São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004
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s.o.s. família

rosely sayão

O que não fazer com os filhos pequenos

Segundo pais e professores, os menores de cinco anos estão cada vez mais precoces, inteligentes, geniosos, desobedientes, obstinados etc. Tirando os noves fora, o que resta mesmo é uma grande confusão da parte dos adultos sobre como se relacionar com essas crianças. Recebo uma quantidade enorme de cartas de pais e mães que não sabem como reagir quando o filho não obedece na hora de ir para o banho, na hora de comer, na hora de se recolher para descansar ou quando faz birra, entre outros exemplos. Eles querem saber o que e como fazer diante de tais atitudes.
Pensando bem, é de causar perplexidade o fato de adultos não saberem como agir diante de crianças tão pequenas, não é?


É de causar perplexidade o fato de adultos não saberem como agir com crianças tão pequenas. Que raio de impotência é essa? Talvez seja mais uma mostra de quanto os mais velhos se têm demitido da função educativa diante dos mais novos


Que raio de impotência é essa? Talvez seja mais uma mostra de quanto os mais velhos se têm demitido da função educativa diante dos mais novos, como já temos conversado outras vezes.
Acontece que a confusão é maior ainda. Muitas das atitudes tomadas pelos adultos nas horas em que o filho se recusa a obedecer ou naquelas em que põe os pais em situações constrangedoras acabam por seguir o rumo oposto ao desejado.
Ninguém sabe ao certo o que fazer. Bem que os pais gostariam de receber uma ajuda objetiva, que fosse direto ao ponto almejado. Ocorre que receitas educativas não existem. Mas, se não dá para responder à demanda dos pais, dá para pensar no contrário do que eles pedem: o que não fazer com os filhos pequenos.
Vamos começar por uma situação corriqueira: o filho faz birra ou desobediência em público. Tão freqüente quanto essa situação é a reação que muitos pais e mães têm nessa hora: "Que coisa feia fazer isso na frente dos outros, olha só como eles olham para você. O que vão pensar de você?", dizem eles, buscando a cumplicidade no olhar dos que estão no entorno e que, inevitavelmente, prestam atenção à situação.
Eu mesma já testemunhei tal fato. Falando francamente: isso é humilhar a criança. E, sabemos, humilhação não educa. Dar broncas em público não funciona. Umas palmadas, menos ainda. Aliás, isso não costuma dar certo nem mesmo na privacidade do convívio familiar.
Uma coisa que atrapalha muitos pais que enfrentam essa situação é a preocupação que têm com o que os outros vão pensar deles próprios. Muitas vezes, chegam a ficar imobilizados por isso. Tirar o filho, com firmeza, mas sem violência, da situação e deixar que se acalme talvez seja a melhor pedida. Como fazer isso? Só os pais, que conhecem o próprio filho e sabem como ele costuma reagir, têm condições de procurar um caminho nessa hora.
Proibições em demasia é outra coisa que não se deve fazer com crianças dessa idade. Os vetos devem ser mínimos nessa fase. Em casa, por exemplo, deixar ao seu alcance objetos que elas não devem tocar é produzir uma tentação irresistível para a criança e desgastar a autoridade -e a paciência- dos pais. Pais e filhos podem desfrutar de um jeito bem melhor suas horas de convívio, não é verdade?
Outra coisa: exigir da criança que ela execute tarefas ou ordens dos pais em um curto intervalo de tempo ou imediatamente é bobagem. É preciso sempre que ela tenha um tempo maior para dar conta do que os pais pedem, sugerem ou mandam que faça. Se precisa fazer algo de imediato, ela não pode ser responsabilizada sozinha por isso. Nesse caso, os pais é que devem responsabilizar-se e levar o filho a fazer o que pedem. É o caso de colocar a roupa para sair quando os pais já estão atrasados, por exemplo.
Finalmente: não se deve gritar mais do que a própria criança grita. É comum que o tom de voz de mães e de professoras se torne, pouco a pouco, mais alto do que o das crianças. Não será assim que os adultos conseguirão impor autoridade. Mostrar a calma e a tranqüilidade que a criança não tem em certas horas é muito mais educativo e acolhedor.
Não é mesmo fácil sair das enrascadas que as crianças criam para os adultos que as educam. Fácil não é, mas é preciso. E sempre haverá uma saída. Para encontrá-la, basta que o adulto se disponibilize a ser educador.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail: roselys@uol.com.br


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