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Saúde
Pesquisa inédita sobre um novo tipo de própolis aponta que a substância pode ter propriedades eficazes contra alguns tipos de câncer
Boas novas na colméia
DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em iniciativa pioneira, nove pesquisadores de diferentes instituições brasileiras e da Universidade de Rochester, no Estado de Nova York, detectaram atividade antitumoral contra oito tipos de célula cancerosa humanas numa substância tipicamente nacional: a
própolis vermelha. Nunca estudada antes, essa variedade de própolis também está sendo investigada quanto às suas propriedades antioxidante, antimicrobiana, antiúlcera e anticariogênica.
Esse é um novo tipo de própolis, que vem se
somar às 12 diferentes espécies existentes no
Brasil. Sua catalogação foi feita pelo engenheiro agrônomo Severino Matias de Alencar, 35,
mestre em agronomia pela UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), doutor
em ciência de alimentos pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), professor
da Universidade de São Paulo e coordenador
da pesquisa que aprofunda a análise dos benefícios dessa própolis sobre o corpo humano.
TIPOS DE PRÓPOLIS
A própolis é formada a partir de resinas extraídas pelas abelhas de diferentes partes de
plantas, transformadas na colméia com a junção das enzimas salivares desses insetos e de
cera, pólen e materiais inorgânicos. É por isso
que a sua composição está intimamente ligada
às espécies vegetais e à variedade das abelhas
envolvidas no processo de sua produção. A
mais comum, e que se encontra para venda geralmente, é a própolis verde, derivada do alecrim-do-campo.
Esse tipo de própolis possui, entre outras,
propriedades antibióticas e antioxidantes. A
substância é facilmente encontrada no mercado em várias apresentações, de soluções e extratos a pastas de dente e balas. "Devemos tomar bastante cuidado com a procedência e
idoneidade do material, já que sua preparação
muitas vezes deixa a desejar em qualidade",
alerta Luis Carlos Marchini, professor responsável pela área de apicultura do departamento
de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia da
Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz), da USP.
Outro cuidado que deve ser tomado é com a
dosagem certa. Por ser um produto natural,
muitas pessoas abusam e tomam a própolis
indiscriminadamente. "Diferentemente do
mel, que é um alimento, a própolis é usada como medicamento. Assim, devemos tomá-la só
quando necessário, senão vamos acumular
uma substância antibiótica no nosso organismo sem ter necessidade. Pode ocorrer que,
quando precisarmos de um antibiótico, esse
não terá o efeito desejado", diz Marchini.
Nos países de clima temperado, a variedade
de própolis mais comum é a amarela. "Nesses
lugares, predomina a própolis de álamo (Populus sp.), que tem coloração amarela e quimicamente é muito distinta das própolis verde e
vermelha", explica Severino Alencar, que realizou a coleta, a classificação e a verificação do
potencial das própolis brasileiras, num trabalho que se transformou em sua tese de doutorado, defendida em 2002.
"Foram coletadas mais de 300 amostras de
própolis nas cinco regiões do Brasil. A própolis vermelha nunca foi estudada antes. As pesquisas realizadas até o momento indicam ser
esse um novo tipo de própolis brasileira, tanto
em composição química quanto em atividades biológicas", afirma o pesquisador.
VALOR AGREGADO
O Brasil é o terceiro produtor mundial de
própolis e exporta 80% do que fabrica para o
Japão, onde o extrato alcoólico da substância é
vendido a US$ 110 o frasco. O produto brasileiro é o preferido do mercado oriental, que
concentra 43% das patentes internacionais da
substância.
"O alto valor agregado pode justificar em
parte o interesse pela própolis brasileira. Dois
pontos se destacam na preferência japonesa
pelo produto brasileiro, além de suas propriedades farmacológicas: em primeiro lugar, suas
características organolépticas (que atuam sobre os sentidos e/ou órgãos) e, em segundo, o
menor teor de metais pesados que apresenta",
explica Alencar.
POTENCIAL BIOLÓGICO
O grupo que estuda a própolis vermelha foi
formado pelo CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Conta com nove pesquisadores de instituições
de ensino nacionais e estrangeiras, como o
CPQBA (Centro Pluridisciplinar de Pesquisas
Químicas, Biológicas e Agrícolas), a Unicamp
e a Universidade de Rochester (Estados Unidos).
A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo) destinou R$ 291 mil
para que o projeto seja desenvolvido pelos
próximos quatro anos, com o objetivo de
identificar todo o potencial biológico e a composição química da substância, utilizada pelo
homem desde a Antigüidade.
Entre os sacerdotes egípcios, a própolis era
um dos ingredientes que compunham o trabalho de embalsamamento dos mortos, e sua
atual denominação se deve aos gregos, que a
usavam como ungüento e a batizaram a partir
da percepção de que se tratava de uma substância de defesa, em favor -"pro"- da cidade (ou da colméia) -"polis". De fato, dentro
da colméia a própolis serve de proteção contra
o frio e contra os intrusos, além de funcionar
como desinfetante.
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