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GUERRA DOS SEXOS 2.0
Afinal, quem faz o quê?
As mulheres ainda reclamam da "dupla jornada", mas poucas sabem delegar aos homens tarefas domésticas e cuidados com os filhos
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os homens estão mais
solidários e mais envolvidos
com a criação
dos filhos do que
jamais estiveram.Mas, a julgar
pelas queixas de boa parte das
mulheres, isso não é o suficiente
para resolver a velha questão
da divisão de tarefas. Porquê?
Muitas mulheres, apegadas
ao poder ancestral que detêm
sobre o lar, tratamos parceiros
como meros ajudantes, reforçando
estereótipos de gênero e
dificultando qualquer movimento
em direção a uma distribuição
mais igualitária de responsabilidades.
Homens inseguros no papel
de pai, por exemplo, vão se encolher,
em termos cooperativos,
diante de uma mãezona
perfeita, lembra o psiquiatra
Luiz Cuschnir, do Centro de
Estudos da Identidade do Homem
e da Mulher. "Com frequência,
as críticas e atitudes
professorais da mãe inibem o
desenvolvimento do pai. Ser
criticado, além de ter recebido
uma educação de que o ambiente
doméstico não é o seu
campo de atuação, faz com que
o homem se sinta inábil, desengonçado
e facilmente se constranja nesse papel."
Constrangido ou não, o homem fica
cada vez mais com os
filhos. Um estudo da Universidade
da Califórnia mostra que
esse tempo mais que dobrou
nos últimos 15anos.
Outro dado que chama a
atenção, nessa mesma pesquisa,
é que ele passa pelo menos
duas das horas extras em família
ao lado da mulher, sinal de
que o casal tem dividido mais as
responsabilidades relacionadas
à casa e ao trabalho, de modo
a ficar fisicamente mais próximo,
dizem os pesquisadores.
Mulher e trabalho
Por outro lado, quando o marido
trabalha demais, ainda é
comum a mulher abrir mão da
própria carreira para segurar as
pontas em casa. Se é ela que trabalha
demais fora de casa, o impacto
na carreira dele é quase
nenhum, como comprovou um
outro estudo feito nos EUA.
A casa e os filhos ainda são
vistos como problemas de mulher,
no imaginário deles e delas,
segundo a análise de Rosa
Macedo, coordenadora do Núcleo
de Família e Comunidade
da PUC-SP: "Tem homens mais
cooperativos que dizem que
ajudam, mas isso significa que
não é responsabilidade deles.
Elas querem que eles assumam
que a responsabilidade é igual",
afirma. Para a psicóloga, essa
visão de que o homem está fazendo
um favor para a mulher
precisa mudar.
Em países desenvolvidos, a
divisão dos cuidados com as
crianças e das tarefas domésticas
é mais igualitária. Até porque,
no hemisfério Norte, empregada
doméstica é um luxo.
"O homem participa e tem que
participar muito. Eles fazem as
compras sozinhos, cozinham",
diz a antropóloga Mirian Goldenberg,
professora da Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
"Aqui, onde a mulher manda
em outra mulher que manda
também, é difícil para o homem
assumir responsabilidades."
Novo modelo
Independentemente da presença
de uma auxiliar oficial, a
rotina familiar costuma demandar
um esforço extra para
não sair dos trilhos. Uma alternativa
para dividir as coisas
sem que ninguém fique sobrecarregado
nem de cara amarrada
é considerar as aptidões e
preferências individuais.
"A solução é entrar em uma
negociação em que os dois sejam encarregados
de fazer a divisão.
Se os dois trabalham, se
respeitam, são dois indivíduos
que querem ter uma relação legal,
isso é possível", acredita
Goldenberg.
Outro componente importante
é a flexibilidade. "As tarefas
precisam ser divididas de
acordo com a disponibilidade
do momento. Se tem reunião
das crianças na escola e ela não
pode ir, o marido dá um jeito.
Não é assim:o filho está doente,
a mulher larga tudo e leva ao
médico. Precisa conversar e ver
quem pode fazer", afirma Rosa
Macedo, da PUC-SP.
Com um pouco de boa vontade,
o trabalho doméstico pode
ser até divertido. "É um momento
de estar junto, conversando,
isso pode ser prazeroso",
diz a psicanalista Belinda
Mandelbaum, coordenadora
do Laboratório de Estudos da
Família do Instituto de Psicologia da USP.
Para as jovens mães, não custa
lembrar que a criação da nova
geração de adultos está, em
boa parte, em suas mãos. "Muitos
homens são educados de
uma forma que não têm noção
de cuidado pessoal -não
aprenderam nem a arrumar a
cama. As mulheres reclamam,
mas continuam mantendo certas
diferenças na educação de
filhos e filhas", diz Macedo.
Leia a seguir como três casais
organizaram sua rotina.
[...]
Ser criticado faz com que o pai se sinta desengonçado nesse papel
LUIZ CUSCHNIR
[...]
Elas reclamam, mas continuam educando filhos e filhas com diferenças
ROSA MACEDO
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