São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004 |
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Dependo de você porque você depende de mim
A co-dependência é um distúrbio mais freqüente do que
se imagina e vai além das vítimas do álcool ou das drogas
O marido que cerceia o crescimento profissional da mulher. A mãe que faz o impossível para o filho não sair de casa. O chefe que não permite ao empregado crescer dentro da empresa. A namorada que exige do parceiro 24 horas de dedicação incontestável e absoluta. A esposa que prefere deixar o marido alcoólatra beber em casa a
ir ao bar. O avô que paga ao traficante as dívidas do neto. São exemplos genéricos, mas
clássicos, de como a co-dependência -depender da dependência do outro em relação
a si mesmo- está tão profundamente enraizada no convívio social e familiar.
É uma via de mão dupla, em que, no final das
contas, as partes dependem umas das outras. A
mulher "podada" pelo marido controlador necessita dessa figura para se sentir protegida: ela
é sua dependente, e o marido também precisa
dela e alimenta essa dependência.
Embora não seja catalogada oficialmente como transtorno mental, hoje a co-dependência
é tida como um distúrbio da mente.
Originalmente, o termo co-alcoólatra foi designado para caracterizar as mulheres de alcoólatras, que, na década de 70, passaram a fazer reuniões paralelas às que seus maridos freqüentavam no AA (Alcoólicos Anônimos).
Nesses grupos, elas perceberam possuir um
denominador comum: toda a sua vida familiar
girava em torno do dependente.
No próximo dia 26, será divulgada, no Encontro do Colégio Internacional de Neuropsicofarmacologia, no Rio de Janeiro, uma pesquisa que constatou que 97% das mulheres de
alcoólatras preenchem o diagnóstico de co-dependência e possuem algum distúrbio de ansiedade (síndrome do pânico, fobia social). Os
estudos -feitos com 485 famílias- foram
coordenados pelo psiquiatra Jorge Jaber, fundador da Associação dos Familiares dos Dependentes Químicos, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
De acordo com Sergio Nicastri, coordenador
do Programa Álcool e Drogas do hospital Albert Einstein, temendo perder o controle do
sujeito subordinado, o co-dependente chega
até a comprar ou pagar o vício do dependente.
"Por isso existe a necessidade de tratar tanto o
alcoólatra como a sua família", explica.
São dependências paralelas. Da mesma maneira que um dependente desenvolve uma ligação com a droga que não consegue controlar, o co-dependente estabelece uma relação de
sujeição com o outro que não consegue controlar, como explica Jaber, que também é diretor da Abrad (Associação Brasileira de Álcool e
Droga).
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