São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2007
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Rosely Sayão

Sobre rankings escolares

Q ual a utilidade de um ranking de escolas? Sejam fundamentadas no número de alunos que passam no vestibular ou no resultado obtido no Enem, hoje temos várias listas que destacam algumas escolas e jogam lá para o meio ou para o final da fila tantas outras. Tais listas não têm utilidade alguma e dizem muito pouco sobre o valor de uma escola ou sobre seu modo de funcionar. Mesmo assim, são usadas para avaliar a qualidade de ensino praticado.
Uma conseqüência dessas listas tem a ver com as próprias escolas. As que se situam no topo acreditam que o resultado é a prova de que estão no caminho certo e que não precisam rever seus métodos. As demais ficam pressionadas a atingir resultados melhores. Ora, o trabalho que uma escola realiza não pode ser reduzido ao êxito escolar de seus alunos avaliado dessa maneira.
É que a instituição escolar não funciona como uma empresa, que precisa ser eficiente a qualquer custo. Como estrutura social, ela tem finalidades bem mais preciosas, que só podem ser medidas uma ou duas décadas após o aluno sair de lá. Além da transmissão do saber, a escola tem de ensinar o exercício da cidadania e promover a construção da autonomia.
Formar o futuro cidadão é ensinar e praticar valores coletivos e democráticos, ensinar a conviver com a diversidade, a superar preconceitos e estereótipos e, sobretudo, a usar o saber em benefício de todos, e não só próprio ou de poucos. Assim, o fato de sabermos as escolas que freqüentaram os alunos de determinadas faculdades mostra apenas que algumas escolas instruem bem em relação a certas disciplinas do conhecimento e à execução de provas de avaliação. Mas e as outras atribuições?
Queremos saber algo mais sobre uma escola? Vejamos como anda a vida profissional dos alunos que lá se formaram. Será que trabalham só em busca de uma vida confortável ou querem mais do que isso? Mas não nos esqueçamos da liberdade na vida adulta: por melhor que tenha sido a formação escolar básica de uma pessoa, ao ganhar autonomia ela faz suas próprias escolhas.
O fato é que são raras as escolas de ensino fundamental e médio que têm dado conta de suas três importantes funções, e não há ranking algum que consiga ocultar esse fato. Essa questão é de todos nós, e não só de quem tem filhos em idade escolar ou trabalha em escola. Afinal, nosso futuro terá as marcas desse tipo de formação.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br


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