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Amiga de parto
Ela é jovem, mas experiente. Louca pelo que faz, Mayra ajuda gente como Gisele Bündchen a dar à luz nos moldes do econascimento e do parto humanizado. Só não a chamem de "doula", ela não gosta: foi na qualidade de enfermeira especializada em obstetrícia que a garota acompanhou a chegada do top bebê Benjamin
SARA STOPAZZOLLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Desde pequena, Mayra
Calvette, 23, aprendeu que
dar à luz e pegar os filhos nos
braços logo após o nascimento era uma das coisas mais
prazerosas da vida.
Era sua mãe que contava
como ela e suas quatro irmãs
vieram ao mundo, em partos
de cócoras.
No colégio, Mayra ouviu,
pela primeira vez, que a mulher sentia dor no parto.
"Mas logo descobri que, com
preparo e informação, podemos contorná-la", afirma.
Mayra não tem filhos, mas,
apesar de ser tão jovem, já
ajudou muitas mulheres a terem os seus de forma natural,
em casa, na água. Como no
parto da amiga famosa, Gisele Bündchen.
A trajetória para chegar à
Boston, onde nasceu Benjamin, filho da modelo, começou seis anos atrás. Mayra
mudou-se da pequena Gravatal, em Santa Catarina, para Florianópolis, para cursar
enfermagem na Universidade Federal de Santa Catarina.
Durante a faculdade,fez
estágio na Maternidade Carmela Dutra, uma das maiores
de Florianópolis.
"Eu chegava lá e encontrava as mulheres deitadas, sofrendo de dor e totalmente
desinformadas. Conversava
com elas, explicava o que é a
contração, as colocava na
água quente, fazia o que dava", conta.
Em 2008, foi efetivada como enfermeira auxiliar. E resolveu batalhar para propiciar às gestantes um parto
natural dentro do hospital.
Não é o comum. Se depender
das maternidades e hospitais, fica difícil escapar de cesáreas desnecessárias e intervenções no parto normal.
PARCERIA
Mayra então propôs uma
parceria a obstetras que seguem a linha da medicina
humanizada. Ela fica com a
gestante em casa, sempre
monitorando os batimentos
cardíacos fetais e, quando a
dilatação já está quase total,
avisa o médico e todos se encontram na maternidade.
A parceria inclui três visitas de pré-natal e três no pós-parto, para ajudar a estabelecer a amamentação e os cuidados com o bebê.
Na minha primeira consulta pré-natal, Mayra mais ouviu do que falou. Na segunda, pediu papel e caneta, desenhou os órgãos reprodutivos femininos e explicou o
que acontece na hora do parto. Disse que a dor tem sua
função e me ajudou a entender como lidar com a força.
No final da consulta,
quando eu já não imaginava
mais minha vida sem ela,
veio a notícia: "Eu só estarei
no seu parto se for até dia 14.
A partir daí, estarei fora do
país, para acompanhar o parto de uma amiga".
Sorte que minha filha nasceu no dia 13 e que pude ter a
ajuda de Mayra.
Três semanas depois, já
em Boston, ela ajudava Gisele a respirar, relaxar e imaginar que, a cada contração, o
bebê estava mais perto dela.
"Pouco antes de Benjamin
nascer, Gisele, em profundo
estado de meditação, começou naturalmente a cantar o
mantra "om" e todos entoaram juntos. Foi maravilhoso!
Ele nasceu na água e Gisele o
trouxe direto para seus braços", conta ela.
ESTADO ALTERADO
Mesmo eu, que não tinha
uma amizade prévia, me senti totalmente segura com ela.
Pouco depois de começar
efetivamente meu trabalho
de parto, Mayra chegou em
casa, ofereceu as mãos para
me ajudar a levantar e disse
"vamos nos movimentar".
Eu era uma mulher já exausta depois de quase dois dias
de contrações irregulares
muito doloridas.
A entrega foi total e consegui chegar na partolândia,
que é como chamam o estado
alterado de consciência que
acomete as parturientes.
Senti até uma onda de prazer, provocada pela ação dos
hormônios e pela entrega de
meu corpo a eles. "Eu entrei
na partolândia junto contigo!", ela me contou depois.
Minha filha nasceu na
água. Foi Mayra quem a segurou pela primeira vez e colocou-a no meu colo, em estado de êxtase como eu.
"O parto pode ser a experiência mais maravilhosa ou
a mais terrível. Depende do
quanto a mulher está preparada física e emocionalmente
e do apoio que terá na hora",
afirma Mayra. Concordo.
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