sobre infertilidade feminina.
Na literatura médica brasileira, somente agora a infertilidade masculina ganhou
um livro, o primeiro escrito no país e na
América Latina sobre o tema. "Durante
muito tempo, confundiu-se infertilidade
com impotência. Isso afastava os homens
dos consultórios. A confusão ainda existe, mas já é bem menor", diz o urologista
Nelson Rodrigues Netto Júnior, um dos
autores de "Infertilidade Masculina",
junto com Paulo Augusto Neves, ambos
da Unicamp.
Para o médico Agnaldo Cedenho, diretor do setor de reprodução humana da
Unifesp, o problema é mesmo cultural, e
os homens deveriam cuidar da saúde reprodutiva da mesma forma que as mulheres. "Não se trata de opinião, mas de
números. Temos um grupo de 360 rapazes de 16 anos sendo acompanhados para
um estudo científico. Entre eles, 27,5%
têm varicocele, que são varizes no escroto, uma das principais causas da infertilidade. Um exame
clínico simples detecta o problema, que
pode evoluir sem apresentar sintomas, e
o homem só vai se dar conta quando,
adulto, quiser filhos e não conseguir engravidar a mulher", diz Cedenho.
Entre seus pacientes, ele destaca o caso
da jovem que tomou pílula anticoncepcional durante dez anos de casamento e,
quando suspendeu o uso, não conseguia
engravidar. "Descobrimos que o problema era do marido. Ou seja, a mulher tomou hormônios um longo tempo para
evitar filhos sem necessidade. O homem,
não se preocupando com sua saúde reprodutiva, também não se preocupa com
o planejamento familiar. Toda a responsabilidade acaba caindo sobre a mulher."
O empresário Mário Mohamed, 38,
descobriu que tinha poucos espermatozóides e de baixa qualidade quando sua
mulher, Adriana, 37, decidiu engravidar
antes de se submeter a uma cirurgia para
a retirada de oito miomas, que poderiam
deixá-la estéril. Mohamed adora falar sobre seus quadrigêmeos, mas prefere que
Adriana fale sobre a técnica de reprodução assistida que os socorreu.
"Nosso problema era tempo. Os miomas estavam crescendo, e eu tinha de engravidar rápido. Por isso decidimos pela
fertilização in vitro. Foram três tentativas", conta ela. Mohamed diz que não se
sentiu atingido em sua masculinidade.
Tomou os medicamentos prescritos pelo
seu médico, Roger Abdelmassih, e não
escondeu que o casal usaria a tecnologia
para realizar o sonho de ter bebês.
Também há casos em que o homem
descobre sua infertilidade antes de pensar em filho. Quando tinha 28 anos, o comerciante Fábio Nascimento, hoje com
34, levou uma bolada nos testículos. Um
mês depois, começou a urinar sangue. O
médico, por meio de exame, constatou
que a produção de espermatozóides dele
era zero e que, portanto, ele era infértil.
"Fiquei abalado. O mundo desaba, você
se sente o pior dos homens, um impotente. Pensei: "Tenho uma saúde excelente,
boa aparência física, mas sou oco por
dentro'", diz Nascimento. Hoje ele comemora a gestação da mulher, que, graças à
ciência, está grávida de quatro filhos.
E quando é hora de procurar ajuda médica? Os padrões internacionais indicam
que após um ano de tentativas infrutíferas, sem usar nenhum método contraceptivo e mantendo relações ao longo do
ciclo da mulher, pode-se falar em infertilidade conjugal. E começar a pesquisa pelo homem é mais fácil.
Mas é preciso lembrar que a infertilidade é um problema do casal. "Uma mulher com alta taxa de fertilidade pode
compensar uma eventual baixa fertilidade do companheiro, e vice-versa", lembra o urologista Jorge Fragoso, do laboratório Fleury.
Nos casos em que o homem não tem
espermatozóides -um em cada cem-,
recorre-se à técnica Icsi, que "salvou" o
administrador de empresas Celso Serebrenic, 54, e a mulher, Ivanildes, de 34
anos. No último exame que Serebrenic
fez antes de conseguir os trigêmeos
-Giovana, Paulo Henrique e João Vitor-, nenhum espermatozóide foi encontrado. Por meio de punção, o médico
retirou as células do testículo e, com a técnica Icsi, foram gerados os embriões.
As técnicas de reprodução assistida
têm um índice de sucesso de 30% a 40% e
também têm sido procuradas por mulheres que se submeteram à laqueadura, assim como por homens que se arrependeram da vasectomia. Nesses casos, é possível fazer a chamada "recanalização",
uma microcirurgia com índice de sucesso de até 80%, com a vantagem de que a
gravidez se dá pelo método natural. "Observamos que a reversão funciona muito
bem para vasectomizados com até dez
anos de cirurgia", diz Cedenho.
Quem pretende ter filhos deve levar em
conta também que a fertilidade é declinante. "O auge da fertilidade da mulher
ocorre aos 30 anos, é boa entre 30 e 35, regular dos 35 aos 37, e ruim após essa idade. Os homens apresentam alterações no
espermograma (exame que avalia os espermatozóides) entre os 40 e 45 anos",
diz Sandro Esteves, da Clínica Androfert,
especializada em infertilidade masculina.
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