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Neurociência
Estar no controle ou não
Eis uma das piores
coisas que você pode fazer a alguém:
ensinar-lhe que ele
não tem nenhum controle
sobre sua vida, nem é capaz
de evitar acontecimentos
ruins. O resultado se chama
impotência aprendida: quem
aprendeu que não adianta
reagir face a problemas nem
tenta encontrar uma solução, mesmo quando há saída.
Dezenas de estudos mostram o que acontece nesses
casos, especialmente graves
quando as lições de impotência começam na infância. Esses indivíduos sofrem de
uma percepção negativa do
mundo e de ansiedade crônica, dão respostas exageradas
ao estresse agudo e crônico e
têm uma taxa elevada de
doenças.
Ao contrário, a sensação
de ter algum controle da situação reduz diretamente a
resposta ao estresse e favorece a saúde. Até a sensação de
dor diminui quando se sabe
que ela será apenas temporária, como uma injeção, ou
quando se tem controle sobre a administração de analgésicos.
Curiosamente, a sensação
de controle é mais importante do que o controle em si.
Dê a alguém um botão para
apertar quando sentir dor ou
o ambiente ficar barulhento
demais, e sua resposta a esses estresses será mais saudável mesmo que o botão
não tenha efeito algum sobre
a dor ou o som. A importância da sensação de controle
também explica por que ficamos menos ansiosos dirigindo o próprio carro do que
viajando de avião, embora as
estatísticas mostrem que o
avião é muito mais seguro.
No avião, somos apenas passageiros à mercê do piloto.
Em nosso carro, o piloto somos nós.
A sensação de impotência,
no entanto, nem sempre é
ruim. É saudável, de fato,
quando algo moderadamente ruim acontece e você consegue pensar que teria sido
pior se você não estivesse no
controle. Mas procurar ter
controle total sobre todas as
coisas é uma péssima idéia.
Primeiro, porque uma vida
totalmente controlada seria
entediante; segundo, porque
seria não só inviável como
terrivelmente estressante
esperar ter o controle de todas as coisas; terceiro, porque seria injusto exigir de si
mesmo o controle de tragédias incontroláveis. Nesses
casos, é mais saudável reconhecer que você, afinal, não
podia fazer nada.
A sabedoria está no meio-termo, como diz a oração
atribuída ora ao teólogo Reinhold Niebuhr, ora a São
Francisco de Assis: "Senhor,
dai-me a serenidade de aceitar o que não pode ser mudado, a coragem para mudar o
que pode ser mudado e a sabedoria para distinguir uma
coisa da outra".
[...] A sensação de ter algum
controle da situação reduz
diretamente a resposta ao estresse
e favorece a saúde
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "Sexo, Drogas, Rock'n'Roll & Chocolate" e de "O
Cérebro Nosso de Cada Dia" (ed. Vieira &
Lent)
suzanahh@folhasp.com.br
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