São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 2006
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S.O.S. família - Rosely Sayão

Autorização para sair

Uma filha que, aos 12, apaixona-se por um colega da escola e informa aos pais que irá namorar deve receber que tipo de resposta deles? Um filho de 14 anos deve receber autorização para sair à noite? Se uma filha de 16 anos quer viajar com a turma de amigos nas férias, os pais devem deixar? E se um filho de 17 quer passar o final de semana com a namorada, os pais devem autorizar? E uma filha de 20 que quer sair com as amigas de madrugada?
Com a multiplicação das configurações familiares, com a mudança rápida de costumes e com o desvanecimento das tradições familiares, todas as perguntas acima têm seus adeptos, tanto para o sim quanto para o não. Pais com filhos em torno dos 12 anos permitem que eles namorem, inclusive na própria casa, e pais com filhos -filhas, principalmente- acima dos 18 ainda proíbem quase tudo.
Formações tão diversas têm produzido efeitos inusitados em aspectos importantes vivenciados nesse período. Alguns exemplos: a maturidade, a autonomia, a relação consigo mesmo, com os pares e com o mundo, a aquisição de identidade e, principalmente, a entrada na vida adulta. Assim, encontramos jovens que, a partir dos 14 anos, já são articulados em relação a assuntos públicos, desenvoltos no ato intelectual de aprender, que já demonstram ter autocuidado, que conseguem argumentar solidamente sobre seus pontos de vista, que encaminham suas emoções da melhor maneira possível e que aprendem com suas experiências.
Por outro lado, vemos também um bom número de jovens que, a partir dos 17 anos, ainda não conseguem viver sem a intervenção dos pais ou tomar pulso para se opor a eles, que não têm autonomia a não ser para a diversão, que não conseguem usar os conhecimentos adquiridos, que apresentam argumentos vazios quando discursam, que não conseguem controlar suas emoções e que não têm disponibilidade para aprender com a vida.
Não é a simples entrada precoce ou tardia na vida social que leva a tais resultados tão diversos, e sim o modo como a permissão ou a proibição dos pais é contextualizada na vida do filho. Vejamos dois exemplos de incoerência que podem levar à produção da maturidade ou da infantilização. Tomemos um fato corriqueiro na vida dos filhos, já a partir dos 10 anos: o convite para festas de aniversário de colegas sem a companhia dos pais.
Quando os pais permitem, é preciso tomar algumas decisões paralelas que ajudem o filho a se responsabilizar pela questão. Alguns pais dizem sim ao filho e acreditam que a grande questão é a segurança no trajeto de ida e volta. Não! Há muito mais a ser feito. Por exemplo: a compra do presente deve ser feita pelo filho ou, no mínimo, ele deve acompanhar a mãe na compra, sugerir o mimo, arcar com parte do valor com sua mesada etc.
Os pais devem fazer o filho participar da conversa sobre como ele chegará ao local e como voltará para casa e sobre o horário a ser cumprido. E ele deve também saber que toda festa tem suas repercussões, positivas ou não, e que ele terá papel nisso. Desse modo, o filho aprende que a diversão tem também uma parte árdua e pode amadurecer com as experiências. Os pais com filhos de mais de 17 anos precisam considerar o que proíbem. Nessa idade, só tem sentido vetar o que, de fato, vai contra as tradições da família. Não se pode impedir que eles assumam a própria vida, não é? A mãe de uma universitária chegou a informar à direção da faculdade que a filha não iria participar de um determinado trabalho porque ele seria realizado no centro da cidade.
Atitudes desse tipo infantilizam o jovem e tiram dele a oportunidade de aprender a viver. A pergunta que fica nesse caso é: não estamos criando uma geração frágil demais? Entrarei em férias e retorno em fevereiro. Agradeço a companhia neste ano e desejo a todos boas-festas.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha) roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br


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