São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2000
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Empresas adotam aulas de direção defensiva para evitar acidentes e reduzir gastos com manutenção; o trânsito agradece
Vantagens da aula para motorista marmanjo

ALVARO LEME FREE
LANCER PARA A FOLHA

Braço para fora da janela, só uma das mãos no volante, retrovisor tortinho e assento malposicionado. De caótico, não existe só o trânsito das grandes cidades, mas a performance de muitos motoristas profissionais, que desenvolvem manias e vícios perigosos para eles e para quem está no carro ao lado. Visando cortar gastos e preservar a saúde do funcionário, pequenas e grandes empresas mandam seus motoristas para a sala de aula. De volta às carteiras escolares, os profissionais do volante aprendem não só a dirigir com mais segurança mas a encarar seu trabalho como fundamental para o bom desempenho da empresa. Um motorista que não conhece bem as leis de trânsito torna-se uma ameaça ambulante circulando pelas ruas da cidade e pode criar problemas a qualquer momento. Os professores ressaltam a importância de dirigir com cautela. "Levamos o motorista a se perceber no trânsito", diz Maria Aparecida Dugnolo, coordenadora do curso da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET-SP). "Eles participam com exemplos e situações reais. Às vezes, chega a parecer uma terapia de grupo", diz Jorge Marques, responsável pelo curso de direção defensiva do Senai no Rio de Janeiro. "Os mais antigos geralmente não querem passar pelo treinamento. Acham que estamos querendo ensinar padre-nosso a vigário", diz o instrutor Gastão Henrique, da Associação Brasileira de Prevenção de Acidentes. "Eles chegam com um pé atrás, achando que não têm mais nada para aprender", completa Robinson do Prado, que trabalha com treinamento há 14 anos. Os instrutores ouvidos pela Folha foram unânimes em apontar o Novo Código de Trânsito, em vigor desde 1998, como o campeão de dúvidas. Os condutores confirmam. "Essas novas leis são complicadas, acho que nem quem elaborou sabe todas de cabeça", diz Robson da Silva Rosa, 29 anos, há seis motorista de caminhão da Coca-Cola e que já passou pelo treinamento da empresa.

Economia
Na CET, os cursos não são cobrados. Nos demais centros de treinamento, o preço do curso varia de R$ 30 a R$ 70 por uma carga horária de 16 horas a 20 horas. Empresas que solicitam o treinamento só têm de reproduzir folhetos e manuais que são utilizados em sala de aula.
"Quando as empresas analisam que podem reduzir o número de multas e acidentes, começam a investir no curso sem pensar duas vezes", afirma Jorge Marques, do Senai. Ele calcula que cerca de 10 mil alunos já tenham passado pela instituição nos últimos cinco anos.
Empresas que submeteram seus motoristas ao treinamento conseguiram reduzir as despesas com manutenção da frota em percentuais de 15% a 40%. O número de acidentes também pode cair até 60% (leia texto na página 15). Além disso, os motoristas aprendem a cuidar do patrimônio da empresa como se fosse seu e, muitas vezes, recebem bônus e benefícios por conta da economia obtida. Patrão feliz, empregado idem.
Mas os cursos de direção defensiva não são voltados apenas para gerar benefícios financeiros às empresas. "Se trabalhássemos somente o lado econômico ou a importância para a empresa, nunca conseguiríamos alcançar qualquer objetivo", diz Marília Oliveira, da Auto-Escola Silva, em Curitiba (PR). Quanto mais motoristas forem treinados, defendem as escolas, melhor será o trânsito nas cidades. "Em casos de emergência, o controle que um motorista normalmente tem do veículo fica em torno de 45%", diz Robinson do Prado, que já treinou motoristas para grandes empresas, como Amil, McDonalds e Banco Real. "Depois do curso, esse controle pula para, no mínimo, 80%", conclui.
Mas o curso não é cura definitiva para todos os males do trânsito. Mesmo quem é treinado tem de passar por uma reciclagem periódica para relembrar o que já estava esquecendo e aprender mais sobre condução segura. O tempo necessário para a reciclagem -de três a oito meses- varia de acordo com a empresa. "É como se, com o tempo, a violência no trânsito impregnasse os motoristas com maus modos", diz Marques.
O treinamento de pessoal tem sido tão importante que consultorias especializadas no assunto proliferam pelo país. Há quatro anos, Fábio Ribeiro largou o emprego de superintendente das Lojas Americanas para associar-se a Jaílton Santos, ex-gerente de treinamento do McDonalds, e fundar uma empresa especializada no assunto. Com clientes como a Shell e a Novartis na carteira, treinou também 800 motoristas da Coca-Cola. Ribeiro dá um conselho valioso aos chefes. "A postura do patrão é a melhor maneira de garantir a eficácia do treinamento."


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