São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2008
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ROSELY SAYÃO

Brigas e desentendimentos


[...] QUANDO PAIS E FILHOS ESTÃO JUNTOS, NEM SEMPRE OS AFETOS E A CONSIDERAÇÃO ENTRE ELES SÃO PRIORIDADE

Muitos pais querem saber que atitudes tomar quando o filho se desentende com amigos ou colegas, quando chega em casa com marcas de briga, quando tem o costume de dirigir palavrões aos outros, quando se queixa de ter sido humilhado por colegas etc.
É, a convivência entre as crianças não está nada fácil.
Muitas brigam por qualquer coisa, ofendem colegas com a maior facilidade e, quando provocadas, revidam à altura. Elas brigam na escola, na casa dos colegas, nos clubes, nos passeios que fazem juntos. Brigam com irmãos e até mesmo com os que consideram seus melhores amigos e, depois, pedem desculpas, às vezes obrigadas.
Mas não parece que ficam verdadeiramente sentidas pelo que fizeram porque logo repetem o feito, que aparenta já fazer parte da sua rotina. Muitos pais querem encontrar medidas eficazes para conter essas atitudes, mas talvez não sejam sanções, castigos e punições aquilo de que as crianças precisam. O melhor seria que tivessem exemplos dos adultos e que estes alterassem sua abordagem com as que se envolvem em confrontos.
Um dos motivos para tantas brigas pode ser a falta de tato resultante do pouco aprendizado no convívio com pessoas próximas. Muitos pais costumam manifestar amor aos filhos com beijos e abraços, elogios em profusão e muitos presentes, isso sem falar na dedicação à gestão da vida dos filhos, o que tem sido bem desgastante.
Boa parte do tempo que os pais têm para dedicar ao filho é gasto nisto: levar, buscar, acompanhar o estudo, checar do que mais ele precisa etc.
Ao contrário do que costumamos pensar, o tempo que os pais têm disponível para os filhos é grande. O problema é como ele tem sido usado, já que os adultos estão imersos em uma vida individualista, sem disponibilidade interna para o outro.
Por isso, quando pais e filhos estão juntos, nem sempre os afetos e a consideração entre eles são prioridade.
Por outro lado, as relações familiares horizontais e verticais têm sido suprimidas no nosso novo estilo de vida. As crianças não convivem mais -ou convivem pouco- com seus parentes, por exemplo, o que torna as relações com os pais quase que únicas no aprendizado de fazer parte de um grupo.
Por isso, faltam às crianças oportunidades para experimentar relações com pessoas com as quais descobrem ter pouca afinidade e com quem nem sempre se dão bem. E é justamente nessas situações que poderiam aprender que para conviver é preciso ter consideração pelo outro, relevar e fazer concessões.
Finalmente: quando os filhos se envolvem em brigas, vale mais desvalorizar o fato do que procurar saber quem tinha razão. Se houve briga, foi porque todos participaram, portanto, ninguém pode estar certo.
Se nos dedicarmos a ensinar aos mais novos, em família e na escola, que é preciso a contenção individual para o bem comum e que isso é o que promove uma vida boa, eles aprenderão melhor a controlar seus impulsos em favor do equilíbrio da vida em grupo.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

roselysayao@folhasp.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



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