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DRIBLE A NEURA
Fuja do "Como é mesmo o seu nome?"
ANA PAULA ORLANDI - FREE-LANCE PARA A FOLHA
Durante um cruzeiro, a promotora de
vendas Maria Regina Gonzalez, 58,
viu-se metida em uma tremenda saia justa. Por mais que tentasse, não conseguia
de forma alguma reconhecer o senhor que
acenava efusivamente do outro lado do salão de jantar. "Fiquei encabulada e rezei
para que não se aproximasse. Mas ele
acabou chegando até mim. Com jeitinho,
fui fazendo perguntas estratégicas e acabei descobrindo que era um antigo cliente. Para meu alívio, o nome dele foi dito
pela esposa. Foi um sufoco."
Até mesmo donos de memória privilegiada para nomes e fisionomias correm o
risco de passar por constrangimentos como o vivido por Maria Regina. Afinal, a
convenção social dita que é falta de educação esquecer o nome das pessoas.
"Na maioria dos casos, esses lapsos geram desconforto tanto em quem esquece
como naquele que é esquecido", diz Kátia
Osternack Pinto, supervisora da divisão
de psicologia do Instituto Central do
Hospital das Clínicas (HC). "O esquecimento dá a entender que talvez você não
esteja tão interessado na pessoa", acrescenta a terapeuta ocupacional Viviane
Peixoto Salgado Abreu.
Há quem drible o problema com bom
humor. Esquecido crônico, o gerente de
compras Alexandre Araújo, 31, já trocou
nomes de namoradas e atrapalha-se
quando encontra conhecidos que não vê
há tempos. "Não presto atenção em nomes, por isso tenho dificuldade de guardá-los", admite. "Quando esqueço ou
troco o nome de alguém, dou risada e peço para que também me chame por outro
nome. As pessoas não ficam com raiva,
pois percebem que não faço por mal."
Esquecer nomes ou mesmo de onde é
aquela pessoa que surge do nada no meio
do supermercado é mais comum do que
se imagina e atinge indivíduos de todas as
idades. "O estresse é uma das principais
causas desse esquecimento porque causa
déficit de atenção. Atender telefone, navegar na Internet e anotar recados, tudo
ao mesmo tempo, gera dispersão e sobrecarrega o sistema nervoso", diz Paulo Caramelli, neurologista do HC.
Além do estresse, outros fatores podem
provocar o esquecimento. A depressão,
por exemplo, prejudica a concentração.
"Deve-se procurar um neurologista
quando os lapsos se tornam diários e a
pessoa percebe que está perdendo outras
habilidades cognitivas. Em casos extremos, doenças como hipotireoidismo ou
tumor cerebral podem se manifestar dessa forma", explica o médico.
Segundo Caramelli, a medicina não
consegue ainda explicar por qual motivo
alguns indivíduos possuem determinadas habilidades cognitivas mais desenvolvidas do que outras. Há pessoas que,
mesmo submetidas a ambientes estressantes ou com intensa vida social, não vacilam na hora de dizer nomes ou números de telefone. "É uma característica
própria de cada indivíduo, ninguém é absolutamente bom em todo os aspectos do
funcionamento cognitivo. Talvez a pessoa perceba inconscientemente que tenha uma certa habilidade para nomes e
acabe desenvolvendo-a mais ainda."
É possível evitar os famosos "brancos"
exercitando a memória. "O ideal é que
cada pessoa crie sua própria estratégia de
memorização", diz a terapeuta Viviane.
"Estabelecer vínculos e contextualizar
nomes e situações faz com que a informação venha mais rápido à cabeça, reduzindo os lapsos", afirma Caramelli.
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