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Orgulho de ser "mãe especial"
Apesar de ser menina, branca
e menor de um ano de idade, a
pequena Marcela tinha chances mínimas de ser adotada.
Autista, vítima de paralisia cerebral, ela não se mexia e não
reagia à luz ou a qualquer outro
estímulo. Nunca tinha chorado.
A chance de ganhar uma família veio com a visita da supervisora de vendas Carla Cristina
Penteado, 34, ao abrigo onde
estava. "As pessoas me disseram que não adiantava pegá-la
no colo, que ela estava trancada
no seu mundo, não reagia a nada. Peguei-a mesmo assim e
cantei pra ela. Quando a coloquei de volta no berço, ela chorou", lembra.
Portadora de diabetes tipo 1,
que dificulta uma gravidez natural, ela tinha 30 anos e nenhum filho. Decidida a adotar
Marcela, Carla contou com o
apoio do marido, mas enfrentou muitas dificuldades. "Foi
um inferno. Disseram que era
fogo de palha, que eu era nova
demais. As pessoas acham que
uma mulher bonita e jovem
não pode adotar uma criança
assim." Foram cinco meses indo ao fórum regularmente para
pedir a guarda da menina.
"Cada dia que eu ia ao abrigo,
eu morria um pouco. Via os pezinhos dela se atrofiando por
falta de fisioterapia", conta.
Hoje, com quatro anos e oito
meses, Marcela fez progressos
notáveis. Fala muito, gosta de
cantar e, contrariando as perspectivas iniciais, consegue andar. "Claro que enfrentamos
dificuldades. A idade mental
dela é a de uma criança de um
ano e meio. Já fomos recusadas
em escolas. Às vezes, ela tem
crises, berra, foge do controle.
Mas todo pai tem problema,
quem não quer problemas que
compre uma boneca", brinca.
Carla fundou um grupo para
incentivar a adoção de crianças
mais velhas e com necessidades
especiais. Diz que adora ser
"mãe especial". "Se for adotar
outra criança, vai ser uma especial também", afirma.
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