São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2000
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O cérebro precisa de 10 minutos para avisar que o organismo está saciado; entre os obesos, esse tempo é mais longo
Deixe o cérebro mostrar o tamanho da sua fome

DA REPORTAGEM LOCAL

Comer devagar e mastigar várias vezes o alimento é conselho que mães, tias e outras figuras experientes costumam dar para quem está em guerra com o peso. Só que agora a teoria deixa de ser apenas uma dica e ganha comprovação científica, segundo pesquisa realizada por cientistas da Faculdade de Medicina da Flórida (EUA) em parceira com a Universidade do Texas (EUA). Pelos resultados da pesquisa, o problema de quem não consegue se ver livre dos quilos a mais pode estar mesmo na cabeça.
As experiências, coordenadas pelo psiquiatra Yijun Liu, professor associado da Universidade da Flórida, constataram que o cérebro de pessoas normais reage à ingestão de alimentos depois de cerca de 10 minutos. Nos obesos, o processo demora 14 minutos.
Para chegar a essa conclusão, Liu e equipe fizeram com que 18 voluntários jejuassem durante 12 horas e depois passassem por um exame cerebral. Após 10 minutos no exame, cada um tomou uma solução de água com açúcar. Por meio de ressonância magnética, constatou-se que a atividade cerebral desses indivíduos atingiu o pico. Essa alta no nível de glicose corresponde a um sinal de saciedade, diz Liu. Ou seja, isso indicou que os indivíduos já haviam comido o suficiente. A equipe concluiu ainda que as pessoas obesas apresentam uma função anormal no hipotálamo, região do cérebro responsável pela regulação da pressão, temperatura, digestão de água e do apetite.
Segundo o endocrinologista Marcello Bronstein, a pesquisa comprova a antiga suspeita de que o processo de reconhecimento no cérebro das pessoas obesas é mais lento. "É uma coisa inédita. Nunca havia sido feito esse tipo de exame para pesquisas desse nível."
"O resultado "inocenta" o obeso como vítima de sua condição própria", observa o médico Marcio Mancini, do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas.
Segundo especialistas, o resultado só ratifica as orientações dadas nos consultórios a quem sonha com o peso ideal, ou seja, não se empanturrar na mesa, deixá-la logo que acabou a refeição, desvinculando a comida da função social, e apoiar no prato os talheres entre uma garfada e outra para prolongar o tempo.
"A pesquisa comprova que vale a pena ter como entrada um prato de salada ou abusar de alimentos pouco calóricos no início da refeição, assim se atinge o ponto de saciedade com poucas calorias", diz Mancini. (KK)


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