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Outras idéias
Wilson Jacob Filho
Abrindo portas
Quando o assunto é
envelhecimento,
sempre há alguém
interessado em discorrer sobre as inúmeras perdas que ocorrem com a idade.
Não há dúvida de que as funções declinam e de que é importante diferenciar as alterações que decorrem simplesmente do passar do tempo (senescência) daquelas que devem
ser valorizadas como sinal ou
sintoma de doenças (senilidade). Apenas estas necessitam
de diagnóstico e tratamento.
Infelizmente, porém, há confusões que apontam para perdas muito significativas que,
em realidade, pouco interferem na saúde ou no bem-estar.
Com esses dados, são feitos
gráficos e previsões que geralmente assustam quem teme o
que está por vir. Nada mais lógico que, em geral, procurem os
mercadores de ilusão que ainda
vendem o elixir da longa vida
ou a fonte da juventude.
Desnecessário falar das longas conversas sobre o arrependimento de ter investido suas
economias nisso ou de ter perdido o tempo fazendo aquilo,
em vez de cuidar dos fatores de
risco que determinariam as
conseqüências atuais.
Há, porém, uma questão ainda mais freqüente que passa
despercebida. Se analisarmos
as principais reclamações daqueles que atribuem suas mazelas à velhice, veremos que raramente isso decorre da senescência, confirmando que envelhecer não é o maior problema.
Da mesma forma, sabemos
que as doenças bem cuidadas
permitem ao doente a mesma
funcionalidade daqueles que
não as têm, atestando que vale a
pena investir no diagnóstico
precoce e no tratamento constante das enfermidades.
Do que se queixam, portanto,
os descontentes com a idade?
Boa parte percebe que perdeu o
melhor momento para ter um
papel ativo sobre o próprio futuro, que agora é presente. Não
fez a sua parte e atualmente se
defronta com as conseqüências
da omissão. Como assumi-la é
muito doloroso, nada mais simples do que culpar a tão famigerada velhice, isentando-se da
própria responsabilidade.
Além das questões físicas,
porém, são incluídos muitos
dissabores decorrentes do isolamento, da falta de oportunidades, da inutilidade.
A maior parte das limitações
sociais do idoso não depende
exclusivamente das suas condições físicas, mas da diversidade
de opções que desenvolveu durante a vida. Em qualquer idade, quanto mais limitadas forem as possibilidades de satisfação, mais freqüentes serão as
chances de desprazer. Como
esse é um fenômeno cumulativo, à medida que apenas poucas
coisas são capazes de conferir
bem-estar, os seus determinantes vão se tornando cada
vez mais imprescindíveis e,
quando finitos, deixam um
grande vazio atrás de si. Por isso se explica a aparente ruína
do homem que só tinha prazer
em trabalhar ou da mulher que
apenas deu ênfase aos seus atributos maternais.
Além de cuidar da saúde, cabe-nos a importante tarefa de
deixar abertas as portas pelas
quais já passamos ou por onde
gostaríamos de ter passado para que, no futuro, possamos nos
beneficiar do nosso passado.
[...] Boa parte dos descontentes
com a idade percebe que perdeu o melhor momento para ter um papel ativo sobre
o próprio futuro, que agora é presente
WILSON JACOB FILHO, professor da Faculdade
de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor de
"Atividade Física e Envelhecimento Saudável" (ed. Atheneu)
@ - wiljac@usp.br
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