São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 2005
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Saúde

Pesquisa inédita sobre um novo tipo de própolis aponta que a substância pode ter propriedades eficazes contra alguns tipos de câncer

Boas novas na colméia

DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em iniciativa pioneira, nove pesquisadores de diferentes instituições brasileiras e da Universidade de Rochester, no Estado de Nova York, detectaram atividade antitumoral contra oito tipos de célula cancerosa humanas numa substância tipicamente nacional: a própolis vermelha. Nunca estudada antes, essa variedade de própolis também está sendo investigada quanto às suas propriedades antioxidante, antimicrobiana, antiúlcera e anticariogênica.
Esse é um novo tipo de própolis, que vem se somar às 12 diferentes espécies existentes no Brasil. Sua catalogação foi feita pelo engenheiro agrônomo Severino Matias de Alencar, 35, mestre em agronomia pela UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), doutor em ciência de alimentos pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), professor da Universidade de São Paulo e coordenador da pesquisa que aprofunda a análise dos benefícios dessa própolis sobre o corpo humano.

TIPOS DE PRÓPOLIS
A própolis é formada a partir de resinas extraídas pelas abelhas de diferentes partes de plantas, transformadas na colméia com a junção das enzimas salivares desses insetos e de cera, pólen e materiais inorgânicos. É por isso que a sua composição está intimamente ligada às espécies vegetais e à variedade das abelhas envolvidas no processo de sua produção. A mais comum, e que se encontra para venda geralmente, é a própolis verde, derivada do alecrim-do-campo.
Esse tipo de própolis possui, entre outras, propriedades antibióticas e antioxidantes. A substância é facilmente encontrada no mercado em várias apresentações, de soluções e extratos a pastas de dente e balas. "Devemos tomar bastante cuidado com a procedência e idoneidade do material, já que sua preparação muitas vezes deixa a desejar em qualidade", alerta Luis Carlos Marchini, professor responsável pela área de apicultura do departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP.
Outro cuidado que deve ser tomado é com a dosagem certa. Por ser um produto natural, muitas pessoas abusam e tomam a própolis indiscriminadamente. "Diferentemente do mel, que é um alimento, a própolis é usada como medicamento. Assim, devemos tomá-la só quando necessário, senão vamos acumular uma substância antibiótica no nosso organismo sem ter necessidade. Pode ocorrer que, quando precisarmos de um antibiótico, esse não terá o efeito desejado", diz Marchini.
Nos países de clima temperado, a variedade de própolis mais comum é a amarela. "Nesses lugares, predomina a própolis de álamo (Populus sp.), que tem coloração amarela e quimicamente é muito distinta das própolis verde e vermelha", explica Severino Alencar, que realizou a coleta, a classificação e a verificação do potencial das própolis brasileiras, num trabalho que se transformou em sua tese de doutorado, defendida em 2002.
"Foram coletadas mais de 300 amostras de própolis nas cinco regiões do Brasil. A própolis vermelha nunca foi estudada antes. As pesquisas realizadas até o momento indicam ser esse um novo tipo de própolis brasileira, tanto em composição química quanto em atividades biológicas", afirma o pesquisador.

VALOR AGREGADO
O Brasil é o terceiro produtor mundial de própolis e exporta 80% do que fabrica para o Japão, onde o extrato alcoólico da substância é vendido a US$ 110 o frasco. O produto brasileiro é o preferido do mercado oriental, que concentra 43% das patentes internacionais da substância.
"O alto valor agregado pode justificar em parte o interesse pela própolis brasileira. Dois pontos se destacam na preferência japonesa pelo produto brasileiro, além de suas propriedades farmacológicas: em primeiro lugar, suas características organolépticas (que atuam sobre os sentidos e/ou órgãos) e, em segundo, o menor teor de metais pesados que apresenta", explica Alencar.

POTENCIAL BIOLÓGICO
O grupo que estuda a própolis vermelha foi formado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Conta com nove pesquisadores de instituições de ensino nacionais e estrangeiras, como o CPQBA (Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas), a Unicamp e a Universidade de Rochester (Estados Unidos).
A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) destinou R$ 291 mil para que o projeto seja desenvolvido pelos próximos quatro anos, com o objetivo de identificar todo o potencial biológico e a composição química da substância, utilizada pelo homem desde a Antigüidade.
Entre os sacerdotes egípcios, a própolis era um dos ingredientes que compunham o trabalho de embalsamamento dos mortos, e sua atual denominação se deve aos gregos, que a usavam como ungüento e a batizaram a partir da percepção de que se tratava de uma substância de defesa, em favor -"pro"- da cidade (ou da colméia) -"polis". De fato, dentro da colméia a própolis serve de proteção contra o frio e contra os intrusos, além de funcionar como desinfetante.


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