São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2010
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GUERRA DOS SEXOS 2.0

Afinal, quem faz o quê?

As mulheres ainda reclamam da "dupla jornada", mas poucas sabem delegar aos homens tarefas domésticas e cuidados com os filhos




RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os homens estão mais solidários e mais envolvidos com a criação dos filhos do que jamais estiveram.Mas, a julgar pelas queixas de boa parte das mulheres, isso não é o suficiente para resolver a velha questão da divisão de tarefas. Porquê?
Muitas mulheres, apegadas ao poder ancestral que detêm sobre o lar, tratamos parceiros como meros ajudantes, reforçando estereótipos de gênero e dificultando qualquer movimento em direção a uma distribuição mais igualitária de responsabilidades.
Homens inseguros no papel de pai, por exemplo, vão se encolher, em termos cooperativos, diante de uma mãezona perfeita, lembra o psiquiatra Luiz Cuschnir, do Centro de Estudos da Identidade do Homem e da Mulher. "Com frequência, as críticas e atitudes professorais da mãe inibem o desenvolvimento do pai. Ser criticado, além de ter recebido uma educação de que o ambiente doméstico não é o seu campo de atuação, faz com que o homem se sinta inábil, desengonçado e facilmente se constranja nesse papel."
Constrangido ou não, o homem fica cada vez mais com os filhos. Um estudo da Universidade da Califórnia mostra que esse tempo mais que dobrou nos últimos 15anos.
Outro dado que chama a atenção, nessa mesma pesquisa, é que ele passa pelo menos duas das horas extras em família ao lado da mulher, sinal de que o casal tem dividido mais as responsabilidades relacionadas à casa e ao trabalho, de modo a ficar fisicamente mais próximo, dizem os pesquisadores.

Mulher e trabalho
Por outro lado, quando o marido trabalha demais, ainda é comum a mulher abrir mão da própria carreira para segurar as pontas em casa. Se é ela que trabalha demais fora de casa, o impacto na carreira dele é quase nenhum, como comprovou um outro estudo feito nos EUA.
A casa e os filhos ainda são vistos como problemas de mulher, no imaginário deles e delas, segundo a análise de Rosa Macedo, coordenadora do Núcleo de Família e Comunidade da PUC-SP: "Tem homens mais cooperativos que dizem que ajudam, mas isso significa que não é responsabilidade deles.
Elas querem que eles assumam que a responsabilidade é igual", afirma. Para a psicóloga, essa visão de que o homem está fazendo um favor para a mulher precisa mudar.
Em países desenvolvidos, a divisão dos cuidados com as crianças e das tarefas domésticas é mais igualitária. Até porque, no hemisfério Norte, empregada doméstica é um luxo.
"O homem participa e tem que participar muito. Eles fazem as compras sozinhos, cozinham", diz a antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
"Aqui, onde a mulher manda em outra mulher que manda também, é difícil para o homem assumir responsabilidades."

Novo modelo
Independentemente da presença de uma auxiliar oficial, a rotina familiar costuma demandar um esforço extra para não sair dos trilhos. Uma alternativa para dividir as coisas sem que ninguém fique sobrecarregado nem de cara amarrada é considerar as aptidões e preferências individuais.
"A solução é entrar em uma negociação em que os dois sejam encarregados de fazer a divisão.
Se os dois trabalham, se respeitam, são dois indivíduos que querem ter uma relação legal, isso é possível", acredita Goldenberg.
Outro componente importante é a flexibilidade. "As tarefas precisam ser divididas de acordo com a disponibilidade do momento. Se tem reunião das crianças na escola e ela não pode ir, o marido dá um jeito.
Não é assim:o filho está doente, a mulher larga tudo e leva ao médico. Precisa conversar e ver quem pode fazer", afirma Rosa Macedo, da PUC-SP.
Com um pouco de boa vontade, o trabalho doméstico pode ser até divertido. "É um momento de estar junto, conversando, isso pode ser prazeroso", diz a psicanalista Belinda Mandelbaum, coordenadora do Laboratório de Estudos da Família do Instituto de Psicologia da USP.
Para as jovens mães, não custa lembrar que a criação da nova geração de adultos está, em boa parte, em suas mãos. "Muitos homens são educados de uma forma que não têm noção de cuidado pessoal -não aprenderam nem a arrumar a cama. As mulheres reclamam, mas continuam mantendo certas diferenças na educação de filhos e filhas", diz Macedo.
Leia a seguir como três casais organizaram sua rotina.

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Ser criticado faz com que o pai se sinta desengonçado nesse papel
LUIZ CUSCHNIR

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Elas reclamam, mas continuam educando filhos e filhas com diferenças
ROSA MACEDO


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