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S.O.S. família - Rosely Sayão
Autorização para sair
Uma filha que, aos 12,
apaixona-se por um
colega da escola e informa aos pais que
irá namorar deve receber que
tipo de resposta deles? Um filho de 14 anos deve receber autorização para sair à noite? Se
uma filha de 16 anos quer viajar
com a turma de amigos nas férias, os pais devem deixar? E se
um filho de 17 quer passar o final de semana com a namorada, os pais devem autorizar? E
uma filha de 20 que quer sair
com as amigas de madrugada?
Com a multiplicação das configurações familiares, com a
mudança rápida de costumes e
com o desvanecimento das tradições familiares, todas as perguntas acima têm seus adeptos,
tanto para o sim quanto para o
não. Pais com filhos em torno
dos 12 anos permitem que eles
namorem, inclusive na própria
casa, e pais com filhos -filhas,
principalmente- acima dos 18
ainda proíbem quase tudo.
Formações tão diversas têm
produzido efeitos inusitados
em aspectos importantes vivenciados nesse período. Alguns exemplos: a maturidade, a
autonomia, a relação consigo
mesmo, com os pares e com o
mundo, a aquisição de identidade e, principalmente, a entrada na vida adulta.
Assim, encontramos jovens
que, a partir dos 14 anos, já são
articulados em relação a assuntos públicos, desenvoltos no
ato intelectual de aprender,
que já demonstram ter autocuidado, que conseguem argumentar solidamente sobre seus
pontos de vista, que encaminham suas emoções da melhor
maneira possível e que aprendem com suas experiências.
Por outro lado, vemos também um bom número de jovens
que, a partir dos 17 anos, ainda
não conseguem viver sem a intervenção dos pais ou tomar
pulso para se opor a eles, que
não têm autonomia a não ser
para a diversão, que não conseguem usar os conhecimentos
adquiridos, que apresentam argumentos vazios quando discursam, que não conseguem
controlar suas emoções e que
não têm disponibilidade para
aprender com a vida.
Não é a simples entrada precoce ou tardia na vida social
que leva a tais resultados tão diversos, e sim o modo como a
permissão ou a proibição dos
pais é contextualizada na vida
do filho. Vejamos dois exemplos de incoerência que podem
levar à produção da maturidade ou da infantilização.
Tomemos um fato corriqueiro na vida dos filhos, já a partir
dos 10 anos: o convite para festas de aniversário de colegas
sem a companhia dos pais.
Quando os pais permitem, é
preciso tomar algumas decisões paralelas que ajudem o filho a se responsabilizar pela
questão. Alguns pais dizem sim
ao filho e acreditam que a grande questão é a segurança no trajeto de ida e volta. Não! Há muito mais a ser feito.
Por exemplo: a compra do
presente deve ser feita pelo filho ou, no mínimo, ele deve
acompanhar a mãe na compra,
sugerir o mimo, arcar com parte do valor com sua mesada etc.
Os pais devem fazer o filho participar da conversa sobre como
ele chegará ao local e como voltará para casa e sobre o horário
a ser cumprido. E ele deve também saber que toda festa tem
suas repercussões, positivas ou
não, e que ele terá papel nisso.
Desse modo, o filho aprende
que a diversão tem também
uma parte árdua e pode amadurecer com as experiências.
Os pais com filhos de mais de
17 anos precisam considerar o
que proíbem. Nessa idade, só
tem sentido vetar o que, de fato,
vai contra as tradições da família. Não se pode impedir que
eles assumam a própria vida,
não é? A mãe de uma universitária chegou a informar à direção da faculdade que a filha não
iria participar de um determinado trabalho porque ele seria
realizado no centro da cidade.
Atitudes desse tipo infantilizam o jovem e tiram dele a
oportunidade de aprender a viver. A pergunta que fica nesse
caso é: não estamos criando
uma geração frágil demais?
Entrarei em férias e retorno
em fevereiro. Agradeço a companhia neste ano e desejo a todos boas-festas.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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