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Outras idéias
Uma questão de conceito
Wilson Jacob Filho
O tema envelhecimento vem determinando atenção e interesse progressivos, a
ponto de ser incluído em muitos eventos científicos e sociais.
Tenho percebido progressivo
interesse na discussão, por parte dos participantes, de questões mais fundamentadas, diretamente relacionadas à condição do idoso na sociedade e às
suas diversas formas de participação ou de exclusão.
Recentemente, após uma
apresentação sobre os caminhos que permitem maior possibilidade de envelhecer com
saúde, uma jovem participante
me perguntou como diminuir
os preconceitos contra o idoso.
A escassez de tempo, devido
ao grande número de inscritos
para participar do debate, permitia apenas respostas rápidas.
Respondi que, em minha opinião, o conceito sobre o envelhecimento vai se aprimorar
quando a maior parte da população estiver convicta de que,
na melhor das hipóteses, todos
vamos envelhecer.
Essa condição de ver o outro
como aquele que um dia eu fui
ou que em algum momento eu
serei permite muito maior
identidade e aproxima as condições temporárias de cada um.
Os preconceitos decorrem,
fundamentalmente, de um suposto distanciamento atemporal entre as partes. No caso do
envelhecimento, elas são elos
de uma mesma corrente, e a
tentativa de discriminar uma à
outra é a melhor maneira de reduzir a sua própria condição de
continuidade e resistência.
Se essa argumentação parece
óbvia, por que permanece tão
restrita ao pensar de poucos?
Não é difícil entender. É ainda
interessante, para muitos, dividir o ciclo da vida em diversos
segmentos, propondo a falsa
impressão de que alguns deles
possam ser perpetuados e outros, suprimidos.
Chegam ao desatino de criar
"associações antienvelhecimento" ou de proferir palestras
sobre "como ser eternamente
jovem". O falso fundamento
desses conteúdos é que, para
ter um envelhecimento saudável, seja necessário perpetuar a
juventude. Isso é uma inverdade que não pode ser aceita à luz
do conhecimento atual.
Os inúmeros idosos ativos
que conhecemos não são, como
muitos argumentam, "produtivos como jovens". São, em verdade, idosos produtivos.
Aí reside a verdadeira questão do conceito. Admitir que
um idoso ativo é aquele que
"produz como um jovem" é
uma forma preconceituosa de
negar o envelhecimento como
uma fase produtiva da vida. O
mesmo se aplica a inúmeras
outras condições, como a beleza ou a inteligência.
Entendo, obviamente, que
as atuais regras de mercado e
de divulgação de produtos ainda demorem a se modificar,
mas esse tempo será cada vez
menor quanto mais conscientes estivermos do que queremos para o nosso futuro.
Ninguém, para ser considerado belo, inteligente ou produtivo, precisa ser condenado
à juventude eterna. Estou convicto de que, em breve, os idosos poderão ser reconhecidos
publicamente como idosos,
sem que as suas qualidades sejam desmerecidas.
Apenas com conceitos bem
fundamentados sobre o envelhecimento saudável conseguiremos reduzir os preconceitos atuais contra o idoso.
WILSON JACOB FILHO, professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Serviço de
Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor
de "Atividade Física e Envelhecimento Saudável" (ed. Atheneu)
wiljac@usp.br
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