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foco nele
Nada de bico ou mamadeira
MARCOS DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
O pediatra carioca Marcus Renato de Carvalho, 46, estava
cursando o último ano de
medicina na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em 1982,
quando se deparou com o caso de
uma mãe adotiva que queria amamentar. "Percebi que isso era possível
e me apaixonei pelo assunto", diz Carvalho, que se tonou um especialista
em aleitamento materno.
Autor de três livros sobre o tema e
criador do site aleitamento.com, o
médico falou em entrevista ao Equilíbrio sobre os benefícios do leite materno para a criança e a importância
do aleitamento exclusivo, tema da Semana Mundial da Amamentação (até
o próximo sábado, dia 18).
Folha - Qual a importância da amamentação exclusiva nos primeiros seis
meses de vida?
Marcus Renato de Carvalho - É imprescindível. O bebê só precisa do leite
da mãe, sem água, sem chá, sem complementos. A Organização Mundial da
Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria são unânimes em apontar que a
amamentação exclusiva faz com que o
bebê se desenvolva normalmente até o
sexto mês. O leite materno tem um
efeito imunológico protetor contra
problemas de saúde como hipertensão, linfomas, alergias e obesidade.
Folha - Obesidade também?
Carvalho - Estudos recentes comprovaram que há uma proteína no leite
materno que favorece o metabolismo
de lipídios e carboidratos.
Folha - Até que idade a criança só deve
tomar o leite da mãe?
Carvalho - A mulher pode amamentar até dois anos ou mais, depois da
aleitação exclusiva dos seis meses, mas
a licença maternidade é de apenas quatro meses. Isso é uma contradição entre o Ministério da Saúde, que propõe
seis meses, e o Ministério do Trabalho,
que possibilita quatro. Mas, se a mãe
precisar voltar ao trabalho antes, recomendamos que a criança ingira "papinha" de frutas e legumes, sucos e água
de coco. Sem tomar mamadeira, sem
tomar outro leite.
Folha - Não é preciso o leite de vaca?
Carvalho - Não. O ser humano é o
único mamífero adulto que bebe leite
de outro animal e o oferece às suas
crias. A gente toma porque é induzido
pelo comércio. É muito prático, mas é
hiperproteico para a espécie humana,
o que pode levar à obesidade; tem muitos eletrólitos, sais minerais que podem levar à hipertensão, e pode causar
alergias, pois é um leite não específico
como o leite materno é. Para o bebê
prematuro e para a mãe que, por algum motivo de saúde, não pode amamentar, o Brasil conta com 172 bancos
de leite. É a maior rede de bancos de
leite do mundo. Ganhamos um prêmio da Organização Mundial da Saúde
devido ao domínio dessa tecnologia de
pasteurização do leite humano.
Folha - O leite varia de mãe para mãe?
Carvalho - Não existe leite materno
fraco. Até uma mulher desnutrida produz um leite de qualidade. O que acontece é que ela se desnutre para que esse
leite saia bom. Além disso, já foi provado que a mãe do prematuro tem um
leite mais rico em anticorpos.
Folha - Afinal, como uma mãe adotiva
pode amamentar?
Carvalho - Há a técnica de lactação
adotiva. O que faz produzir leite é o bebê sugar o peito. A gente "engana" o
bebê usando um tubinho muito fino
com uma extremidade num copo com
leite e a outra no mamilo. Depois que o
bebê começa a sugar, dentro de alguns
dias a mulher começa a produzir leite.
A amamentação é um ato psicossomático complexo: o leite é produzido não
só no peito, mas na cabeça também.
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